AS MARGENS POSITIVAS REVELADAS PELA PROSTATECTOMIA

Os que fizeram ou vão fazer prostatectomia há décadas se preocupam com a presença de margens cirúrgicas positivas, ou seja, o câncer atravessou a parede da próstata e está presente nela, mas fora dela, não somente dentro. Era considerado um fator que piorava o prognóstico.

Porém, talvez isso não seja verdadeiro, de acordo com resultados apresentados à American Urological Association. Alexa Meyer e sua equipe da Columbia University em Nova Iorque analisaram 3.252 pacientes que haviam feito a prostatectomia radical. Considerando os demais fatores de risco, esses pacientes foram divididos em três grupos 830, com baixo risco. Foram acompanhados, na mediana, durante 94,2 meses – um pouco menos de oito anos para ver o que aconteceu com eles. A percentagem com margens positivas variava de um grupo para outro, na direção esperada: 14,6%, 27,5% e 39,9%. A sobrevivência mediana (lembrem que muitos não morreram antes do estudo terminar), foi menor no grupo com margens negativas (estimativas de 20,1 anos vs. 20,6 anos).

A mediana da sobrevivência foi muito alta nos três grupos, mas variava entre eles: 20,3 anos, 19,5 anos e no grupo de menor risco ainda não se sabia porque mais da metade dos pacientes continuava viva. E eis a surpresa: dentro de cada grupo de risco, a presença de margens cirúrgicas positivas não afetava a sobrevivência! Quando outros fatores de risco eram controlados, as margens não contavam. Elas contam através desses fatores e não de maneira independente.

 

GLÁUCIO SOARES IESP/UERJ

Experimento clínico

Uma  empresa, a Bostwick Laboratories, está levando a cabo um clinical trial para casos avançados de câncer da próstata, que não fizeram prostatectomia. Às vezes um urólogo/oncólogo com reputação consegue enfiar um paciente num clinical trial. Esse se chama Critical Trial e está descrito no Youtube, mas em Inglês:

http://www.youtube.com/prostateoncology#p/a/u/1/9R24qqAtbZc

Boa sorte

GLÁUCIO SOARES

 

 

Afinal, quanto tempo de vida você tem?

Uma pesquisa levantou a esperança de vida dos pacientes de câncer da próstata. Ela varia com o tratamento e com o tempo.

A prostatectomia (cirurgia) e a radiação são os dois tratamentos iniciais mais comuns. Raramente se opera o paciente quando há evidência de metástase: retirar a próstata não tem como curar um câncer que já espalhou, que já está em outros lugares. Mas não é fácil saber onde está o câncer, se já se metastizou ou não. Na dúvida, usam cirurgia. Muitas vezes combinam o cirurgia e a radiação.

O primeiro grande marcador negativo, de que a coisa não está bem, é a “volta do PSA”, quando o PSA reaparece no sangue. Isso significa que há células cancerosas vivas. O câncer não foi curado e, agora, é incurável. O que não quer dizer que o paciente morrerá dele: a maioria não morre deste câncer mesmo depois do fracasso bioquímico (a volta do PSA). Depende de quê? De várias coisas, entre as quais o tempo e o tipo de tratamento – isso entre as que sofreram a volta do PSA. As outras estão livres, curadas. Quando morrerem não será de câncer da próstata. Uma pesquisa com mais de 600 veteranos de guerra mostra quais as probabilidades, quais os riscos.

A volta do PSA – o temido fracasso bioquímico – ocorreu em 34% a 48% dos pacientes, dependendo do tempo e do tratamento. Uma percentagem maior dos submetidos a radiação (onde havia mais casos avançados) teve o desprazer de lidar com a volta do PSA no sangue.

A tabela abaixo mostra os vários riscos por tempo e por tipo de tratamento:

Fracasso bioquímico e morte devida ao câncer da próstata aos 5-, 10- e 15- anos depois do tratamento inicial.

Tempo

% acumulada em que o PSA voltou depois da cirurgia

Mortalidade por câncer depois da volta do PSA entre os que fizeram cirurgia

% acumulada em que o PSA voltou depois da radiação

Mortalidade por câncer depois da volta do PSA entre os que fizeram radiação

5 anos

34%

3%

35%

11%

10 anos

37%

11%

46%

20%

15anos

37%

21%

48%

42%

Dados tirados dos Archives of Internal Medicine.

O que esses dados nos dizem? Que 5 anos depois da cirurgia, 34% dos operados sofrem o fracasso bioquímico, a volta do PSA nos exames de sangue. Cinco anos depois (dez depois da cirurgia) a percentagem sobe um pouco, para 37%. E parece que não aumenta a partir daí. Olhando a terceira coluna vemos os dados relativos aos que fizeram radiação. São mais altos, ainda que não muito mais altos. Aos cinco anos, 35% (praticamente o mesmo que a cirurgia) sofrem o fracasso bioquímico; dez anos depois da radiação, a percentagem aumenta significativamente, para 46% e quinze anos depois parece estabilizar, com 48%, quase a metade.

Não obstante, nem todos os que enfrentam o fracasso bioquímico morrem do câncer. Em verdade, a maioria morre de outra coisa. Comparem a segunda e a quarta colunas. Cinco anos depois da volta do PSA, somente 3% dos que fizeram cirurgia morreram do câncer. Mais cinco anos e a percentagem aumenta para 11%. Mais cinco anos e a percentagem dobra para 21%. Ou seja, quinze anos depois da volta do PSA entre os que fizeram cirurgia, um em cada cinco morreu do câncer.

Tudo indica que essa percentagem continua crescendo depois dos 15 anos, mas as mortes por outras causas também passam a crescer mais rapidamente em função da idade. Lembrem-se de que falamos de 15 anos depois da volta do PSA, do fracasso bioquímico, e não da cirurgia. A maioria está com 80 ou mais.

No grupo que fez radiação os dados são piores – em parte porque muitos fizeram radiação porque havia evidência de metástase e de que a cirurgia não poderia curá-los. As percentagens dos que morrem da doença – depois da volta do PSA – parece dobrar cada cinco anos: 11%, 20% e 42%.

As pesquisas têm se concentrado nesse grupo mais doente, com doença mais avançada. E terapia hormonal, usualmente seguida de quimio e, mais recentemente, da caríssima vacina Provenge e, em final de desenvolvimento, da abiraterona, vão aumentando a sobrevivência específica do câncer da próstata (mas não de outras mortes): uns estimam em 14 a 18 meses o efeito da terapia hormonal (mais há casos de muitos anos em que o efeito funciona – cinco e mais anos), quatro meses de vida na mediana agregados pela quimio; outros quatro pela Provenge e um tempo mais variável, que pode chegar a mais de oito meses com a abiraterona. E haja dinheiro…

Poucos morrem aos cinco anos. A barra começa a ficar mais pesada aos dez e, principalmente, aos quinze e mais anos, depois da volta do PSA.

Fonte: Uchio EM, Aslan M, Wells CK, Calderone J, John Concato. “Impact of Biochemical Recurrence in Prostate Cancer Among US Veterans.” Archives of Internal Medicine. 2010;170:1390-1395.

Resumo por Gláucio Soares de fontes publicadas na internet.


Bons resultados da prostatectomia cinco anos depois

Um trabalho apresentado no congresso da American Urological Association (AUA) dá novo alento aos que fizeram prostatectomia. As técnicas evoluíram muito nos últimos quinze ou vinte anos, com claros resultados. O seu problema, meu leitor, consiste em saber se o seu cirurgião e o seu hospital acompanharam essa evolução ou se ainda usam técnicas e recursos ultrapassados. Se ele não lê Inglês, não acompanha a evolução da profissão pela internet e não vai a conferências internacionais, na minha opinião, está na hora de trocar. Talvez você tenha que viajar, provavelmente custará mais, mas o que este em jogo é a sua vida, a sua continência e a sua potência.

Elie Antebi, da University of Miami Miller School of Medicine, informou que 60% dos operados não apresentavam indicadores de que não estavam curados cinco anos depois da cirurgia.

Pesquisaram 831 pacientes: depois de 5 anos, 61% não tinham indicações de que o câncer havia voltado, não tinham incontinência e não tinham impotência.

A equipe definiu a volta do cancer, a demonstração de que não estava curado, à volta do PSA a um nível <=0.2 ng/mL. Incontinentes eram todos os que necessitavam de toalhinhas ou cuecas especiais e impotentes os que não conseguiam fazer sexo com ou sem remédios.

Na média os pacientes tinham quase sessenta anos, 68% tinham um escore Gleason igual ou menor do que seis, um em quatro tinha um escore de sete e 6% um escore igual ou maior do que oito. Não eram pacientes avançados, no seu conjunto: 85% tinham um estágio clínico igual ou melhor do que T2a. Pouco mais da metade eram de baixo risco. Na cirurgia, o nível médio do PSA era de 6,9 ng/mL.

A técnica mais avançada se verifica na percentagem que usou algum tipo de preservação de nervos (para manter a potência): 64%.

Cinco anos depois a resposta dos pacientes estava associada ao seu risco: 65% dos de baixo risco continuavam sem sintomas, sem incontinência e sem impotência; 57% dos com risco intermediário estavam nessa situação favorável e metade dos pacientes com alto risco também estavam bem. O risco fazia uma diferença, mas não era uma diferença muito grande, e metade dos de alto risco estavam bem em todos os sentidos. As características associadas aos melhores resultados eram: menor idade, usar técnicas avançadas de preservação dos nervos, ter um baixo peso da próstata, um escore Gleason favorável e estar num estágio patológico menos perigoso.


A consulta com o Dr. Meyers

A van, Ford 1993, equipada para acampar é confortável e agradável. É fácil de dirigir, exceto inicialmente, nos momentos em que tive que dar marcha à ré.
Entre a beleza do inverno e a preocupação da almaAs estradas pequenas, no inverno são bonitas. Infelizmente, a comida de beira de estrada é…a comida de beira de estrada. O estomago e o intestino sofrem durante a viagem e a dieta vai para o brejo.</span>
O estado de espírito de quem tem uma doença incurável e está indo a um médico deve variar muito. Eu consegui curtir parcialmente a viagem, mas ia com esperança. Na clínica, durante todo o tempo que passei lá (umas três horas) vi apenas um ou dois pacientes. Já deu para ver o grau de apreensão em um deles, fiel e importantemente acompanhado pela esposa ou companheira.
Mas não dá para para não curtir (um pouquinho, pelo menos) o visual de estradas pequenas, cercadas de árvores, no meio da neve.

Estrada e mais estrada

A chegada mostra uma casinha simpática, simples, com estacionamento para poucos carros. Não é uma operação industrial. Feita, como tantas casas (e universidades) americanas, de tijolinho aparente.


A chegada é marcada por uma placa simples. Depois de quase três dias na van (rebatizada de school bus) pelo meu filho, foi um alívio chegar ao lugar certo.

As estradas pequenas são mais bonitas

Aqui dentro vi um tipo de atendimento ao paciente muito diferente do usado nos Estados Unidos onde somos primeiro recebidos por uma enfermeira, que pesa, tira a pressão, temperatura etcx. Um primeiro e importante cuidado – a pressão é tirada duas vezes, além do que a enfermeira pergunta se essa é a pressão habitual. Ela mostra consciência da chamada “white coat syndrome”: a pressão aumenta na presença de médicos etc. Estava lá por 180, na segunda por 160 e eu aduzi que poderia reduzí-la em outros vinte pontos.
Visitei o AIDP no dia anterior, turbinado pela insegurança de não me perder, chegar atrazado, essas coisas. Uma das secretárias estava preparando o meu dossier. Quando cheguei no dia seguinte vi um senhor baixo, sem gordura para mostrar, de cabelos brancos estudando uns records que eu sabia serem os meus.

Perto, estradas menores, mais curvas e mais beleza

O Dr. Meyers é simpático, agradável. Me tratou com o respeito de quem tem uma doença grave, considerada incurável, que ele também teve ou tem.
Muitos dos suplementos que eu usava ele desaconselhou porque não confiava no fabricante. Traçou um plano de ação que consistia em me preparar para uma terapia hormonal(que deveria ser chamada de anti-hormonal) porque ela tem muitos efeitos colaterais. Há uma diferença em relação ao procedimento habitual, que consiste em iniciar a terapia e aconselhar o paciente a tomar essas e aquelas medidas: ela prepara o paciente e depois inicia a terapia – nos casos em que é possível esperar um pouco. É onde estou e é minha responsabilidade atingir as metas marcadas, ajudado por muitos remédios, mas com compromisso com uma dieta mediterrânea e muito exercício.

O AIDP - uma casinha desprentensiosa com estacionamento para poucos carros

Dr. Meyers me convenceu de algumas coisas, particularmente de que a relação custo/benefício da terapia hormonal pode ser menor e precisa de especificação. A duração do efeito dos tratamentos varia muito e varia de acordo com a doença do paciente e os procedimentos adotados anteriormente.
Os famosos 18 meses de atuação se referem com a próstata, metástase generalizada e que ainda tem a próstata. Análise patológica mostra que metade do crescimento do câncer depois da terapia se inicia na próstata. Nos casos em que houve metástase para os nódulos linfáticos e houve prostatectomia o efeito dura dez anos em 50% a 95% dos casos, dependendo do estudo e da publicação. No caso dos que preservaram a próstata em metade dos casos a terapia hormonal fracassa aos 7-8 anos.
Nos pacientes com metástase generalizada e com sintomas, o efeito é reduzido: em metade dos casos a doença volta a crescer em 8 a 9 meses.
A lição: dependendo do paciente, a duração dos benefícios da terapia hormonal varia de menos de oito a nove meses a mais de dez anos.
Continuarei relatando essa experiência para beneficiar o leitor. Porém, estou preocupado com um grande número de  leitores com acesso à internet mas sem capacidade analítica e com um nível educacional muito baixo. Pediria a cada um dos pacientes mais informados e seus familiares que divulgassem o conhecimento que adquiriram (rão) aqui e em outras fontes entre os que não conseguem entender o que escrevemos.

A placa que garante que chegamos ao lugar certo

Ir ao Dr. Meyers não sai barato. Ele não aceita o seguro tradicional do Medicare (tem um contrato de não aceitação) e custa 350 dólares por cada meia hora. Minha entrevista durou duas horas e o custo total foi de mil e quatrocentos dólares. Uma viagem que eu planejava foi para o espaço. Valeu a pena.


A experiência do cirurgião pode decidir se você vive ou se você morre

Mais uma vez, a questão da inexperiência de alguns cirurgiões e seus efeitos. Caroline Savage e Andrew Vickers do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center estudaram a relação entre o número de prostatectomias feitas pelo cirurgião e o êxito da cirurgia. Quanto ganhamos com um cirurgião experiente? Qual o aumento do risco de complicações e morte por ser operado por um cirurgião menos experiente?

`        Savage e Vickers ordenaram os cirurgiões por experiência e os subdividiram em quatro partes iguais, ou quartís. O quartil de cima corresponde aos mais experientes.

Há 20% menos complicações entre os que foram operados por cirurgiões mais experientes em relação aqueles que foram operados por cirurgiões menos experientes. Depois de cinco anos, o risco de volta do câncer era de 10,9% no quartil de cima em comparação com 175 no quartil de baixo.

Quantas cirurgias qualificam o médico para operar com o menor risco? A partir de duzentas e cinqüenta. Quantas cirurgias fizeram os médicos com os piores resultados? Menos de dez.

O que assusta é quantos cirurgiões menos qualificados operam. Mais de 80% dos 933 cirurgiões estudados tinham um volume anual de dez cirurgias ou menos – menos de uma por mês.

Para atingir o nível desejado de resultados com os pacientes, seriam necessárias 25 cirurgias anuais durante dez anos para atingir o nível de 250.

Evidentemente, nas áreas metropolitanas com alta densidade de hospitais de referência, proporcionalmente mais pacientes são operados por cirurgiões experientes – 40% em Nova Iorque e 20% no resto do país. Um cirurgião eficiente arrasta consigo o hospital e seu staff. Forma centros e outras pessoas. Ou seja, os benefícios vão além da habilidade do cirurgião em si.

Por isso, pergunte quantas cirurgias da próstata seu cirurgião já fez. Se for inexperiente, vá a um centro de referência. Não economize no que pode ser a experiência mais importante da sua saúde em toda a sua vida.

Resultados de exames e decisoes difíceis

Este ano, no dia 13 de agosto, completarei 14 anos do diagnóstico de câncer da próstata. Era avançado, Gleason 7 (4+3, que é bem pior do que 3+4) e uma perfuraçao da cápsula, mas nao era desesperador. Quatorze anos depois estou aqui, escrevendo para vocês. Como meu conhecimento era quase zero tomei algumas decisoes erradas e tive medos e receios desnecessários. Muitas ansiedades que poderiam ser evitadas com uma conversa mais demorada com o médico ou através de leitura. Por isso, passei a ler e muito sobre essa doença. Senti, em conversa com outros pacientes que sabiam pouco, tinham muitas dúvidas e, o que é pior, a comunicacao com o médico era péssima! Quem vive nos Estados Unidos tem muitas facilidades para localizar, ingressar e participar de redes de apoio, mas no nosso Brasil, na minha opiniao, fomos treinados a depender muito do estado e pouco de nós mesmos.  Com isso, somos vítimas fáceis de autoritarismos, inclusive de médicos. Por isso, criei esse blog, inspirado em outro, criado pela esposa de um paciente (depois viúva dele) de câncer avançado, chamado PSA Rising.

Cinco anos depois da prostatectomia seguida de radioterapia neo-adjuvante (logo depois), o PSA voltou. Eu nao estava curado! Entrei em nova etapa e fui aprendendo que o PSADT (o tempo que o PSA leva para dobrar) era um indicador muito importante de se e quando haveria metástase e de se (e quando) eu morrería da doença. Meu PSA dobrava cada onze meses. Mudei a dieta e o estilo de vida e o tempo foi aumentando, o que é bom. Em duas crises pessoais, o PSADT baixou, o que é ruim. Hummmmm. Ninguém me convence de que nao há relaçao entre crises existenciais, baixas no sistema imune e aumento no risco de desenvolver um câncer.

No meu nível de tratamento, os pacientes se dividem em dois grandes grupos: os que querem fazer logo a terapia hormonal e os que nao querem porque nao gostam nada dos efeitos colaterais e nao estao convencidos dos benefícios de começá-la cedo. Infelizmente, há um terceiro grupo, o maior de todos, que faz o que aquele médico manda e nao participa de decisoes que afetam sua vida e sua qualidade de vida.

O meu PSADT andou baixando nos últimos dois/três anos, o que nao é bom. Andou em mais de dois anos acima de 24 meses e baixou para 15-16 meses, mas os resultados mais recentes colocam o meu PSADT em 19 meses. Esses foram ganhos muito recentes, a partir de uma experiência linda com uma novena a Santa Terezinha do Menino Jesus. Recebi um bouquet de rosas de pessoa que trabalha em casa no meio da novena….e o PSADT que estava baixando aumentou, para 23 meses. Está em 1,9, numa série mais longa.

Decidi esperar mais antes de iniciar a terapia hormonal. Há outras razoes, sendo uma a de que tenho outros problemas de saúde, inclusive uma fibrilaçao atrial muito pesada. Talvez tenha que fazer uma ablaçao cardíaca. O tratamento hormonal äs vezes piora os problemas circulatórios. Saberei se convém ou nao fazer a ablaçao em uma semana.

É isso. Tudo o que pretendo é retomar minha vida, voltar a escrever meus artigos, fazer minhas pesquisas (uma cachaça!), orientar meus pobres alunos,  e fazer o bem e a vontade de Deus.

Esse blog é consultado por pouco mais de 300 pessoas diariamente. Atingiu mais de 500 quando surgiram as notícias sobre a abiraterona. A todas, peço uma oraçao.

um abraço

Gláucio

A prostatectomia radical reduz a mortalidade e a ocorrência de metástases à distância

Recebi, da Dra. Sonia Ferraz de Andrade, resumo de trabalho importante sobre os efeitos da prostatectomia
Autora: Zosia Chustecka
Publicado em 19/08/2008

Os resultados em longo prazo confirmam que a prostatectomia radical, em comparação com o regime de observação, reduz o risco de metástases à distância e a mortalidade especificamente relacionada com câncer de próstata entre homens com formas localizadas da doença.

Esses são os dados recentes do Scandinavian Prostate Cancer Group-4 (SPCG-4) que foram publicados no número de 20 de agosto do Journal of the National Cancer Institute. A autora principal, Dra. Anna Bill-Axelson, do University Hospital in Uppsala, Suécia, e seus colaboradores comentaram que esse é o único ensaio clínico randomizado, até agora, que demonstrou os benefícios da prostatectomia radical.

Entretanto, ainda não está claro se esses resultados são generalizáveis para os pacientes com câncer de próstata nos países ocidentais, especialmente nos Estados Unidos, onde a maior parte dos diagnósticos de câncer de próstata é realizada através de exames de triagem com antígeno prostático específico (PSA). Esse não foi o caso dos homens que participaram do estudo SPCG-4, que se iniciou em 1989 na Suécia. Nessa população de pacientes, apenas 5% dos casos foram diagnosticados através do exame de PSA. Os pesquisadores comentaram que a maioria dos casos apresentava um tumor palpável. Além disso, o grupo controle foi acompanhado com o regime de observação, enquanto a prática atual modificou-se na direção da vigilância ativa (active surveillance), o que também pode ter influenciado o prognóstico.

De acordo com o comentário do Dr. Timothy Wilt do Minneapolis Veterans Administration Center for Chronic Disease Outcome Research, em Minnesota, em um edital que acompanha o artigo, os resultados do SPCG-4 são “extremamente importantes” apesar disso.

Dr. Wilt comentou que “os resultados demonstram que a cura através da prostatectomia é possível, talvez necessária e, geralmente, recomendável, entre os pacientes com menos de 65 anos cujo câncer de próstata foi diagnosticado através de outros métodos que não a dosagem de PSA, como através do exame do toque retal para avaliação de sintomas urinários ou outros, por exemplo. Os resultados são menos precisos para os homens com idade superior a 65 anos ou com limitação da expectativa de vida devido a comorbidades”. 

Os últimos resultados confirmam os achados anteriores 

O estudo SPCG-4 avaliou 695 homens com câncer de próstata clinicamente localizado que foram randomicamente selecionados para prostatectomia radical ou regime de observação. 

Os resultados anteriores desses pacientes haviam sido publicados em 2005, após um período médio de acompanhamento de 8,2 anos. Naquela ocasião, foram descritas reduções entre os pacientes que realizaram prostatectomia, de 44% na taxa de mortalidade relacionada ao câncer, de 40% no riso de metástase e de 26% na taxa de mortalidade global

Os resultados atuais confirmam os anteriores após um período médio de acompanhamento de 10,8 anos (variando de 3 semanas a 17,2 anos). As análises dos resultados de longo prazo demonstram redução de 35% na taxa de mortalidade relacionada ao câncer, de 35% do risco de metástases e de 18% na taxa de mortalidade global entre o grupo de pacientes submetidos à cirurgia. 

Tanto a redução dos óbitos decorrentes do câncer de próstata quanto o desenvolvimento de metástases à distância apresentaram significância estatística. Após 12 anos de estudo, 12,5% dos homens submetidos à cirurgia e 17,9% dos pacientes sob regime de observação haviam falecido em decorrência da doença de base, o que apresenta risco relativo de 0,65 (P = 0,03). Também, após os mesmos 12 anos, a presença de metástases foi detectada entre 19,3% dos homens pertencente ao grupo cirúrgico e em 26% daqueles sob regime de observação (risco relativo de 0,65; P = 0,006). 

A taxa de mortalidade global não diferiu estatisticamente entre os dois grupos, apesar de ter sido favorecida pela cirurgia. Em 12 anos, 32,7% dos homens no grupo que recebeu cirurgia e 39,8% dos que se encontravam sob regime de observação haviam falecido (risco relativo de 0,82; P = 0,09). 

Os pesquisadores comentaram também que a incidência cumulativa de metástases ou de óbitos devido ao câncer de próstata permaneceu constante após 9 e 7 anos de acompanhamento, respectivamente. 

Os autores salientaram que um dado novo e importante obtido com estes recentes resultados foi o fato de que quase todos os homens do grupo submetido à prostatectomia radical, e que faleceram em decorrência da doença, apresentavam crescimento tumoral fora da cápsula prostática. Foi detectado crescimento tumoral fora da cápsula em quase a metade dos homens submetidos à cirurgia (132 [46%] dos 284), o que aumenta em 14 vezes o risco de óbito pela doença quando se compara com pacientes que não apresentam crescimento além desse limite (risco relativo de 14,2; P < 0,001). Os pesquisadores comentaram que “nestes homens, deve ser considerada a realização de radioterapia pós-cirúrgica”. 

Ensaios clínicos em andamento fornecerão mais dados em breve 

Os autores observam que, até agora o SPCG-4 é o único ensaio clínico randomizado a fornecer evidências sobre os benefícios da prostatectomia radical. 

Dr. Wilt observa que o outro ensaio clínico randomizado, iniciado há 40 anos, que comparou a cirurgia com o regime de observação não foi capaz de demonstrar diferenças na sobrevida mesmo após 23 anos de acompanhamento (Scan J Urol Nephrol Suppl. 1995;172:65-72). 

O pesquisador comentou que novos dados devem estar disponíveis em breve, pois está próxima a conclusão do estudo US Prostate Cancer Intervention Versus Observation Trial, que também comparou a prostatectomia radical com o regime de observação, mas ampliou a visão do SPCG-4 ao incluir os pacientes com câncer de próstata detectado através do exame de PSA e homens de etnia afro-americana. 

Existem, ainda, dois ensaios clínicos em estágios iniciais que pretendem responder à mesma pergunta: o estudo britânico The Prostate Testing for Cancer and Treatment está comparando a radioterapia conformal, a prostatectomia e a vigilância ativa; e a possibilidade de um estudo canadense, o Standard Treatment Against Restricted Treatment trial, que planeja comparar a vigilância ativa com intervenções terapêuticas precoces, como a cirurgia, radioterapia externa e braquiterapia. 

Dr. Wilt comentou também que os resultados desses ensaios clínicos, e esperançosamente de outros grandes estudos semelhantes sobre o tema, somados aos já obtidos no SPCG-4 fornecerão a informação que há muito tempo falta sobre a melhor maneira de se tratar o câncer de próstata localizado. 

Os pesquisadores enfatizaram que, enquanto esses resultados não se tornam disponíveis, o SPCG-4 é o único estudo randomizado a fornecer evidências dos benefícios da prostatectomia radical. 

O estudo SPCG-4 foi financiado pela Swedish Cancer Society e pelo US National Institutes of Health. Os autores do estudo e declararam não possuírem conflitos de interesses relevantes.
Fonte: J Natl Cancer Inst. 2008;100:1-11.