Sem medo de morrer

Conversei com Amaury de Souza poucos dias antes da sua morte. Conversamos, sobretudo, sobre câncer, tema no qual sou veterano. Amaury enfrentava um dos cânceres mais agressivos que há, o do pâncreas. Influenciado pela minha história de convivência com um câncer de progressão mais lenta, que já completou 17 anos (desde o diagnóstico), resolveu que tentaria transformar o mal que o afligia numa doença crônica. Já tinha mudado a dieta, entrado num programa de exercícios. Iria consultar meus blogs sobre o câncer da próstata e ver o que poderia acrescentar ao seu tratamento e ao seu estilo de vida para transformar um câncer letalíssimo em uma doença crônica. Sua voz bonita e firme revelava seu caráter decidido. Poucos dias depois, li no e-mail notícia sobre a sua morte.

 

A estória de Amaury é a de um jovem brilhante e criativo, com mais do que uma ponta de cinismo, que viveu num período em que o mundo mudou. Parte de um privilegiado grupo de estudantes mineiros que transformaram a Ciência Política no Brasil, Amaury iniciou sua carreira combinando os estudos com o ativismo político. Foi, se bem me lembro, um dos fundadores da POLOP (Política Operária). Amaury não era imune às voltas e reviravoltas de um mundo que mudava aceleradamente.

Amaury era um ativista, sim, mas essencialmente era um acadêmico. Tive o prazer de ter Amaury como um dos alunos de um seminário que ofereci em MIT. Era um de três alunos mineiros que tiveram um impacto claro sobre a Ciência Política no Brasil.  Completando o trio, lá estavam Fabio Wanderley Reis e Antônio Octávio Cintra.

Também tive a satisfação de ver Amaury usar dados que eu coletara nas eleições de 1960 e demonstrar que a cor influenciava a preferencia partidária e a intenção de voto além do status socioeconômico e da classe social. A significação dessa demonstração só se aquilata quando se considera que o pensamento político brasileiro era dominado pela “escola paulista”, que reduzia a influência da raça à classe social. Pensar diferente era enfrentar a ira da esquerda intelectual brasileira. Amaury enfrentou.[i]

Títulos? Não faltam. Doutor em Ciência Política pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), foi professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro e de diversas universidades norte-americanas. Foi, também, bolsista do Woodrow Wilson International Center for Scholars. Seus últimos livros foram recentes: A Agenda Internacional do Brasil: A Política Externa Brasileira de FHC a Lula, em 2009, e A Classe Média Brasileira: Ambições, Valores e Novos Projetos de Sociedade, em 2010, escrito com outro mineiro da “safra de ouro”, Bolívar Lamounier.

Como ressalta Margolis, “Amaury era politicamente incorreto, às vezes ao ponto de provocar arrepios.” Quando o Brasil político era conservador, ele era líder radical de esquerda; quando a direita militar já não estava no poder, e, ideologicamente, a academia brasileira voltava às décadas de 60 e 70, e, teoricamente, se dedicava ao pós-modernismo “de esquerda”, Amaury era um dissonante, um liberal de carteirinha, que apresentava dados e números para alicerçar suas ideias.

Dada a minha história pessoal, é importante ressaltar a coragem de Amaury frente a morte. Mac Margolis nos relata que, mesmo em etapa adiantada da doença, fazia questão de viver como sempre viveu: “nos encontramos na Urca no bar a poucos passos da sua casa. Magro e fragilizado pela doença, Amaury fazia questão de estar ali, tomar chope, falar de livros … comentar o julgamento do mensalão e decifrar os rumos da política brasileira.”

Quando muitos vegetam, amedrontados, esperando a morte, Amaury viveu intensamente e inteligentemente até o fim. Seu último artigo foi publicado dois dias antes da sua morte.

GLÁUCIO SOARES                IESP/UERJ   

 

 

PROVENGE É MAIS EFICIENTE SE USADO MAIS CEDO

A empresa que fabrica o medicamento Provenge, chamada Dendreon, tem sido criticada por economistas, sendo a crítica principal a de que a empresa não tenta ampliar o “label” do medicamento. “Label” é o conjunto de condições, os parâmetros referentes aos pacientes e às doenças que limitam o uso do medicamento. Assim, Provenge só pode ser receitado para pacientes que estão num pequeno intervalo da doença: sem sintomas, ou quase sem sintomas, mas que já não respondem ao tratamento hormonal. A crítica propõe que a Dendreon teste o produto em pacientes em melhores condições. A hipótese que os críticos endossam propõe que o uso de Provenge em estados menos adiantados da doença produziriam melhores resultados. Financeiramente, significaria que vender o medicamento a um grupo muito maior.

Essas críticas forçaram a Dendreon a reanalisar os dados de que dispunha e outros mais. Os resultados foram apresentados à conferência anual da ASCO, em Chicago.

 

O abstract #4684, “Overall Survival Benefit with Sipuleucel-T by Baseline PSA; An Exploratory Analysis from the Phase 3 IMPACT Trial“. General Poster Session, Genitourinary Cancer, teve impacto.

 

Vejam o que acontece quando Provenge é usada em níveis menos adiantados do câncer: quanto mais baixo o PSA, maior o efeito! Entre os pacientes (e o grupo controle) com PSA de 22,1 ou menos, o ganho mediano na sobrevivência da vida foi de 13, levando à conclusão de que entre os homens com cânceres menos adiantados o benefício é maior. O benefício cai para sete no grupo cujo PSA na origem era de PSA 22,1 a 50,1. No grupo com um PSA ainda mais alto, de PSA 50,1 a 134, o ganho é de 5,4. Finalmente, no grupo com o PSA mais alto, acima de 134, a diferença na sobrevivência mediana cai para 2,4. Esses dados não deixam dúvida sobre a conveniência de usar o Provenge mais cedo.  

 

Sobrevivência mediana, em casos com

 

PSA de 22,1 ou menos

PSA de 22,1 a 50,1

PSA de 50,1 a 134

PSA ≥ 134

Provenge

41,3 meses

27,1 meses

20,4 meses

18,4 meses

Placebo

28,3 meses

20,1 meses

15 meses

15,5 meses

Diferença

13 meses

7,1 meses

5,4 meses

2,8 meses

 

Quando o Provenge pode ser usado atualmente? A aprovação dada pela CMS foi para pacientes assintomáticos ou pouco sintomáticos, que já não respondem ao tratamento hormonal.

Não obstante, a pesquisa embora apresente resultados sugestivos, não tem como ser estatisticamente significativa em muitos intervalos pequenos porque o número de casos é relativamente pequeno. Há outras pesquisas propostas com outros alvos – o aumento do PSADT, o tempo até a volta do PSA (o fracasso bioquímico) e outros.

Na minha opinião, um dos grandes impedimentos da ampliação do uso do Provenge é o custo: o tratamento custa noventa mil dólares….

 

GLÁUCIO SOARES             IESP/UERJ 

COMENDO PELAS BEIRINHAS: SEPARANDO OS PACIENTES DE MUITO BAIXO RISCO

Uma pesquisa da Clínica Mayo ajuda a entender o atual debate sobre a questão de testar ou não testar sistematicamente a população masculina com o exame de PSA. Acompanharam o grupo, na mediana, durante 16,8 anos. Os homens que tinham PSA inferior a 1 ng/ml não desenvolveram canceres agressivos. Nenhum dos que tinham esse nível desenvolveu uma forma agressiva e perigosa do câncer, ainda que fossem relativamente jovens, com menos de 50 anos.

Christopher Weight informou a Sociedade Americana de Urologia que a incidência, com PSA’s nesse baixo nível, era <1% entre os com 55 e <3% entre os com 60 anos de idade.

Ou seja, uma só medida de PSA, se for o suficientemente baixa, parece garantir que poucos terão câncer e que esse câncer não causará preocupações porque não será agressivo.

O panorama muda se o PSA estive acima de 1 ng/ml. Olhando os dados resultantes das práticas americanas, concluíram que o risco de que fariam uma biópsia sob recomendação médica era alto. Esses homens devem repetir os testes de ano em ano. Mais prudentes do que o que está sendo proposto, recomendam que os homens de 40 anos com esses baixos níveis só voltem a ser testados aos 55.

Essa pesquisa começou em 1990, com amostra de homens entre 40 e 49 anos do condado de Olmsted, em Minnesota, e foram submetidos ao teste de PSA, toque retal, e um ultrassom através da uretra, quando entraram no programa e a cada dois anos depois disso. O resultado indica que poderiam ter esperado até os 55 para fazer novo teste.

Foram diagnosticados seis casos de câncer da próstata, uma taxa de incidência de 1,6 por mil pacientes/ano; porém se o PSA era igual ou superior a 1, doze pacientes desenvolveram o câncer – uma taxa de incidência de 8,3 por mil pacientes/ano.

Dois homens no grupo mais alto acabaram sendo diagnosticados com uma forma agressiva do câncer, em contraste com nenhum no grupo com PSA mais baixo. Mesmo assim, transcorreu muito tempo: na medida na 14,6 anos no grupo de baixo risco e 10,3 no grupo de mais alto risco.

Esses estudos ajudam a aliviar a pressão sobre aqueles que apresentam um resultado baixo, mas o grosso dos homens não apresenta PSAs tão baixos.

É por aí que, creio, a implementação de diretrizes progredirá: individualizar o risco por nível de PSA na origem, aliviando uma parcela relativamente pequena dos que tiverem um resultado baixo, recomendando novo teste apenas muitos anos depois, e os com PSAs muito altos, ao contrário, deveriam ser acompanhados frequentemente. Elimina dois grupos extremos, mas o grosso está no meio e, para eles, as diretrizes são menos claras.

Esses estudos permitem concluir que temos necessidade de testes mais exatos que seriam adicionados aos existentes, reduzindo muito os erros; porém também colocam a boca no trombone a respeito das terapias usadas, que, idealmente, deveriam ser substituídas por outras com menos efeitos colaterais.

GLÁUCIO SOARES               IESP/UERJ


Promissora combinação de terapias

Suzanne Elvidge escreveu um interessante resumo no qual argumenta que combinação de duas terapias anti-cancer é eficiente e produz melhores resultados do que o que os últimos medicamentos produziram: alguns (usualmente poucos) meses a mais na esperança de vida. A combinação de Prostvac, uma vacina que ainda está sendo estudada, com ipilimumab, um anticorpo monoclonal, aumenta os efeitos anti-câncer das duas aplicadas separadamente. As pesquisas estão no início.

É interessante que Prostvac é uma “vacina” baseada em um vírus (sendo desenvolvida pela Bavarian Nordic) e que ipilimumab seja usada com sucesso como um tratamento do melanoma adiantado, sob o nome comercial de Yervoy. É uma pesquisa em estado inicial: trinta homens receberam doses cada vez mais altas de ipilumumab e doses iguais de Prostvac. Os efeitos colaterais são conhecidos porque Ipilumumab está em uso há algum tempo.

Quais os resultados, quando aplicados a pacientes com câncer avançado? Metade dos pacientes tiveram baixas no PSA, alguns de mais de 50%! E a sobrevivência mediana foi perto de três anos. Ou seja: metade dos pacientes viveu mais de três anos e metade menos.

A sobreviência mediana dos trinta pacientes, 34,4 meses, é um avanço em relação aos ganhos mais limitados com os medicamentos desenvolvidos recentemente – com os quais estamos aprendendo muito, diga-se de passagem.

É um estudo pequeno, ainda na Fase I, mas que promete. As pesquisas com o Prostvac estão mais adiantadas, na Fase III (com muitos pacientes, grupo controle etc), que começou no fim do ano passado.

 

GLÁUCIO SOARES        IESP/UERJ

 


Pesquisas clínicas sobre o câncer. Como receber as informações em casa.

Participar de pesquisas clínicas é um dos recursos usados por pacientes  com cânceres avançados. Mas, onde encontrá-los? Como saber quais estão em curso e quais são planejados?
Há um blog com essas informações. Você pode se cadastrar (muito mais simples do que no Brasil) e receber as notícias como RSS ou no Facebook. Infelizmente, está tudo em Inglês, mas após o cadastramento você recebe as noticias no conforto do seu computador, em casa ou no trabalho.
Abaixo a URL e as instruções:

http://www.cancer-clinical-trials.com/2012/01/cancer-clinical-trials-how-to-follow.html?spref=fb

Não vacile. Há clinical trials que salvaram muitas vidas e continuarão a fazê-lo. Uma delas pode ser a sua, de um amigo, de um familiar.

Cancer Clinical Trials: how to follow our blog
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Esperança, sim; molécula milagrosa, não!

Uma pesquisa em andamento na University of Pennsylvania gerou entusiasmo, polêmica e apreensão na imprensa de divulgação médica. O relatório publicado nos Proceedings of the National Academy of Science por Zhang e sua equipe causou impacto. Infelizmente, como no caso da abiraterona, as análises não foram sóbrias e realistas. O MailOnline falou de supermolécula; em outros meios expressões como molécula maravilhosa etc. foram usadas para descrever o que Zhang pesquisou. Seria ótimo se fosse assim. Infelizmente, há uma grande diferença entre o ôba-ôba de parte da mídia e a realidade da ciência.

Qual a realidade? A molécula F77, um anticorpo, gruda na superfície das células de câncer da próstata, tanto as que são ainda dependentes de andrógenos quanto as que já não o são. Ela grudou nas células cancerosas em 97% dos casos em que o câncer em questão era da próstata e em 85% do tecido para o qual o câncer da próstata tinha metastizado. Isso torna a célula cancerosa mais fácil de atacar e destruir.

Qual o problema? Esses resultados foram obtidos com camundongos onde cânceres humanos da próstata foram criados artificialmente. Infelizmente, são poucos os remédios que passam dessa fase, da Fase II e chegam a clinical trials decisivos, Fase III. Uma estimativa, que cito sem convicção, é de que uma em cinco mil chega lá.

O potencial é, pelo menos, duplo: torna mais fácil identificar o câncer e o transforma num alvo à parte das células sãs.

Porém falta muito, muito. Um artigo estima em cinco anos, no mínimo, até chegar ao nível de clinical trials , Fase III. O mesmo artigo comenta que a ciência tem fracassado no desenvolvimento de anticorpos monoclonais dirigidos contra o câncer da próstata. Esse fracasso, ironicamente, é a maior promessa do F77. Se funcionar teremos uma linha de ataque para medicamentos que foram desenvolvidos para atacar as células do câncer da próstata, mas não conseguiam identificá-las,nem grudar nelas.

Qual a utilidade? De acordo com a OMS, meio milhão de pessoas morrem desse câncer no mundo todos os anos e, de acordo com essa pesquisa (não são dados dela), apenas 34% dos pacientes estão vivos cinco anos depois de constatada a metástase.

A população que seria beneficiada é muito grande e muitas vidas seriam salvas, mas o destino mais provável dessa pesquisa é que não se transforme sequer em medicamento. Repetindo, a grande maioria não atinge esse estágio.

Por Gláucio Soares, baseado em vários artigos recentes.

Possível clinical trial – tratamento experimental


Há uma pesquisa experimental chamada de Affirm Prostate Cancer Clinical Trial. Ela se limita a pessoas que


  • têm câncer avançado da próstata
  • Já receberam químio usando docetaxel (Taxotere®)
  • A despeito dos tratamentos, o câncer voltou a avançar.


O que fazer? Chamar 1-888-782-3256 nos Estados Unidos e no Canadá e se informar, mas chame somente se sua condição preenche os requisitos acima. Não adianta tentar “enganar”.

Talvez requeira transferir residência para os Estados Unidos ou Canadá.

Boa sorte.

A consulta com o Dr. Meyers

A van, Ford 1993, equipada para acampar é confortável e agradável. É fácil de dirigir, exceto inicialmente, nos momentos em que tive que dar marcha à ré.
Entre a beleza do inverno e a preocupação da almaAs estradas pequenas, no inverno são bonitas. Infelizmente, a comida de beira de estrada é…a comida de beira de estrada. O estomago e o intestino sofrem durante a viagem e a dieta vai para o brejo.</span>
O estado de espírito de quem tem uma doença incurável e está indo a um médico deve variar muito. Eu consegui curtir parcialmente a viagem, mas ia com esperança. Na clínica, durante todo o tempo que passei lá (umas três horas) vi apenas um ou dois pacientes. Já deu para ver o grau de apreensão em um deles, fiel e importantemente acompanhado pela esposa ou companheira.
Mas não dá para para não curtir (um pouquinho, pelo menos) o visual de estradas pequenas, cercadas de árvores, no meio da neve.

Estrada e mais estrada

A chegada mostra uma casinha simpática, simples, com estacionamento para poucos carros. Não é uma operação industrial. Feita, como tantas casas (e universidades) americanas, de tijolinho aparente.


A chegada é marcada por uma placa simples. Depois de quase três dias na van (rebatizada de school bus) pelo meu filho, foi um alívio chegar ao lugar certo.

As estradas pequenas são mais bonitas

Aqui dentro vi um tipo de atendimento ao paciente muito diferente do usado nos Estados Unidos onde somos primeiro recebidos por uma enfermeira, que pesa, tira a pressão, temperatura etcx. Um primeiro e importante cuidado – a pressão é tirada duas vezes, além do que a enfermeira pergunta se essa é a pressão habitual. Ela mostra consciência da chamada “white coat syndrome”: a pressão aumenta na presença de médicos etc. Estava lá por 180, na segunda por 160 e eu aduzi que poderia reduzí-la em outros vinte pontos.
Visitei o AIDP no dia anterior, turbinado pela insegurança de não me perder, chegar atrazado, essas coisas. Uma das secretárias estava preparando o meu dossier. Quando cheguei no dia seguinte vi um senhor baixo, sem gordura para mostrar, de cabelos brancos estudando uns records que eu sabia serem os meus.

Perto, estradas menores, mais curvas e mais beleza

O Dr. Meyers é simpático, agradável. Me tratou com o respeito de quem tem uma doença grave, considerada incurável, que ele também teve ou tem.
Muitos dos suplementos que eu usava ele desaconselhou porque não confiava no fabricante. Traçou um plano de ação que consistia em me preparar para uma terapia hormonal(que deveria ser chamada de anti-hormonal) porque ela tem muitos efeitos colaterais. Há uma diferença em relação ao procedimento habitual, que consiste em iniciar a terapia e aconselhar o paciente a tomar essas e aquelas medidas: ela prepara o paciente e depois inicia a terapia – nos casos em que é possível esperar um pouco. É onde estou e é minha responsabilidade atingir as metas marcadas, ajudado por muitos remédios, mas com compromisso com uma dieta mediterrânea e muito exercício.

O AIDP - uma casinha desprentensiosa com estacionamento para poucos carros

Dr. Meyers me convenceu de algumas coisas, particularmente de que a relação custo/benefício da terapia hormonal pode ser menor e precisa de especificação. A duração do efeito dos tratamentos varia muito e varia de acordo com a doença do paciente e os procedimentos adotados anteriormente.
Os famosos 18 meses de atuação se referem com a próstata, metástase generalizada e que ainda tem a próstata. Análise patológica mostra que metade do crescimento do câncer depois da terapia se inicia na próstata. Nos casos em que houve metástase para os nódulos linfáticos e houve prostatectomia o efeito dura dez anos em 50% a 95% dos casos, dependendo do estudo e da publicação. No caso dos que preservaram a próstata em metade dos casos a terapia hormonal fracassa aos 7-8 anos.
Nos pacientes com metástase generalizada e com sintomas, o efeito é reduzido: em metade dos casos a doença volta a crescer em 8 a 9 meses.
A lição: dependendo do paciente, a duração dos benefícios da terapia hormonal varia de menos de oito a nove meses a mais de dez anos.
Continuarei relatando essa experiência para beneficiar o leitor. Porém, estou preocupado com um grande número de  leitores com acesso à internet mas sem capacidade analítica e com um nível educacional muito baixo. Pediria a cada um dos pacientes mais informados e seus familiares que divulgassem o conhecimento que adquiriram (rão) aqui e em outras fontes entre os que não conseguem entender o que escrevemos.

A placa que garante que chegamos ao lugar certo

Ir ao Dr. Meyers não sai barato. Ele não aceita o seguro tradicional do Medicare (tem um contrato de não aceitação) e custa 350 dólares por cada meia hora. Minha entrevista durou duas horas e o custo total foi de mil e quatrocentos dólares. Uma viagem que eu planejava foi para o espaço. Valeu a pena.


Vacina anti-câncer da Universidade de Iowa

Mais uma “vacina” que estimula o sistema imune a identificar e destruir as células cancerosas, desta vez elaborada por pesquisadores da University of Iowa. Usa um adenovirus/PSA (Ad/PSA). Como outras que estão sendo desenvolvidas, objetiva melhorar a qualidade da vida e aumentar a sobrevivência de pacientes com cânceres avançados, já com metástase. O gene do PSA é enxertado em viruses e bactérias.

Já haviam demonstrado que funcionava bem com camundongos. Agora passaram aos “clinical trials” (Fase I), com pacientes com cânceres agressivos, D2 ou D3, (idade mediana 71, PSA mediano 128 ng/ml). Para verificar qual a dose ótima e qual a dose máxima usaram três grupos com três dosagens diferentes. Os pacientes foram acompanhados com exames físicos e clínicos em 2 e 3 semanas e em 2, 4, 8 e 12 meses. Metade dos pacientes foi acompanhada por menos de 12 meses e metade por mais. A sobrevivência mediana foi de 18 meses.

Os resultados tem algumas semelhanças com pesquisas anteriores: nem todos desenvolvem uma reação. Quarenta e dois por cento reagiram e produziram anticorpos anti-PSA; 71% desenvolveram respostas anti-PSA por parte das células T.

Cinqüenta e sete por cento sobreviveram mais do que o esperado; em 48% o PSADT aumentou. Um paciente sobreviveu quase seis anos.

A expectativa de vida desse grupo era muito baixa. Essa “vacina”, que ainda está sendo desenvolvida, apresentou padrões semelhantes a outras, no sentido de que uns respondem e outros não. Eliminar o que impede que alguns respondam é uma das próximas tarefas; identificar o porquê dos que respondem e ampliar as respostas é outra.

Ninguém sabe se essa pesquisa beneficiará algum de nós, leitores. Mas os resultados são promissores e é possível que os pesquisadores já estejam planejando testes melhores e maiores.
Fonte: Lubaroff DM, Konety BR, Link BK, Ratliff TL, Madsen T, Williams R: Outcomes from a phase I trial of an adenovirus/PSA vaccine for prostate cancer. J Urol, suppl., 2008; 179: 184, abstract 526.

Promessas importantes vindas da Chinese University de Hong Kong

Nova esperança para pacientes de câncer de próstata


Pesquisadores chineses afirmam terem feito importante descoberta na luta contra o câncer de próstata.

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A notícia é recente, de 9 de junho de 2007

Pesquisadores da Chinese University de Hong Kong, dos departamentos de anatomia e cirurgia afirmam terem descoberto uma nova via de sinalização entre células que pode ser a chave para o crescimento acelerado e desordenado das células cancerosas De acordo com eles a conseqüência mais importante é suprimir o crescimento das células, oferecendo uma nova e promissora estratégia de cura. A pesquisa foi iniciada há cinco anos e os primeiros resultados publicados na Cancer Research

Anualmente, perto de 700 mil novos casos de câncer de próstata são diagnosticados, o que coloca em relevo a importância numérica de uma cura.

O Professor Franky Chan Leung afirmou que descobriram um subtipo de expressão que pode ser acelerado seja usando uma droga específica para o sub-tipo, chamada DY131, ou usando um virus que carregue o DNA que suprime o crescimento de duas camadas de células cancerosas.

Os próximos passos são testes com ratos para ver se, efetivamente, o câncer é reduzido, desacelerado ou eliminado e, caso os resultados sejam positivos, após essa etapa, testes com seres humanos, os chamados clinical trials

http://www.thestandard.com.hk/news_detail.asp?pp_cat=11&art_id=46419&sid=13985333&con_type=1

The Standard – China’s Business Newspaper

Outros pôsteres com notícias relacionadas podem ser lidas clicando em cima de seus títulos:
Bruce Tower e Provenge
http://psacontrol.blogspot.com/2007/04/bruce-tower-e-provenge.html
Provenge (a “vacina”) passa mais um teste
http://psacontrol.blogspot.com/2007/04/provenge-vacina-passa-mais-um-teste.html
A genética do governador do Texas e o câncer
http://psacontrol.blogspot.com/2007/02/gentica-do-governador-do-texas-e-o.html
J591 e a angiogênese (não tenha medo de ler)
http://psacontrol.blogspot.com/2007/02/j591-e-angiognese-no-tenha-medo-de-ler.html
Vacina para pacientes com câncer muito avançado
http://psacontrol.blogspot.com/2006/10/vacina-para-pacientes-com-cncer-muito.html
Mais uma “vacina” sendo tentada
http://psacontrol.blogspot.com/2006/02/mais-uma-vacina-sendo-tentada.html

Até camelos participam da luta contra o câncer

Em Dubai, uma empresa veterinária, a Central Veterinary Research Laboratory (CVRL) convocou os camelos para ajudar na luta contra o câncer. Os camelos produzem anticorpos muito pequenos, segundo Ulrich Wernery, que é Diretor Científico da CVRL. Seriam 40 vezes menores do que os convencionalmente usados, o que facilitaria sua penetração em tecidos. Os camelos são injetados seis vezes com tecidos cancerosos e produzem anticorpos (o procedimento é semelhante ao da fabricação original de soro anti-ofídico usado no Butantã). Pretendem usar os anticorpos como marcadores de câncer de próstata. Os anticorpos seriam misturados com sangue de pacientes: se houver aglutinação depois da mistura, há câncer. Os anticorpos estariam se fixando nas células cancerosas.

Para tratamento, os anticorpos (que buscam as células cancerosas) passam a incluir drogas anti-câncer. Como eles buscam as células cancerosas, levam as drogas para elas, matando-as.

Nessa guerra contra o câncer, vale tudo.