Recessão em V ou recessão em U?

Recessão em V ou recessão em U?

O CBO, Congressional Budget Office dos Estados Unidos, apresentou dados que causaram apreensão. A recuperação depois da pandemia será pior do que se proclama. As previsões passaram a ter consequências políticas maiores graças à ênfase dada repetidas vezes à recuperação econômica na fala de Trump. Trump vê essa crise como um V, cujo ponto mais baixo seria curto. A recuperação está próxima. Porém o CBO acha que o formato será diferente, como um U. O pior período da recessão – o traço horizontal de baixo do U será consideravelmente mais longo do que afirma Trump.

Em ano de eleição, essa diferença conta muito.

GLÁUCIO SOARES

Melhorias no tratamento do câncer da próstata


Há um grupo australiano que faz pesquisas nanoestruturais. Ele usa óleo que faz com que a abiraterona seja mais eficiente, o que permite obter resultados até melhores com uma dose menor do medicamento. Como o medicamento tem efeitos colaterais, como diarreia e inflamação das articulações, as doses mais baixas reduzem os efeitos colaterais e simplificam o tratamento.

O problema é que a abiraterona, como muitos outros medicamentos, tem baixa solubilidade. É o caso da Zytiga (abiraterona): somente dez por cento de cada dose é absorvida e o resto, noventa por cento, é expelida.

Nas condições atuais, os pacientes devem observar duas horas de jejum antes do medicamento e mais uma hora depois do medicamento. O aperfeiçoamento do Professor Clive Prestidge e sua equipe facilitarão a absorção deste medicamento. Permitirá baixar a dose de 1000mg por dia para 700mg.

Ainda não está disponível nas farmácias.

GLÁUCIO SOARES

CÂNCER DA PRÓSTATA: BOAS NOTÍCIAS!

Uma notícia importante para os pacientes com câncer na próstata, seus familiares e amigos. Notícia que poderá ser muito útil, também, para qualquer homem, considerando que, aproximadamente, um em seis terá que enfrentar esse câncer.

De que se trata?

De um novo medicamento, a darolutamida, que produziu resultados excelentes nos testes feitos até agora.

Esse medicamento foi aprovado pela U.S. Food and Drug Administration (FDA), que exerce funções semelhantes às da ANVISA.

Porém, atenção! Aprovado não significa que qualquer um pode usar. As aprovações da FDA seguem, cada vez mais, o caminho da medicina personalizada, levando em consideração outros fatores para conceder a aprovação. A FDA não deseja aprovar o uso desse medicamento em pacientes nos quais não produz bons resultados – ou produz resultados negativos.

Esse câncer, como vários outros, tem tipos e estágios e as empresas farmacêuticas precisam provar, através de cuidadosa pesquisa científica Fase III, que o medicamento funciona em uma população bem definida. No caso, pacientes que não respondem mais ao tratamento hormonal, mas ainda não apresentam metástase em testes padronizados.

Qual é a vantagem da darolutamida (o nome de marca, o que você encontrará nas farmácias, é Nubeqa®)?

É o tempo até a metástase. Pacientes com as características acima foram divididos em dois grupos: um com o tratamento hormonal mais darolutamida e outro com o tratamento hormonal sem darolutamida, mas com um placebo (para evitar o efeito placebo). A diferença entre os dois grupos é grande: a mediana do tempo transcorrido até a metástase no grupo com a darolutamida foi de 40,4 meses, mas no grupo sem a darolutamida foi bem menor, 18,4 meses. Vinte e dois meses, quase dois anos de diferença. Considerando que a faixa de idade na qual ocorre a maioria dos casos deste câncer é avançada, um ganho de quase dois anos até a metástase é uma excelente notícia. Por preciosismo estatístico, informo que a probabilidade de encontrar essas diferenças ao acaso é mínima: (p<0.0001).

E a morte? Ganhamos quanto tempo de vida?

Não dá para saber.

Não dá para saber por uma razão muito boa. Quando essa fase da pesquisa foi encerrada, mais da metade dos pacientes continuava vivinha da silva. Somente quando a metade ou mais bater o pacau é que poderemos calcular a mediana até a morte.

Não obstante, o tempo até a metástase se relaciona com o tempo até a morte. Quanto maior um, maior o outro. Não esqueçam que, excetuadas outras causas, não-cancerosas, esse câncer mata através das metástases.

Não tome qualquer decisão sem consultar um oncólogo ou urólogo. Converse com seus médicos.

Avise outros: quem enfrenta esse câncer, quem os ajuda e pessoas interessadas também.

As pesquisas médicas mais sérias têm nome. O nome dessa é Aramis.

Esse medicamento está sendo produzido pela Bayer.

Boa sorte e boas orações (elas ajudam, sim senhor).

GLÁUCIO SOARES

Encontre informações mais detalhadas em

www.NUBEQA.com

Lembranças do meu pai

Hoje, Dia dos Pais, eu não poderia deixar de lembrar o meu paizinho. Alguns se esquecem que os idosos também já foram crianças. Crianças com um papai. Pois eu queria dividir uma experiência boa, linda, que me faz sorrir até hoje, mais de duas décadas depois da morte do meu pai.
Para entender essa experiência, é preciso saber que eu nem sempre me dei bem com meu pai. Ser meu pai durante minha adolescência não deve ter sido fácil. Para se colocar na moldura dos sentimentos do meu pai é necessário saber que passei a maior parte da minha vida adulta longe dele. E que não tenho irmãos nem irmãs. Eu, filho único, vivia fora do Brasil. Somente uma vez, em mais de quarenta anos, ele reclamou. Mas sentia falta. Depois, fizemos a nossa paz. Então, me dei conta de quão gostosa pode ser a relação com o pai, com o meu Papai. Agradeço muito a Deus pelo longo tempo feliz que tive com meu pai.
O episódio que marcou, indelevelmente e para o lado das emoções inesquecíveis, aconteceu aqui mesmo, nesse apê nas Laranjeiras, onde vivo.
As pernas de meu pai estavam inchadas, com vários edemas. É algo que deixou de ser citação para ser sensação: hoje, minhas pernas são iguais. Eu havia trazido dos Estados Unidos uns vídeos de sapateado irlandês. O principal se chamava Riverdance. Meu pai gostava de dança, era “pé de valsa”. Ele e minha mãe dançavam frequentemente. Não me esqueço de vê-los dançando no Fluminense; ele, grande para a época, e minha mãezinha, mínima. Um metro e cinquenta… Eles se conheceram numa festa, dançando. Era lindo vê-los dançando. À antiga: boleros, tangos. Mistura de sentimento e show.
Uma noite feliz meu pai se sentou no sofá, no mesmo lugar onde hoje também há um sofá. Não o mesmo… Eu me sentei no chão, aos pés dele. Eu estava na casa dos cinquenta e poucos. Do outro lado da sala estava uma televisão, como hoje. Coloquei o VCR e fiz um longo afago suave nos pés e pernas do meu pai. Descobri, depois, que tinha feito uma drenagem linfática combinada com uma espécie de massagem. Nem sabia o que era isso. Minha mãe, também sentada, ao lado dele, segurando a sua felicidade.
Ele curtiu. O filho pródigo voltara à casa. E mostrava vídeos de dança, fazia carinho, expressava Amor. Amor com “A” maiúsculo.
Ele disse duas coisas: a primeira foi uma constatação – meus pés desincharam e não incomodam mais. Foi o passe que você me deu.
Passe? Eu não tinha ideia do que seria um passe. Hoje, casado com uma espírita, creio que sei.
Realmente, os pés desincharam e não pareciam incomodar mais.
A segunda coisa que disse me impressionou, me marcou, nunca esqueci. Emocionado, disse: “hoje foi o dia mais feliz da minha vida”.
Se pudesse, eu voltaria no tempo e daria centenas, milhares de “passes” no meu paizinho.
Fico triste ao pensar que em algum lugar, em algum cantinho, há um pai sozinho, à espera de um afago. Pode ser o seu. Perdoe tudo o que possa ter feito. O Dia dos Pais é o Dia do Amor. É, também, do Dia do Perdão. Converse, acaricie, faça um cafuné, “dê um passe”. Faça o seu Papai feliz.
E ouça, durante o resto da sua vida, o que dirá. Se não disser, sinta o que sente.
Até hoje, aflora um sorriso no meu rosto, cada vez que ouço dentro de mim mesmo:
“Hoje foi o dia mais feliz da minha vida”.

GLÁUCIO SOARES

Estatinas e câncer da próstata

Uma pesquisa feita na Dinamarca reacendeu o debate sobre a relação entre as estatinas e o câncer da próstata. A base de dados se refere a quase 32 mil pacientes diagnosticados entre 1998 e 2011, de 35 a 85 anos de idade.
A novidade desta pesquisa é que ela não se refere à capacidade (ou não) das estatinas de prevenir o câncer, mas a se o seu uso depois do diagnóstico afeta o avanço do câncer.
O acompanhamento começou um ano após o diagnóstico e foi relativamente curto, uma mediana de 2,8 anos (o que, não obstante, significa que metade dos pacientes foram acompanhados por mais do que 2,8 anos). Durante esse período morreram 7.365 homens do câncer da próstata e outros 11.811 de outras causas. Como é uma população com maioria de idosos, as mortes por outras causas são numerosas, sejam cancerosos ou não.
E as estatinas? A definição era simples: se houve duas ou mais receitas feitas após o diagnóstico.
Controlaram fatores óbvios como a idade, o ano do diagnóstico, o escore Gleason, o tipo de tratamento e fatores socioeconômicos. Com esses fatores controlados, os que usaram estatinas tinham um risco de morte por câncer da próstata 17% menor do que os não usuários e um risco de morte por toda e qualquer causa 19% menor.
Os dados também revelam o crescimento do uso de estatinas na Dinamarca: entre os diagnosticados de 1998 a 2001, 4% usaram estatinas durante o primeiro ano pós-diagnóstico; entre os diagnosticados depois, entre 2007 e 2011, 29% usaram estatinas.
Converse com seu oncologista ou urologista.
Saiba mais:
Signe Benzon Larsen, do Danish Cancer Society Research Center, em Copenhagen, e colegas publicaram a pesquisa no Journal of Clinical Oncology.

GLÁUCIO SOARES

Estatinas e câncer da próstata

Uma pesquisa feita na Dinamarca reacendeu o debate sobre a relação entre as estatinas e o câncer da próstata. A base de dados se refere a quase 32 mil pacientes diagnosticados entre 1998 e 2011, de 35 a 85 anos de idade.
A novidade desta pesquisa é que ela não se refere à capacidade (ou não) das estatinas de prevenir o câncer, mas a se o seu uso depois do diagnóstico afeta o avanço do câncer.
O acompanhamento começou um ano após o diagnóstico e foi relativamente curto, uma mediana de 2,8 anos (o que, não obstante, significa que metade dos pacientes foram acompanhados por mais do que 2,8 anos). Durante esse período morreram 7.365 homens do câncer da próstata e outros 11.811 de outras causas. Como é uma população com maioria de idosos, as mortes por outras causas são numerosas, sejam cancerosos ou não.
E as estatinas? A definição era simples: se houve duas ou mais receitas feitas após o diagnóstico.
Controlaram fatores óbvios como a idade, o ano do diagnóstico, o escore Gleason, o tipo de tratamento e fatores socioeconômicos. Com esses fatores controlados, os que usaram estatinas tinham um risco de morte por câncer da próstata 17% menor do que os não usuários e um risco de morte por toda e qualquer causa 19% menor.
Os dados também revelam o crescimento do uso de estatinas na Dinamarca: entre os diagnosticados de 1998 a 2001, 4% usaram estatinas durante o primeiro ano pós-diagnóstico; entre os diagnosticados depois, entre 2007 e 2011, 29% usaram estatinas.
Converse com seu oncologista ou urologista.
Saiba mais:
Signe Benzon Larsen, do Danish Cancer Society Research Center, em Copenhagen, e colegas publicaram a pesquisa no Journal of Clinical Oncology.
GLÁUCIO SOARES

O FUMO DOS OUTROS E VOCÊ

Há muitos anos, na Flórida, um casal de brasileiros fumantes pendurou na porta da sua casa uma nota a respeito do dano que o fumar em casa faz a outros residentes, além dos fumantes. Hoje chamamos essas vítimas de fumantes secundários. A exigência de pendurar a nota foi feita pelo pediatra que tratava as duas filhas do casal, ambas com problemas de asma e outras disfunções respiratórias.

Inusitado. Penduraram a nota, mas não pararam de fumar em casa.

Outro acontecimento inusitado foi uma expressão que ouvi do pai das crianças: somos “fumantes racionais”. Logo percebeu a contradição embutida na expressão. Não obstante, insistiu em usá-la. Usando essa expressão, ele traçava uma linha entre os fumantes irracionais que apestavam residências, e eles, pai e mãe fumantes, que estariam abaixo dessa linha. Acima ou abaixo, as filhas tinham asma e bronquite, ao que tudo indica, reativas à intoxicação diária dentro de casa.

No meu entender, essa linha imaginária tinha uma função: reduzir a culpa dos pais fumantes e mascarar sua condição de dependentes químicos.

l Dependentes da nicotina.

Hoje, uns vinte anos mais tarde, não há como manter a linha imaginária. Pesquisas e mais pesquisas demonstraram o dano que o fumo de alguns produz em outros.

Inclusive filhos e filhas.

Inclusive ainda dentro da barriga da mãe.

O fumo afeta uma ampla área da saúde humana, inclusive o risco de câncer. Segundo a American Cancer Society, o fumo do tabaco é composto por milhares de substâncias químicas, das quais pelo menos 70 são cancerígenas. As principais: nicotina (a droga que provoca o vicio) é um dos produtos químicos mais agressivos da fumaça do tabaco; cianeto de hidrogênio; formaldeído; chumbo; arsênico; amônia e até elementos radioativos como o urânio. Tem mais: benzina; monóxido de carbono; nitrosaminas, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs), etc. etc.

O dano começa quando o bebê nasce?

Não. Começa muito antes. As mães fumantes danificam seus filhos ainda na barriga. Fumar durante a gravidez afeta a mãe e o bebê antes de nascer, durante o parto, e depois do parto.

Todos os venenos que são inalados pela mãe fumante (primária ou secundária) entram na corrente sanguínea e vão direto ao feto.

Quais as consequências?

São muitas, muitas. Menciono algumas:

l Reduz a quantidade de oxigênio disponível para as mães e os bebês;

l aceleram os batimentos cardíacos do bebê;

l aumenta a taxa de natimortos;

l aumenta a taxa de abortos espontâneos e mais. 

E se a gestante for uma fumante secundária? Lembremos que fumantes secundários não fumam, mas inalam a fumaça do cigarro aceso e a exalada por um fumante. 

São muitas as consequências para a gestante e para o bebê dentro da sua barriga.

Mesmo quando o fumante é um “fumante racional”?

Também!

De cara, diminui a quantidade de oxigênio disponível para a gestante e para o bebê; aumenta os batimentos cardíacos do bebê e várias consequências encontradas nos bebês de gestantes que fumam: taxa mais elevada de natimortos e de abortos não intencionais; taxa mais elevada de que o bebê seja prematuro; reduz o peso do bebê ao nascer; aumenta o risco de que o bebê tenha doenças respiratórias, de nascer com defeitos, da síndrome da morte súbita e mais.

Todos os riscos aumentam com o número de cigarros fumados diariamente.

Não há número “seguro” de cigarros que podem ser fumados;

Não existem “fumantes racionais”. É mito.

Outro mito é o de que cigarro aceso, mas não fumado, causa menos dano à saúde dos demais. É o contrário.

O fumante retém algumas das substâncias maléficas; o cigarro aceso no cinzeiro joga tudo direto no ar.

Claro está que outras condições pesam, alteram a probabilidade de causar essas inúmeras doenças. Ao ar livre, a fumaça se dissipa muito mais rapidamente. Imaginem, ao contrário, os que dormem trancados, com janela fechada…

Em 2009, um relatório da Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer concluiu que são fortes as evidências que demonstram que a implementação de leis de controle do fumo reduzem as doenças cardíacas;

Em 2010 a Cochrane efetuou uma revisão de doze pesquisas que revelou a existência de uma redução nas internações hospitalares por problemas cardíacos depois da implementação de legislação de controle do fumo.

E maconha?

Desculpem, mas as pesquisas indicam que os efeitos da maconha podem ser ainda mais acentuados.

Um exemplo:

Uma pesquisa dirigida por Matthew Springer, professor da Universidade da Califórnia, comparou os efeitos do fumo secundário com cigarros e com maconha. Claro que não poderiam usar seres humanos como cobaias. Usaram ratos. Os que foram submetidos a um ambiente carregado com fumaça de maconha levaram mais tempo até que as artérias, artificialmente comprimidas pelos componentes da fumaça voltassem ao seu diâmetro normal. Quando os ratos eram expostos à fumaça de cigarros, suas artérias levavam trinta minutos para voltar ao normal; quando a fumaça era de maconha, levavam noventa minutos.

Isso, a despeito da maconha produzir um número menor de componentes químicos.

E quais os efeitos das políticas públicas em relação às doenças coronárias? Em 2010, fizeram uma meta-análise de 17 estudos que pesquisaram os efeitos das políticas públicas sobre a redução nas doenças coronárias e a conclusão, estatisticamente significativa, mostra que houve redução.

Tem mais: esses efeitos saudáveis aumentaram ao longo do tempo.

Em 2012 foi realizada uma pesquisa sobre o efeito de políticas de controle do fumo sobre a saúde de idosos (65 anos e mais). Quais eram essas políticas? Proibições de fumar nos locais de trabalho, nos bares e restaurantes, que atingiam, pelo menos, 50% da população do condado.

Quais foram as consequências?

l Uma redução de 20% nas internações hospitalares devido a ataques do coração e

l Uma redução de 11% nas internações devido a doenças crônicas de obstrução pulmonar.

E no Brasil? Embora desde o início das pesquisas sistemáticas, na década de sessenta, já fossem conhecidos os benefícios de políticas que protegessem não-fumantes (e fumantes também) em locais públicos, um senador engavetou o projeto durante sete anos. Conversei com uma assistente do senador, uma fumante, que condenou o projeto na base dos direitos dos fumantes, que via como um direito absoluto e inalienável. Continuou, dizendo que o número de vidas salvas era ínfimo. Com base em algumas considerações, estimou que o “ínfimo” número de vidas salvas anualmente era cerca de cinco mil. Balançou um pouco, mas insistiu em sua posição e a conversa terminou em pouco tempo.

Cinco mil vidas…

Cada ano; todos os anos.

Não foram suficientes para aquela fumante respeitar os não fumantes.

Você, não fumante, poderá ser hostilizado se expressar qualquer restrição ao fumo, inclusive ao “direito” dos fumantes de fumar no seu nariz. Uma das descrições agressivas da sua postura, talvez a mais comum, é “frescura”.

Em verdade, é frescura sim. Nós queremos ar fresco para respirar.

Sem qualquer tipo de poluição.

Defenda sua saúde e a sua vida! Com o exemplo; com a palavra; com a mobilização.

Gláucio Soares IESP/UERJ

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O câncer da próstata: testar ou não testar?

Há uns anos, um grupo criado para assessorar o governo Obama sobre os ganhos e as perdas das políticas públicas que financiavam os exames de PSA para detectar cedo os cânceres da próstata. O grupo concluiu que as perdas eram maiores do que os ganhos e aconselhou o governo a descontinuar o financiamento, o que foi feito.

Como acontece frequentemente, a escolha dos membros de um grupo influencia suas conclusões.

1 – No caso, o grupo não tinha entre seus membros um só urólogo, um só biólogo, um só oncólogo especializado em câncer da próstata….

2 – Havia duas pesquisas, uma nos Estados Unidos e outra na Europa, que chegaram a resultados contraditórios. Porém, reanálises estatisticamente mais rigorosas dos dados das duas pesquisas mudaram suas conclusões, deixando clínicos e pacientes num espaço de incertezas;

3 – Pesquisas com uma só medida do PSA não permite calcular o PSADT (doubling time) nem a PSA velocity, que há muitos anos são usados como marcadores importantes que permitem prever se o câncer atingirá alguns marcadores, como a formação de metástases constatáveis, a morte e o tempo até a morte;

4 – Um dos argumentos do grupo era que a generalização do exame de PSA gerou excesso de biópsias, aumentando os custos, o sofrimento e outras consequências negativas. Fazer uma biópsia desnecessária não é um problema do teste de PSA, mas de quem as recomenda e de quem as aceita;

5 – Há uma pesquisa recentíssima que pode alterar essas conclusões, porque tem virtudes importantes:

l Um número grande de observações (20 mil homens);

l Longitudinal (esses homens foram acompanhados por mais de duas décadas);

l Inclui informações sobre os que se negaram a participar na pesquisa e os que a abandonaram; 

l Inclui pacientes e não pacientes;

l A autora é muito qualificada. Maria Franlund, MD, PhD em Urologia na Sahlgrenska Academy, University of Gothenburg, Suécia, e chefe do departamento no hospital da universidade.

A que conclusões chegaram?

Leia você mesmo:

“Após 22 anos de acompanhamento, aproximadamente 1.528 cânceres foram detectados em participantes rastreados, em comparação com 1.124 no grupo controle. No entanto, os cânceres no grupo de triagem foram detectados em um estágio anterior, o que levou a uma redução de 29% nas mortes por câncer de próstata. No total, 112 homens rastreados morreram da doença, em comparação com 158 mortes no grupo controle. ”

Como esperado, mais cânceres foram detectados entre os que foram testados, mas como foram detectados antes, houve menos mortes.

O tempo é uma variável importante. Descobrir o câncer mais tarde, dá a ele mais tempo para crescer e gerar metástases. E matar.

Leia mais:

https://prostatecancernewstoday.com/2019/02/21/psa-testing-cuts-deaths-shows-value-of-long-term-screening/?utm_source=Prostate+Cancer&utm_campaign=70278695e8-RSS_MONDAY_EMAIL_CAMPAIGN&utm_medium=email&utm_term=0_a6d9c27ca8-70278695e8-71303813

Estimule pacientes e seus amigos e parentes a que se informem melhor e consultem um urólogo ou oncólogo.

GLÁUCIO SOARES IESP/UERJ

O TRÂNSITO E AS MORTES EM ISQUEMIAS

Ter tido uma isquemia transiente (TIA) abre os olhos de muitos pacientes. Eu estava sendo internado, e um pequisador em biologia e outro economista, mas com graduação e ávido pesquisador pela internet já estavam fuçando a montanha de dados e pesquisas à disposição. São filhos, são pesquisadores.

Vamos ao que {me} interessa. A TIA aumenta o significativamente risco de um derrame. Entre 10% e 20% dos AVCs são precedidos por uma TIA. Mais do que isso, os momentos iniciais são os mais importantes. Vejam os dados: 11% dos derrames acontecem nos primeiros 90 dias depois da TIA. Se o TIA não for tratado rápida e eficientemente, a coisa fica feia. Metade dos AVCs ocorre nos dois primeiros dias depois do TIA. Não dá para esperar pelo SAMDU nem pela ambulância, nem para ficar escolhendo onde levar. As decisões rápidas salvam vidas. Felizmente, havia uma emergência pertinho daqui e há muitos taxis. A primeira meta-análise que li me ensinou muito. É preciso ser muito rápido. 42% dos derrames que aconteceram nos primeiros 30 dias depois do primeiro TIA aconteceram nas primeiras 24 horas. Mais uma vez, a importância do atendimento rápido.

Considerando o trânsito urbano no Brasil e o baixíssimo nível de cultura cívica dos motoristas, podemos ver que nosso trânsito selvagem não mata gente somente nas colisões e atropelamentos, mas também pacientes à espera de ambulâncias. Vítimas do tráfego caótico.

O planejamento da saúde pública no Brasil, inclusive as medidas para combater o crescente númer de TIAs e AVCs, passa por muitas políticas públicas, inclusive a civilidade no trânsito.

A civilidade e a paz no trânsito salvam muitas vidas. Não é impossível. Políticas públicas semelhantes, como a PAZ no Trânsito, salvaram muitas vidas no Distrito Federal. É possível implementar políticas semelhantes em muitas outras áreas, que salvarão muitas vidas, inclusive de cidadãos que, neste momento, estão insupeitamente conversando, vendo a TV, dormindo em suas residências ou lendo este artigo na internet.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

O MEDO E A MORTE

Este mês completei 23 anos desde que fui diagnosticado com câncer. Infelizmente, o câncer não foi curado, a despeito de diferentes tratamentos.

Como pesquisador, minhas reações começaram com o meu desconhecimento. Eu não sabia nada a respeito de câncer. Tratei, primeiro,de ler órgãos de divulgação, comunicações entre pacientes e assim  por diante. Eram trocas de experiências, de lamúrias, de sugestões, várias de curas milagrosas, remédios  “que a indústria farmacêutica não quer que você conheça “ – abertura comum de quem quer anunciar sua própria cura milagrosa (e rentável). Havia de tudo.

Porém, uma revista, PSA Rising, foi particularmente útil. Depois, descobri publicações mais sérias, embora acessíveis somente para quem quisesse estudar um pouco. Primeiro, as edições diárias de Google Prostate Alert, juntamente com as edições diárias e a semanais de Uro Today, e mais alguns artigos especializados após essas leituras. Quando havia coisa nova, corri atrás. Facilita ter um filho biólogo. E eu buscava no PubMed.

A maioria dos comentários, como era de esperar, caia em algumas categorias. As que mais me impressionavam eram os pedidos de informação que revelavam quão pouco os pacientes e parentes  sabiam sobre suas doenças e, em função disso, quão pouco controle tinham sobre a vida dos pacientes  – muito menor do que a doença permitia. Deixavam de fazer muitas coisas que podiam fazer.Pior: os que mais e melhor buscavam informações não eram os pacientes, mas suas esposas, irmãs, filhos, companheiras. Muitos pacientes propriamente ditos se fechavam num quarto escuro esperando morrer. A coragem das mulheres para enfrentar um câncer da mama e outros cânceres femininos é incomparavelmente maior. Um dos efeitos mais acachapantes sobre os pacientes de cânceres masculinos vem do próprio machismo. O mesmo machismo que causa dor em tantos casamentos causa mais pavor e desespero em muitos homens vítimas de cânceres da próstata do que o próprio câncer.

Essas foram poderosas razões para que eu começasse a escrever dois blogues, um no Blogger e outro no WordPress. Minha esperança era atingir umas cem  pessoas e ajudar umas poucas. Afinal, mesmo para que tem só um pouco de fé, minorar o sofrimento de uma alma é um objetivo louvável em si próprio. Nunca pensei que meu blog Câncer de Próstata; Notícias e Pacientes teria 883 mil acessos e o meu outro blog, Câncer da Próstata Sem Medo tivesse 915.000 leitores.

E o câncer? O  “meu“ câncer?

Está por aí. Ou melhor dizendo, por aqui. Os marcadores bioquímicos mostram que ele não foi curado.

Às vezes, também eu sinto medo, porque se a metástase for para os ossos, a dor é muito grande.

Mas até aí, nesse medo menor, Deus me deu mais uma lição. Eu estava em casa, sozinho, trabalhando na minha escrivaninha quando apaguei. Apaguei total, não me lembro de nada. Minha mulher me encontrou desfalecido, boca torta e tudo. Minha lembrança veio com o incômodo de sentir pessoas tentando me comprimir dentro do assento de um taxi cujo volume me parecia inferior ao meu. 

Tive um ataque transitório isquêmico. Um AVC menos sério, algo assim.

E foi uma palmada, mesmo, que Deus me deu. Palmadinha. Afinal, estou aqui escrevendo para vocês.

Com carinho.

GLÁUCIO SOARES

IESP-UERJ

Índice automatizado para prever a sobrevivência de cancerosos

Há quase consenso de que avaliar corretamente o que acontecerá com o paciente é algo positivo. No câncer da próstata, o estado dos ossos é importante para um prognóstico correto. Atualmente, é feito “a olho” pela maioria dos médicos. Foi desenvolvido um Index que ajuda a prever a agressividade do câncer, mede o efeito dos tratamentos, prevê o tempo de sobrevivência etc.

Só há programas que estão sendo desenvolvidos para fazer isso automaticamente. Um deles se chama “The automated Bone Scan Index” (aBSI).

Claro, o aBSI, como qualquer índice, tem que ser validado empiricamente. É preciso mostrar que funciona, que ajuda no prognóstico.

Andrew J. Armstrong e associados fizeram isso. Recrutaram 1245 pacientes com cânceres avançados, que não respondiam mais à terapia hormonal (mCRPC), que tinham metástases, e não tinham feito químio. Desses, 721 tinham informações que permitiram o uso do aBSI.

Queriam saber se o aBSI era capaz de prever a sobrevivência daqueles pacientes. Dividiram os pacientes em quatro grupos com aproximadamente o mesmo número de pacientes, de acordo com o aBSI, do melhor para o pior (quanto mais baixo o aBSI, melhor) e viram qual a mediana da sobrevivência de cada grupo. Esses grupos estatísticos são chamados de quartís. A sobrevivência mediana, no melhor quartil, foi de 34,7 meses – quase três anos; nos demais quartís foi de 27,3, 21,7 e 13,3 meses.

É, portanto, um instrumento válido. Evidentemente, poderá ser melhorado.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

Estatinas e o risco de morrer de câncer da próstata

Uma pesquisa recente feita na Finlândia trouxe informações a respeito das associações (ou não) entre o uso de estatinas e o risco de morte por câncer da próstata. É uma pesquisa que somente poderia ser feita em poucos países com excelentes bases estatísticas que são compatíveis. Analisaram 6.537 homens com câncer da próstata, acompanharam esses homens durante sete anos e meio e cruzaram as informações com o banco de dados que contem informações sobre o uso de medicamentos, no caso estatinas.

Durante o período em que os acompanharam (NÃO é o mesmo que o tempo desde o diagnóstico), morreram 617 pacientes.

A que conclusões chegaram? 

A primeira não ajuda quem já usava estatinas antes do diagnóstico do câncer. Não há associação entre o uso e a morte pelo câncer.

A segunda conclusão é muito diferente. O uso de estatinas DEPOIS do diagnóstico é o que conta. Reduz o risco de morte devida ao câncer (HR 0.80) e quanto mais estatinas usaram (suponho que dentro dos limites estabelecidos pelo médico), maior a redução.

A redução era mais clara entre os que usavam terapia hormonal e menor entre os que fizeram cirurgia e/ou radiação.

Deixo claro que há vários estudos sobre essa associação e nem todos mostram uma redução na mortalidade com o uso de estatinas.

GLÁUCIO SOARES iesp-uerj

Saiba mais:

Murtola TJ, Peltomaa AI, Talala K, Määttänen L, Taari K, Tammela TLJ, Auvinen A., Statin Use and Prostate Cancer Survival in the Finnish Randomized Study of Screening for Prostate Cancer. Eur Urol Focus. 2017 Apr;3(2-3):212-220. doi: 10.1016/j.euf.2016.05.004. Epub 2016 Jun 2.

DADOS SOBRE O CÂNCER DA PRÓSTATA

Há quem não leve o câncer da próstata em sério. As estatísticas, no Brasil, deixam muito a desejar e as relacionadas com o câncer da próstata ainda mais.

Então???

Usamos estatísticas de outros países, deixando claro que elas são um substituto pobre para avaliar o que ocorre no Brasil.

Nos Estados Unidos, um em cada nove homens será diagnosticado com câncer da próstata. Os números oficiais no Brasil podem ser mais baixos porque muitos, muitos casos não são diagnosticados.

Naquele país, um homem morre devido ao câncer da próstata cada 18 minutos. São cinco só no tempo corrido de um jogo de futebol. E no Brasil?

Não sabemos.

Cada 18 minutos um homem morre devido ao câncer da próstata nos Estados Unidos. E no Brasil?

Não sabemos.

Perto de trinta mil americanos morrerão devido ao câncer da próstata em 2018. Entre 1995 e 2016, inclusive, 3.277 americanos morreram devido a ações terroristas nos Estados Unidos. As mortes devido ao câncer da próstata matam, em um só ano, nos Estados Unidos, nove vezes mais do que o terrorismo matou em vinte e dois anos. Não obstante, os homens americanos temem mais o terrorismo do que o câncer da próstata, e o financiamento antiterrorista é tão maior do que o financiamento para a pesquisa e prevenção do câncer da próstata, que essa comparação perdeu o sentido.

O câncer da próstata é o segundo câncer que mais mata homens no mundo, superado, apenas, pelo câncer do pulmão.

Leve o câncer da próstata em sério.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

FUMAR E O CÂNCER DA PRÓSTATA

As notícias são ruins para os pacientes do câncer da próstata que fumam ou fumaram. Uma pesquisa com pacientes sem metástases visíveis, diagnosticados entre 1992/3 e 2013, mostra que entre os que fumaram antes do diagnóstico tinham um risco relativo 50% maior de morrer do câncer da próstata do que os que não fumaram. Entre os que deixaram de fumar há vinte anos ou mais, a diferença é menor, 29% a mais. Ter parado há muito tempo diminui o risco relativo, mas não o elimina.

E os que continuaram a fumar depois do diagnóstico?!?!

Tem gente que continua fumando, sim. Quando eu me tratava no Cancer Center, do Shands Hospital, sai, muitas vezes, do Center e várias vezes encontrei pessoas fumando na calçada com marcas azuis e amarelas no pescoço e no rosto que indicavam onde os técnicos concentrariam a radiação. Em outros lugares não dava para ver.

Eu nem sempre consegui esconder a minha surpresa. Algumas vezes tinham um olhar de desafio. Nunca entendi a racionalidade desse desafio se tudo o que faziam era aumentar o risco da própria morte.

O aumento desse risco não era negligível: 75% a mais.

Gláucio Soares IESP-UERJ

Abiraterona com barriga cheia?

Uma pesquisa que comparou os efeitos de um medicamento com e sem alimentos concluiu que tomá-lo com alimentos pode reduzir a dose diária terapêutica, reduzir problemas digestivos, e reduzir os custos em até 75%.

Qual é o problema? Os fabricantes aconselham a tomar o medicamento em jejum!

O medicamento é o acetato de abiraterona, conhecido pela marca Zytiga. As instruções aconselham que os pacientes tomem quatro pílulas de 250 mgs logo pela manhã, sem comer nada durante à noite. Após ingerir as pílulas, devem esperar uma hora até tomar o café da manhã.

Russell Szmulewitz, da Universidade de Chicago, afirma que essas instruções são contraproducentes e levam a grande desperdício. Compararam um grupo que seguia as instruções do fabricante e outros dois que tomavam os medicamentos com alimentos com apenas sete por cento de gordura e perto de 300 calorias, e ainda outro que mandava brasa no café da manhã de 825 calorias e 57% de gordura.

E daí???

Os medicamentos que tomamos não são absorvidos na sua totalidade. Um exemplo é o turmeric, com muitas utilidades: pouco é absorvido e quase tudo é expelido.

É aí que o breakfast faz diferença.

No breakfast “leve”, a quantidade de abiraterona que entra e circula no sangue é quatro a cinco vezes maior do que a que entra no paciente em jejum.

E quem manda a ver no café da manhã? A quantidade do medicamento que é absorvida pode chegar a dez vezes mais do que quando o paciente toma o medicamento em jejum.

Isso significa que, com muito menos medicamento (e muito menos efeitos colaterais) podemos conseguir resultados iguais.

É bom, mas muito bom mesmo, para o bolso do paciente ou do plano que paga o medicamento. No atacado, um mês de abiraterona (incluindo o desperdício quando tomado em jejum) é de oito a onze mil dólares. Oito a onze mil no atacado!

Quanto é isso? Onze mil dólares são mais de 36 mil reais. Mensais! Normalmente os pacientes tomam esse medicamento por cerca de dois anos. Ou mais de 880 mil reais. Somente com esse remédio.

Se não morrer do câncer, morre de penúria. Porém, um modo mais eficiente de ingestão do medicamento pode cortar esse custo em até 75%!

Cuidado. Esse estudo acaba de ser publicado e divulgado em EurekAlert, PUBLIC RELEASE: 28-MAR-2018 (ontem). Converse com seu urólogo e su oncólogo.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

Químio durante a terapia hormonal?

Minha primeira reação ao receber o diagnóstico do câncer foi a de usar logo todo o arsenal disponível: opera, faz radiação, toma tudo quanto é medicamento, faz químio etc. Depois de ler muito e de conversar com muitos médicos me dei conta de que essa reação, psicológica e humanamente compreensível, precisa ser controlada, contida. Acho que é meu dever de paciente explicar o porquê a outros pacientes.

Uma pesquisa Fase III, conhecida como E3805 CHAARTED Trial, respondeu à pergunta: há vantagens em usar químio (docetaxel) juntamente com a terapia hormonal em pacientes que ainda respondem à essa terapia (hormonal)?

A resposta diz que depende…

Depende de quão séria é a metástase. Nas metástases avançadas, definidas como aquelas que apresentam metástases em uma víscera e/ou quatro ou mais metástases ósseas, com pelo menos uma delas fora da coluna ou dos quadris, vale a pena. É uma definição exigente. Nesse grupo, a mediana da sobrevivência total foi de 51,2 meses com a químio e de 34,4 meses sem a químio, somente com a terapia hormonal. Uma diferença de mais de quase um ano e meio.[i]

E nos demais casos, definidos como tendo metástases menos extensas? É uma mistura heterogênea (na minha leitura, três lesões ósseas não é pouca coisa, mas…).

Esses pacientes, com um volume menor da doença, não se beneficiaram da inclusão da quimioterapia no tratamento.[ii]

O uso do docetaxel (75 mg/m2 com um máximo de seis ciclos) não aumentou significativamente a sobrevivência nesse grupo, mas a aumentou muito no grupo com canceres mais avançados.

Não é uma descoberta a respeito de tratamentos inócuos. A químio é um tratamento pesadíssimo, com muitos efeitos colaterais, que podem danificar o seu corpo. A conclusão a partir desses dados é que incluir a químio em um momento do seu tratamento em que ela não acrescentará nada à sobrevivência seria uma decisão “burra”. Esse trabalho foi e-publicado neste mês e aguarda outras pesquisas para ver se elas confirmam esses resultados. Pode demorar.

Essa é uma conversa entre pacientes e nada mais do que isso. Não somos médicos. Escolha um bom oncólogo e um bom urólogo. Converse com eles e siga suas recomendações.

GLÁUCIO SOARES


[i] (Razão de risco [RR] 0,72; 95% CI, 0,59 a 0,89; P = 0,0018).

[ii] (RR, 1,04; 95% CI, 0,70 a 1,55; P = 0,86).

AS MELHORES NOTÍCIAS EM UMA DÉCADA!

Uma entrevista recente com o Dr. Leonard G. Gomella ilustra importantes novidades no tratamento do câncer da próstata. O tratamento muda de acordo com o estágio da doença. Inicialmente, os tratamentos têm intenção curativa, exceto em casos muito avançados. Utilizados esses tratamentos, se o paciente não for curado, entram em ação outros tratamentos, predominantemente os hormonais.

Há quase dez anos, uma pesquisa Fase III mostrou que a abiraterona fazia uma diferença na sobrevivência: 15,8 meses vs 11,2 no grupo placebo. A partir daí houve muitas melhoras, a Johnson comprou os direitos e passou a comercializar o produto com o nome de Zytiga.

Outros grupos estavam pesquisando outros ingredientes ativos com o mesmo objetivo.

Abiraterona e enzalutamida foram aprovadas nos Estados Unidos para aquele estágio de pacientes que já não respondiam ao tratamento hormonal e tinham metástases detectáveis.

Os pacientes no estágio anterior, quando não havia mais uma resposta ao tratamento hormonal, mas não havia metástases detectáveis, tinham poucas opções além de aguardar as próprias metástases. Os pacientes do estagio anterior faziam o tratamento hormonal (ao qual alguns não respondem) e também ficavam esperando até que o câncer avançasse e não houvesse resposta ao tratamento.

Em poucos meses, tudo mudou.

Um novo tratamento, baseado na apalutamida mostrou muitos benefícios se usado mais cedo, quando ainda não havia metástases detectáveis. Reduziu o risco de metástase em 72% e o risco de morte também em 72%. A mediana de sobrevivência sem metástase no grupo apalutamida era 40,5 meses, muito mais do que no grupo controle, onde era apenas 16,2 meses.

A pesquisa III PROSPER procurou ver os efeitos de usar enzalutamida (Xtandi) mais cedo. Em conjunção com a terapia hormonal, reduzia o risco de metástase ou morte em 71% em comparação com o grupo que só fazia a terapia hormonal (que é onde eu estou).

Daí que o Dr. Gamella chamou de um avanço tremendo essas descobertas. Afinal, um aumento na sobrevivência de mais de dois anos não é pouca coisa…

É um momento cientificamente favorável aos que enfrentam um câncer da próstata e não conseguiram curá-lo no início.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

Bons resultados com a enzalutamida


Uma equipe internacional analisou as vantagens em usar enzalutamida quando o tratamento hormonal não produz mais os efeitos desejados e o câncer começa a avançar. Esse medicamento só é usado legalmente nos Estados Unidos quando, além de indicação de que a terapia hormonal começou a falhar (ex.: crescimento rápido do PSA) e há indícios de metástase. Esses indícios são em parte um sofisma legal e metodológico nos casos em que houve prostatectomia porque o crescimento do PSA normalmente resulta da proliferação de células cancerosas em algum lugar do corpo (sem esquecer que esse corpo já não tem próstata). Não obstante, a detecção é, em boa parte, dependente do avanço da tecnologia. Há duas décadas, a metástase não teria que ser tão avançada quanto hoje para ser detectada. micro metástases serão corriqueiramente detectáveis em mais algum tempo. Essa questão me interessa particularmente porque agora talvez seja uma questão de pouco tempo até que a terapia hormonal perca seu poder. Quando as metástases acontecem, medicamentos como abiraterona e enzalutamida podem ser usadas, quando ainda não, não podem legalmente ser usadas nos Estados Unidos, ainda que haja dados que mostram que o uso enquanto não há metástase detectável tem muitos benefícios.

Quando ler artigos na área e encontrar a expressão “endpoints” saiba que estão tratando de objetivos. O tempo que o paciente passa até que apareça uma metástase é chamado de MFS (metastasis free survival). É uma mediana o tempo que leva até que metade dos pacientes tenha metástase e metade não. Sem enzalutamida, esse período é de 14,7 meses; com enzalutamida, leva mais tempo para chegar até a mediana que é de 36,6 meses. Uma diferença de 21,9 meses.[i] Aperte o botão Controle e, ao mesmo tempo, clique encima do endereço abaixo para ver os gráficos.

https://infogram.com/revisando-o-efeito-da-enzalutamida-1hke600081m065r

Lembrem que isso é até a primeira metástase detectável.

O tempo até o PSA voltara a crescer é outro objetivo. Quanto mais tempo, melhor. Sem tratamento, na mediana o PSA cresce em menos de quatro meses. Com enzalutamida é muito mais: 37,2 meses, mais de três anos [P< 0,0001].

São excelentes resultados, mas há efeitos colaterais e alguns deles fazem com que os pacientes desistam do tratamento.

GLÁUCIO SOARES IESP/UERJ

[i] A diferença é significativa no nível de P< 0.0001.

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Bons resultados com a enzalutamida

Uma equipe internacional analisou as vantagens em usar enzalutamida quando o tratamento hormonal não produz mais os efeitos desejados e o câncer começa a avançar. Esse medicamento só é usado legalmente nos Estados Unidos quando, além de indicação de que a terapia hormonal começou a falhar (ex.: crescimento rápido do PSA) e há indícios de metástase. Esses indícios são em parte um sofisma legal e metodológico nos casos em que houve prostatectomia porque o crescimento do PSA normalmente resulta da proliferação de células cancerosas em algum lugar do corpo (sem esquecer que esse corpo já não tem próstata). Não obstante, a detecção é, em boa parte, dependente do avanço da tecnologia. Há duas décadas, a metástase não teria que ser tão avançada quanto hoje para ser detectada. micro metástases serão corriqueiramente detectáveis em mais algum tempo. Essa questão me interessa particularmente porque agora talvez seja uma questão de pouco tempo até que a terapia hormonal perca seu poder. Quando as metástases acontecem, medicamentos como abiraterona e enzalutamida podem ser usadas, quando ainda não, não podem legalmente ser usadas nos Estados Unidos, ainda que haja dados que mostram que o uso enquanto não há metástase detectável tem muitos benefícios.

Quando ler artigos na área e encontrar a expressão “endpoints” saiba que estão tratando de objetivos. O tempo que o paciente passa até que apareça uma metástase é chamado de MFS (metastasis free survival). É uma mediana o tempo que leva até que metade dos pacientes tenha metástase e metade não. Sem enzalutamida, esse período é de 14,7 meses; com enzalutamida, leva mais tempo para chegar até a mediana que é de 36,6 meses. Uma diferença de 21,9 meses.[i]

Lembrem que isso é até a primeira metástase detectável.

O tempo até o PSA voltara a crescer é outro objetivo. Quanto mais tempo, melhor. Sem tratamento, na mediana o PSA cresce em menos de quatro meses. Com enzalutamida é muito mais: 37,2 meses, mais de três anos [P< 0,0001].

São excelentes resultados, mas há efeitos colaterais e alguns deles fazem com que os pacientes desistam do tratamento.

GLÁUCIO SOARES IESP/UERJ

[i] A diferença é significativa no nível de P< 0.0001.

A religião e o bem-estar de pacientes com doenças graves

Essa é mais uma nota sobre as funções e disfunções de vários conceitos associados com a religião para o bem-estar de pacientes com doenças graves.

Há quase consenso de que a religião, a religiosidade e a espiritualidade “ajudam” a lidar com doenças, particularmente as graves ou as em fase terminal. Koenig, George e Titus estudaram pacientes idosos. A pesquisa é simples: uma enfermeira, treinada para participar da pesquisa, entrevistou 838 pacientes na medida em que eram internados numa instituição médica. [i]

A despeito da dificuldade no desenho da pesquisa, foi aplicado um questionário muito rico na mensuração da religiosidade e conceitos associados – o “bundle” sobre religião. Incluía escalas para medir a participação religiosa, tanto na organização quanto fora dela, a religiosidade “intrínseca”, a religiosidade, avaliada pelo idoso e também por observadores, medidas de espiritualidade (auto avaliada e também avaliada por observadores, e as experiências espirituais do dia a dia. O contexto psicológico e social também foi estudado: sintomas de depressão, o funcionamento cognitivo, o apoio social, a disposição em cooperar, e a saúde física (sempre obedecendo às duas avaliações, externa e do próprio paciente. As tradicionais variáveis sócio demográficas (idade, sexo, raça e educação) também foram incluídas.

O que descobriram?

A religiosidade e a espiritualidade se correlacionavam com maior apoio social, menos sintomas de depressão, as funções cognitivas funcionam melhor e houve menos obstáculos à cooperação com pessoas e grupos.[ii]

Havia, também, relações com a saúde física, mas menos intima do que com a saúde mental.

Evidente, evidencias como essas mostram a utilidade de estimular as funções religiosas e espirituais que os pacientes porventura tiverem como um importante reforço para as terapias convencionais.

[i] Religion, spirituality, and health in medically ill hospitalized older patients, J Am Geriatr Soc. 2004 Apr;52(4):554-62.

[ii] As relações foram estatisticamente significativas, umas no nível de P<.01 e outras no nível de P<.0001.