CANCEROSOS ESCALAM O KILIMANJARO

Há um grupo cujo objetivo é mostrar que os cancerosos podem ter uma vida normal, inclusive realizando algumas proezas. Esse grupo se chama Above + Beyond Cancer e se dedica a escalar montanhas difíceis – possíveis, não só para profissionais, mas difíceis para o cidadão comum. Ainda mais para um canceroso, pensará o leitor…
Pois o objetivo desse grupo é demonstrar que cancerosos e sobreviventes do câncer podem ter vidas normais e fazer coisas surpreendentes.
Como escalar o monte  Kilimanjaro, o mais alto da África……
Foram 19, inclusive Gail Endres, diagnosticado com câncer da próstata, tratado e sem fracasso bioquímico desde 2006. Não há garantia de que esteja curado, porque às vezes o PSA “volta” depois de dez, quinze anos…
O grupo foi bolado por um oncólogo com sensibilidade humana, Richard Deming. O nome, Above + Beyond Cancer, indica o propósito e o meio.
A idade desse grupo de alpinistas amadores e cancerosos variava entre 29 e 73. Incluía pacientes do câncer da próstata, da tireóide, da mama, das glândulas salivares, da leucemia, de linfomas… Alguns há anos não apresentam sintomas e outros estão em pleno tratamento para cânceres que já não podem ser curados.  
Profissionalmente, dá de tudo: um tocador de viola, um militar, um estudante, um padre, a mulher de um fazendeiro e muito mais.
No início não sabiam se conseguiriam ou não subir o  Kilimanjaro, mas sabiam que iam tentar para valer. Sabiam, também, que os resultados benéficos dessa tentativa marcaria suas vidas – e sua luta contra o câncer. 
Chegaram na África dia 2 de janeiro e mergulharam na cultura local. Nada de ser turistas, de ver a África através de telescópio. Visitaram a cidade de Moshi, um vilarejo e se mandaram para a montanha.

O Kilimanjaro é um vulcão adormecido: como outros, pode voltar à vida, mas essas voltas usualmente dão aviso prévio. Partiram da base, ainda semi-tropical, de pouco mais de dois quilômetros. A altura do monte é, arredondando, seis quilômetros. Os excursionistas viram e sentiram as mudanças na flora e na fauna que acompanham as mudanças de altitude. Começaram numa floresta tropical, mas logo estavam numa região rochosa, onde viam o legado de erupções antigas. Continuaram pela trilha que leva até a cratera. Passaram por tudo: regiões desérticas e, no topo, neve. Todos sentiam o cansaço que caracteriza a diminuição do suprimento de oxigênio na altura e vários sentiam dores, tinham bolhas, calos, dores nas costas e tudo o mais. Sem falar nos vômitos, náuseas e diarréias. Mas o grupo estimulava a seguir adiante, como deve acontecer na vida de todos nós, cancerosos. E, claro, não havia banheiro nem chuveiro…
Aguente, Raimundo!
Um saudável espírito coletivista surgiu e quem tinha papel higiênico dividiu, quem tinha band-aid dividiu e assim por diante. As necessidades ficaram no Kilimanjaro e banho, bem, melhor esquecer. Todo mundo fedia a suor seco e tinha bafo de tigre. 
Mas era um grupo coeso, que se ajudava, como a humanidade deveria fazer. 
O que surpreendeu a todos foi a solidariedade instantânea que sentiram uns em relação aos outros. O câncer, essa tremenda adversidade, os uniu. Na minha leitura, Deus colocou esse potencial dentro de todos nós, mas foi preciso um câncer e uma escalada para que essas pessoas o descobrissem. E todos mudaram…
O esforço que pessoas que estavam fazendo tratamento, tinham passado recentemente pela debilitante quimioterapia, era gigantesco. Mas todos sabiam que era um passo de cada vez e cada passo exigia sacrifícios. Mesmo que tenham sido um milhão de passos, cada passo era o primeiro, sem pensar nos que viriam depois.
A história de cada um deles é uma história de superação. Foram seis dias duros, duríssimos, até que esse grupo de cancerosos chegasse ao tôpo do Kilimanjaro; chegaram, o que a grande maioria dos não-cancerosos não fez!
Todos temos nosso Kilimanjaro para escalar. Deus nos deu condições para fazê-lo. Vamos lá?
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

Abiraterona em casos extremos: quase quinze meses de sobrevivência

A abiraterona continua sendo testada. Na ESMO, em Milão, seus produtores mostraram resultados positivos. O tempo de vida ganho com o tratamento está diminuindo, mas se sabe mais e mais a respeito.

A pesquisa – Fase III – foi feita com pacientes muito, muito adiantados, que já tinham sido tratados com quimioterapia, à qual não respondiam mais. Um grupo recebeu prednisona mais um placebo e o outro recebeu prednisona e abiraterona. A diferença na sobrevivência média entre os dois grupos foi de quatro meses. No grupo controle, a mediana da sobrevivência foi de 10,9 meses e no experimental (prednisona mais abiraterona) foi de 14,8 meses. Isso significa que, no grupo controle, metade dos pacientes sobreviveu mais de 10,9 meses e metade sobreviveu menos. No grupo experimental (prednisona mais abiraterona) metade sobreviveu mais de 14,8 meses.


Uma característica interessante é que muitos pacientes não foram ajudados pela abiraterona, criando a pergunta de quem, suas características e porquê. As medianas sendo o que são, estamos convictos de que há pacientes que sobreviveram três anos ou mais.

Qual o custo, para os demais, de uns meses de vida a mais?

Não são noticias e posturas agradáveis para nós idosos e cancerosos. Não obstante, tenho que divulgá-las e temos que pensar a respeito.
Peter Bach, do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova Iorque acaba de revelar que entre 1990 e 2008 os custos de tratar os cânceres aumentaram de 27 para 90 bilhões de dólares. É um crescimento insustentável. Isso, nos Estados Unidos.
O que o provocou? Mudanças nos tratamentos, em boa parte. Novas técnicas e novos medicamentos são caros. As patentes exclusivas, enquanto duram, garantem um mercado cativo para os fabricantes, que calculam quanto podem cobrar a partir da maximização dos lucros e não dos benefícios e das curas. Esses novos medicamentos, novas técnicas cirúrgicas, inclusive as robóticas, novas técnicas de radiação, aumentaram muito os custos e aumentaram algo, talvez não tanto, os benefícios e as chances de cura.
Em alguns casos, aumentou o número e tipo de pacientes que poderiam ser beneficiados. Pacientes idosos e enfraquecidos que não poderiam suportar algumas das técnicas e medicamentos mais antigos foram os principais beneficiados. As cirurgias ficaram mais exatas, menos radicais; as radioterapias ficaram mais bem guiadas, atingindo mais tumores e menos áreas vizinhas. O mesmo vale para a químio: alguns usos ficaram mais toleráveis e outras drogas que reduzem os efeitos colaterais possibilitaram o tratamento quimioterápico a pacientes antes excluídos. Por exemplo: entre 1991 e 2002, a proporção das pacientes com câncer de mama que usavam químio dobrou, assim como o custo de (e/ou para) cada paciente, atingindo perto de 12 mil dólares.
O envelhecimento da população (e o crescimento das custosas doenças degenerativas) faz com que os países gastem mais e mais com a saúde dos idosos. Em muitos países, parte dos custos é distribuída pelo tempo e de forma privada, através de seguros de saúde de longo prazo, muitos deles institucionais – parcial ou totalmente mantidos por empresas.
No Brasil, a Constituição determinou que a saúde é direito do cidadão e obrigação do estado. Sem limitações. Através de ações judiciais, o acesso a tratamentos caríssimos, de ponta, é obtido e pago pelo estado. Mas, quem realmente recebe o benefício? Quem pode pagar um advogado. E quem, realmente, paga por isso? Os que não têm acesso a advogados. Os pobres. Os excluídos, que ficam mais excluídos. O cacoete estatista do legislador brasileiro esqueceu de que alguém tem que pagar a conta. E o que observamos foi uma mudança na composição dos gastos na saúde, com os tratamentos extremos, cada vez mais caros e pesados, ocupando uma fatia cada vez maior, e o tratamento de “doenças de pobre” e a prevenção perdendo espaço. Os gastos derivados de ações judiciais somente com a aquisição de medicamentos estão explodindo: em 2005 foram R$ 2,5 milhões, em 2006 quase triplicaram, para R$ 7 milhões, dobrando em 2007, para  R$ 15 milhões. Em 2008, somente de Janeiro a Julho, foram R$ 48 milhões, dezenove vezes mais do que em todo o ano de 2005.
Porém, os mais prejudicados são os estados, alguns dos quais gastam perto de dez por cento do orçamento com ações judiciais. São Paulo gasta cerca de 32 milhões de reais mensalmente com essa rubrica, e o Rio Grande do Sul cerca de sete milhões. Boa parte desses gastos se refere a medicamentos ou procedimentos que não são parte dos normalmente oferecidos pelo SUS; no caso de cânceres são tratamentos recém lançados no mercado, vários dos quais não são curativos e somente aumentam a sobrevivência, usualmente por pouco tempo. Evidentemente, esse recurso judicial tem um forte viés de classe, pois poucos são os pobres que têm  conhecimento da sua existência e, por definição, nenhum tem como pagar um advogado do próprio bolso.
Para garantir alguns meses a mais de vida para nós, cancerosos, sacrificamos vários anos de vida de populações mais jovens e mais pobres, que deveriam ser as principais beneficiadas pela saúde pública num sistema preocupado com a justiça social. Muitos dos que usam os tratamentos caros poderiam pagar o custo, em parte ou no todo, do próprio bolso.
Não é justo.

Escrito por Gláucio Soares
Publicado no Correio Braziliense

A consulta com o Dr. Meyers

A van, Ford 1993, equipada para acampar é confortável e agradável. É fácil de dirigir, exceto inicialmente, nos momentos em que tive que dar marcha à ré.
Entre a beleza do inverno e a preocupação da almaAs estradas pequenas, no inverno são bonitas. Infelizmente, a comida de beira de estrada é…a comida de beira de estrada. O estomago e o intestino sofrem durante a viagem e a dieta vai para o brejo.</span>
O estado de espírito de quem tem uma doença incurável e está indo a um médico deve variar muito. Eu consegui curtir parcialmente a viagem, mas ia com esperança. Na clínica, durante todo o tempo que passei lá (umas três horas) vi apenas um ou dois pacientes. Já deu para ver o grau de apreensão em um deles, fiel e importantemente acompanhado pela esposa ou companheira.
Mas não dá para para não curtir (um pouquinho, pelo menos) o visual de estradas pequenas, cercadas de árvores, no meio da neve.

Estrada e mais estrada

A chegada mostra uma casinha simpática, simples, com estacionamento para poucos carros. Não é uma operação industrial. Feita, como tantas casas (e universidades) americanas, de tijolinho aparente.


A chegada é marcada por uma placa simples. Depois de quase três dias na van (rebatizada de school bus) pelo meu filho, foi um alívio chegar ao lugar certo.

As estradas pequenas são mais bonitas

Aqui dentro vi um tipo de atendimento ao paciente muito diferente do usado nos Estados Unidos onde somos primeiro recebidos por uma enfermeira, que pesa, tira a pressão, temperatura etcx. Um primeiro e importante cuidado – a pressão é tirada duas vezes, além do que a enfermeira pergunta se essa é a pressão habitual. Ela mostra consciência da chamada “white coat syndrome”: a pressão aumenta na presença de médicos etc. Estava lá por 180, na segunda por 160 e eu aduzi que poderia reduzí-la em outros vinte pontos.
Visitei o AIDP no dia anterior, turbinado pela insegurança de não me perder, chegar atrazado, essas coisas. Uma das secretárias estava preparando o meu dossier. Quando cheguei no dia seguinte vi um senhor baixo, sem gordura para mostrar, de cabelos brancos estudando uns records que eu sabia serem os meus.

Perto, estradas menores, mais curvas e mais beleza

O Dr. Meyers é simpático, agradável. Me tratou com o respeito de quem tem uma doença grave, considerada incurável, que ele também teve ou tem.
Muitos dos suplementos que eu usava ele desaconselhou porque não confiava no fabricante. Traçou um plano de ação que consistia em me preparar para uma terapia hormonal(que deveria ser chamada de anti-hormonal) porque ela tem muitos efeitos colaterais. Há uma diferença em relação ao procedimento habitual, que consiste em iniciar a terapia e aconselhar o paciente a tomar essas e aquelas medidas: ela prepara o paciente e depois inicia a terapia – nos casos em que é possível esperar um pouco. É onde estou e é minha responsabilidade atingir as metas marcadas, ajudado por muitos remédios, mas com compromisso com uma dieta mediterrânea e muito exercício.

O AIDP - uma casinha desprentensiosa com estacionamento para poucos carros

Dr. Meyers me convenceu de algumas coisas, particularmente de que a relação custo/benefício da terapia hormonal pode ser menor e precisa de especificação. A duração do efeito dos tratamentos varia muito e varia de acordo com a doença do paciente e os procedimentos adotados anteriormente.
Os famosos 18 meses de atuação se referem com a próstata, metástase generalizada e que ainda tem a próstata. Análise patológica mostra que metade do crescimento do câncer depois da terapia se inicia na próstata. Nos casos em que houve metástase para os nódulos linfáticos e houve prostatectomia o efeito dura dez anos em 50% a 95% dos casos, dependendo do estudo e da publicação. No caso dos que preservaram a próstata em metade dos casos a terapia hormonal fracassa aos 7-8 anos.
Nos pacientes com metástase generalizada e com sintomas, o efeito é reduzido: em metade dos casos a doença volta a crescer em 8 a 9 meses.
A lição: dependendo do paciente, a duração dos benefícios da terapia hormonal varia de menos de oito a nove meses a mais de dez anos.
Continuarei relatando essa experiência para beneficiar o leitor. Porém, estou preocupado com um grande número de  leitores com acesso à internet mas sem capacidade analítica e com um nível educacional muito baixo. Pediria a cada um dos pacientes mais informados e seus familiares que divulgassem o conhecimento que adquiriram (rão) aqui e em outras fontes entre os que não conseguem entender o que escrevemos.

A placa que garante que chegamos ao lugar certo

Ir ao Dr. Meyers não sai barato. Ele não aceita o seguro tradicional do Medicare (tem um contrato de não aceitação) e custa 350 dólares por cada meia hora. Minha entrevista durou duas horas e o custo total foi de mil e quatrocentos dólares. Uma viagem que eu planejava foi para o espaço. Valeu a pena.


Palestra sobre a cirurgia do câncer da próstata pela internet

Está disponível pela internet uma palestra acompanhada de slides Powerpoint de Peter Scardino, um dos expoentes na área do câncer da próstata. Está em Inglês, mas vale a pena o esforço…Clique em

http://www.urotoday.com/media/presentations/auany2009/scardino_long_term_outcomes_11_10_2009/player.html

 

A importância do tempo até a “volta do PSA” (fracasso ou recorrência bioquímica)

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Claro que a volta do PSA aumenta uma série de riscos em comparação com as pessoas com o PSA indetectável. A pergunta que os pesquisadores tentaram responder é se o tempo até o PSA reaparecer tem algum impacto no risco de metástase e de morte.

Amostra: todos os pacientes receberam prostatectomia radical entre 1989 e 2003. A data da cirurgia nos Estados Unidos, passou a entrar nos prognósticos depois que se descobriu que as mais antigas tinham piores resultados. A volta do PSA foi definida a partir de 0.2 ng/ml. Os que fizeram terapias adjuvantes (hormonal ou químio) ficaram de fora.

Duzentos pacientes com uma idade média de 60,2 anos entraram na pesquisa e foram acompanhados durante quase dez anos, na mediana, sendo que um mínimo de cinco era exigido. Eram heterogêneos, uma desvantagem. 74% estavam no estágio igual ou menor do que T1c, o Gleason da biópsia era igual ou inferior a 6 em 64% dos casos (meu caso) , havia extensão para fora da cápsula prostática em 56% das  amostras; metade dos pacientes receberam tratamento hormonal antes da metástase e 32% receberam a radioterapia “de salvação”que deveria ser chamada de último recurso. E o PSA? O PSA era igual ou maior do que 10 em 70% dos casos. O número limitado de pacientes não permitia o cruzamento simultâneo de todas essas variáveis. Nessa população reduzida  a análise univariata não associou muitos fatores com o risco de morte.

O tempo até a volta do PSA tem um efeito maroto sobre a probabilidade de morte: se o PSA reaparecia durante o primeiro ano, aumentava o risco de desenvolver metástases em 36%. Se tem que voltar, é melhor voltar mais tarde. Muito interessante (e bom) é o fato de que na metade dos pacientes que fizeram tratamento hormonal antes da metástase, somente 15%  dos pacientes com a volta do PSA depois da prostatectomia desenvolveram metástases, o que fala a favor da terapia hormonal.

Mesmo nessa população de alto risco, a mortalidade geral, de todas as causas, foi de 5% no período e a mortalidade específica devida ao câncer da próstata foi de apenas 1,5%. Claro, com a continuação do acompanhamento, mais pacientes morrerão tanto de mortalidade geral como de mortalidade específica,

As melhorias no tratamento dos cânceres

As pequenas melhorias não entusiasmam tanto quanto as grandes, ainda que salvem mais vidas, assim como os riscos do quotidiano provocam menos medo do que os acontecimentos que acontecem pouco mas matam muitos, como Chernobyl. Em pouco tempo, os mortos no trânsito superaram em número os mortos em Chernobyl.

O câncer é parecido. A abiraterona apareceu muito na media porque prometia a cura (de fato, não é cura, longe disso), mas poucos se impressionam com o fato de que, cada ano mais pessoas são salvas e menos morrem de câncer. Um artigo por Steve Buttry argumenta ao longo desse raciocínio, que não é novo.

Não obstante, houve muito progresso. Ele relata que em meados da década de 70 a mãe da sua esposa e o pai dele descobriram que tinham câncer. Nas décadas de 60 e 70 o grande público acreditava que câncer era sinônimo de morte. De fato, parecia. O pai de Steve foi diagnosticado com câncer da próstata e morreu em um ano; a sogra de Steve foi diagnosticada com câncer no cólon e morreu em três. Hoje, a expectativa de vida das pessoas que são diagnosticadas com esses cânceres é muito, muito maior. O proprio Steve enfrentou um câncer do colon, fez cirurgia e já se passaram dez anos. Ficou atento e, por isso, fez outra para retirar pólipos.
O câncer tem uma dimensão genética e o irmão de Steve também teve câncer na prostata. Porém, as coisas mudaram desde as décadas de 60 e 70: hoje 98% dos pacientes que sofrem desse câncer estão vivinhos cinco anos depois do diagnóstico. O câncer do cólon, antes considerado letalíssimo, também apresentou melhoras na sobrevivência: 64% estão vivos cinco anos depois do diagnóstico. Se fôr diagnosticado antes da metástase, a percentagem sobe para 90%.
Câncer é uma barra: nos Estados Unidos matará, esse ano, entre quinhentas e seiscentas mil pessoas. Porém, mais gente sobrevive ao câncer do que morre dele. A American Cancer Society calcula que haja onze milhões de americanos que tiveram câncer e não morreram. O progresso é muito desigual e alguns cânceres, como o do pâncreas e um dos cânceres do cérebro, o glioblastoma, por exemplo, continuam sendo de altíssima letalidade. Mas a direção é clara: maior sobrevivência.

uM HOMEM QUE DEVERIA ESTAR MORTO

Li, numa publicação de Oregon, chamada The Register-Guard, a estória de Jack Walker. Segundo o autor, ele deveria estar morto. Há dois anos ele foi diagnosticado com um câncer da próstata muito agressivo e já metastizado. Mesmo depois de iniciar a radioterapia o PSA estava na casa dos quatrocentos (400)… E continuava crescendo. O prognóstico era de morte em um ano ou menos e seria um ano muito difícil, podendo ser doloroso. Foi o que ele ouviu do oncólogo. Nos Estados Unidos, os médicos são obrigados por lei a dar o diagnóstico e prognóstico diretamente ao paciente, sem dourar a pílula. Perguntou, porém, se Jack queria entrar num experimento como cobaia, por assim dizer. O experimento era uma tentativa inicial com um medicamento, chamado AT 101. Além disso, faria a quimioterapia padrão, com Taxotere. Jack topou: não tinha nada a perder e, mesmo morrendo, ajudaria a ciência e o conhecimento, eventualmente até outros pacientes.
O experimento tinha um grupo controle, que só recebia quimioterapia, e o experimental, que recebia quimioterapia mais o medicamento novo sendo testado.
Deu certo. Há seis meses Jack recebeu sua última dose e o PSA anda em 8 (lembrem que era mais de 400).
Evidente que não se sabe quanto tempo durará a remissão do câncer, mas Jack já ganhou muito tempo de vida.
Lendo essa estória me dei conta de outra coisa. Há alguns anos, pacientes como Jack teriam que sair da sua cidade, Eugene, que não é um centro médico de fama mundial, para participar de um experimento, de um clinical trial. Não obstante, agora os pacientes do Willamette Valley Cancer Institute and Research Center podem participar deles e continuar vivendo na sua cidade. É a vantagem de ter um médico de ponta, ativo, na equipe do hospital. No caso, se trata de John Caton, que mudou para lá há três anos. Caton está a par dos experimentos e entra em contato com os pesquisadores, obtendo permissão para que seus pacientes participem deles. Hoje, os médicos do Centro tem pacientes participando em mais de trinta experimentos. Com a ida de Caton, o número de pacientes participando em clinical trials foi multiplicado por três.
Quando, neste blog, enfatizo a qualidade dos médicos e dos hospitais como um dos fatores que contam para decidir se você vai viver menos de um ano ou muitos anos, tenho em mente casos semelhantes. Infelizmente, no Brasil, são poucos os médicos que conseguem sair da rotina hospitalar, estudar, participar de pesquisas, obter vagas para seus pacientes sem esperança em experimentos. Não tem que ser assim. Mesmo em paises do Terceiro Mundo, há médicos e hospitais participando ativamente do que acontece nos principais centros mundiais.

Um vírus torna o câncer visível

Um vírus do resfriado foi modificado geneticamente para não provocar o resfriado, por um lado, e mostrar onde há células de câncer de próstata, pelo outro. Essa linha de pesquisa quer possibilitar terapias baseadas em equipamento visual, com imagens, como os raios X, as tomografias computarizadas, os MRI’s, PET’s etc.
Para conseguir resultados, os tratamentos localizados (como diferentes dos sistêmicos) precisam saber onde há células cancerosas para atacá-las, idealmente antes que elas se espalhem (metástases). A Dra. Lily Wu, da UCLA, usou técnicas visuais com base nas moléculas. É um procedimento precursor de tratamentos baseados diretamente nas células. A tecnologia visual existente não consegue identificar colônias celulares mínimas, nem algumas metástases para os nódulos linfáticos. Os vírus modificados só atacam células de câncer de próstata. Após se instalarem nas células, os vírus estimulam as células a produzir uma proteína que aparecem quando escaneadas com equipamento PET (positron emission tomography). Com isso se localiza o câncer que pode ser bombardeado de várias maneiras.
O vírus gosta dos nódulos linfáticos, o que aumenta sua utilidade para os casos em que o câncer se espalhou para eles. Como muitos cânceres vão para lá primeiro, e para outros destinos depois, é uma chance a mais de pará-los cedo. Os pesquisadores injetaram o vírus em camundongos com câncer de próstata. Após esse procedimento, os cânceres apareceram nos exames PET. Agora estão trabalhando em medicamentos tóxicos para as células cancerosas. Os próximos testes serão com cães e, depois, com um número limitado de pacientes (em 2-3 anos).
Nunca é demais lembrar que o câncer de próstata mata perto de um quarto de milhão de pessoas todos os anos.
O artigo foi publicado em Nature Medicine.

A hora e a vez do Sagopilone?

Uma nova quimioterapia que talvez compita e talvez complete o docetaxel.
Houve um teste clinico capitaneado pelo Oregon Health & Science University Cancer Institute. Todos os pacientes tinham cânceres avançados que não respondiam ao tratamento hormonal e que tinham metástases. É um dos estágios mais avançados da doença. Os resultados serão formalmente apresentados hoje, dia 31 de maio de 2008.
Trinta e sete pacientes receberam Sagopilone juntamente com a prednisona e acompanhados durante apenas três meses. Treze dos trinta e sete tiveram uma redução do PSA de mais de 50% – um indicador de que estão respondendo bem ao tratamento; outros 23 tiveram uma redução de, pelo menos, 30%. Um, no qual o câncer aparecia nas radiografias, teve uma excelente resposta completa – o câncer sumiu da radiografia.
Sagopilone é um medicamento inteiramente sintético, cujo efeito é evitar o crescimento do câncer, o mesmo que o docetaxel, que em quatro anos passou a ser uma terapia padrão. Porém, nem todos os pacientes respondem ao Docetaxel,que não tem a pretensão de ser uma cura. O Dr. Beer, pesquisador responsável, busca aumentar a sobrevivência dos pacientes e tem esperança de encontrar uma cura. Afinal de contas, a químioterapia cura alguns tipos de câncer. A equipe vai continuar testando diferentes medicamentos.
Para que tenham em mente qual é a velocidade com que as pesquisas são feitas e se incorporam aos tratamentos padronizados, foi em 13 de outubro de 2004 que foram divulgados os resultados com o Docetaxel.

O teste foi feito com pacientes do Prostate Cancer Clinical Trials Consortium, e de algumas instituições nos Estados Unidos e na Argentina. Olhem a lista:

Blair Medical Associates, Altoona, Penn.; Portland Veterans Affairs Medical Center Billings Clinic, Billings, Mont.; Gabrail Cancer Center, Canton, Ohio; University of Nebraska Medical Center; University of Maryland Medical Center, Baltimore, Md.; Pacific Coast Hematology/Oncology Medical group, Fountain Valley, Calif.; Madigan Army Medical Center, Tacoma, Wash.; Veterans Affairs Puget Sound, Seattle, Wash.; John Peter Smith Center for Cancer care, Farmington, N.M.; Eastchester Center for Cancer Care., Bronx, N.Y.; University of Michigan Health System, An Arbor, Mich.; Florida Urology Specialists, Sarasota, Fla.; e também o Hospital Privado Cordoba, Sanatorio Allende, em Cordoba, na Argentina; e a Policlinica Bancaria, o Hospital Alvarez, o Hospital Durand e o Hospital Britanico, em Buenos Aires.

Esses testes, chamados de clinical trials, são a última esperança de pacientes muito graves. Precisamos adicionar institituições brasileiras à lista de instituições que participam nesses e em outros testes, dando aos cancerosos brasileiros uma esperança a mais, aumentando a sobrevivência deles.

Por que não participam???????

Sagopilone é feita pela Bayer Healthcare Pharmaceuticals,que financiou a pesquisa. Os resultados foram baseados na publicação eletrônica Oregon Health & Science University (2008, May 30). Novel Chemo Drug Helps Treat Prostate Cancer. ScienceDaily. Por sua vez, foi baseada em http://www.sciencedaily.com­ /releases/2008/05/080530172628.htm

A campanha do PSA no Tirol volta à baila

As mortes por câncer de próstata caíram pela metade no Tirol depois de um programa que tornou grátis os exames de PSA e os exames clínicos em 1988. O resultado foi uma queda acelerada na mortalidade por câncer da próstata, graças a que mais cânceres foram descobertos cedo e tratados. O tratamento mais comum foi a prostatectomia, mas muitos discordam do seu uso que seria excessivo. Os exames de PSA estão à disposição de homens de 45 a 75 e de qualquer um acima de 40, mas com um paciente de câncer de próstata na família. O pesquisador/autor responsável é Georg Bartsch da Universidade de Innsbruck. 87% do público alvo foi testado pelo menos uma vez desde o início do programa. As mortes por câncer da próstata caíram 54%, bem mais do que no resto da Áustria, onde elas caíram 29%.

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