DUAS VACINAS PARA AJUDAR A TERAPIA HORMONAL

Uma esperança para os que fazem terapia hormonal. A Madison Vaccines Incorporated (MVI) acaba de anunciar um “clinical trial” de seu tratamento MVI-118 que foca no receptor de andrógeno humano. É um alvo importante porque, dependendo do seu funcionamento, o câncer progride ou não. O câncer “hormone refractory”, que já não responde ao tratamento hormonal, acarreta uma taxa de morte e de sofrimento muito maior. É um salto para o pior.

É bom saber que o câncer da próstata raramente mata a pessoa pelo que ele faz na próstata; é a metástase que mata. É quando ele sai da capsula prostática e se instala em outros lugares que ele mata. Os ossos são o destino mais comum, mas há muitos casos de metástases para órgãos, para “soft tissues”.

O tratamento hormonal, frequentemente feito após a cirurgia e/ou a radioterapia (incluídas aí todas as suas formas e intensidades), tem duração limitada. No Brasil, o mais usado é o Zoladex; nos hospitais americanos de ponta, é o Lupron. Não obstante, mais cedo ou mais tarde, o câncer se torna refratário e volta a crescer. Mais tarde pode ser muitos anos. Vi recentemente mesa redonda entre oncólogos e urólogos de renome e um deles revelou que um de seus pacientes respondia bem há dezenove anos. É um caso extremo. A mediana é muito menor.

E o MVI-118?

O Pesquisador Responsável, Douglas McNeel, responde:

“MVI is developing our two DNA vaccines for men throughout the spectrum of progressive prostate cancer, in pre-metastatic, in early metastatic, and in late-stage disease”.

Trabalham com duas vacinas, que serão (esperamos) aplicáveis a pacientes antes da metástase, no início da metástase e com metástase avançada.

O objetivo não é curar, mas prolongar o efeito do tratamento hormonal, o tempo durante o qual ele é eficiente. Como o câncer da próstata é uma doença de idosos (há exceções), prolongar o efeito, realisticamente, é dar a oportunidade ao paciente de morrer de outras causas, menos dolorosas.

Muitos pacientes bem informados acabam fazendo cálculos (e tomando decisões baseadas neles) não apenas sobre a maneira de viver, mas também sobre a maneira de morrer. O que nenhum de nós quer é morrer após um período de dores indescritíveis causadas pelas metástases ósseas.

A MVI-118 é uma das duas vacinas, que seria relativamente barata, e que não teria que ser individualizada como a Sipuleucel-T (Provenge), que está saindo do mercado por ser custosa e de difícil preparação.

A segunda vacina, chamada MVI-816, está sendo desenvolvida e testada já numa pesquisa Fase II com pacientes cujo PSA voltou a crescer a despeito do tratamento hormonal. Seu objetivo é retardar o avanço do câncer.

Essa vacina também está sendo desenvolvida em conjunção com um inibidor PD-1, cuja função é expor as células cancerosas ao nosso sistema imune.

Esses processos são longos. Esperam publicar os resultados em 2018.

Há dois dias encontrei, numa lanchonete, um senhor dez anos mais moço do que eu. Seu PSA de 54 indica câncer. Sugeri que se informassem mais, que lessem, dei o nome de blogs. Ele afirmou que tinha apenas 10% da visão e a esposa desconversou. Insisti, e ficou claro, para mim, que se passar pela leitura não vai acontecer. A falta do hábito de ler e, certamente, a rejeição da leitura impede que dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras se tratem adequadamente. Podem perder anos de vida, perder muitas oportunidades e ganhar muito sofrimento por essa rejeição. Cabe a leitores como você informa-los e ajuda-los e acender a luzinha da esperança, que tende a se apagar em todos nós que enfrentamos essa doença.

GLÁUCIO SOARES

Saiba mais:

Informações sobre essas vacinas estão disponíveis em

http://www.madisonvaccines.com.

Exercícios respiratórios ajudam a tolerar o câncer avançado

Os pacientes de câncer que passam a receber tratamento apenas paliativo, combatendo a dor e o desconforto, passam por muito estresse e sofrimento em vista da dor, da morte certa e próxima. Há técnicas cujas origens são chamadas de “orientais” que podem contribuir para reduzir a dor e o estresse. “Mindful Breathing” é uma dessas técnicas. Uma pesquisa demonstra seu efeito em pacientes de canceres terminais. Em sessões de apenas cinco minutos, é possível chegar a bons resultados.

Sessenta pacientes foram aleatoriamente incluídos no grupo experimental e no grupo controle, que ouvia as instruções, mas não fazia o exercício respiratório. Houve mudanças mensuradas na pressão sanguínea, na pulsação, na taxa de respiração, na resposta da pele a estímulos galvânicos e na temperatura da pele. As medidas foram feitas antes do experimento, logo depois do experimento respiratório e dez minutos depois. Houve a desejada redução em todos os indicadores (pressão etc.) e um aumento na temperatura da pele. As diferenças entre o grupo que fez a concentração no controle respiratório e o grupo controle que ouviu as instruções, mas não fez o controle respiratório, foram estatisticamente significativas.

Pessoalmente, já usei centenas de vezes a técnica de Mindful breathing para reduzir a pressão e os batimentos cardíacos com resultados positivos. A duração dos efeitos é variável, mas usualmente requer a repetição dos cinco minutos de Mindful breathing cada três ou quatro horas. Esse intervalo é variável entre pessoas. Algumas pessoas não obtem bons resultados na presença de outras, particularmente em consultórios médicos.

Para ler esse artigo (há outros):

Ng CG, do Department of Psychological Medicine, Faculty of Medicine, University Malaya, Kuala Lumpur, Malásia, Lai KT, da School of Psychology, University of Leeds, Leeds, United Kingdom, Tan SB, Department of Medicine, Faculty of Medicine, University Malaya , Kuala Lumpur, Malásia, Sulaiman AH, do Department of Psychological Medicine, Faculty of Medicine, University Malaya , Kuala Lumpur, Malásia e Zainal NZ, do Department of Psychological Medicine, Faculty of Medicine, University Malaya , Kuala Lumpur, Malásia, “The Effect of 5 Minutes of Mindful Breathing to the Perception of Distress and Physiological Responses in Palliative Care Cancer Patients: A Randomized Controlled Study” em Journal of palliative medicine : 2016 Apr 25.

Quantos anos viveríamos sem tratamento?

Uma das principais preocupações de pacientes de câncer é com o tempo de sobrevivência. É compreensível. Todos nós, pacientes, tomamos muitas decisões com relação ao tratamento, que afetam tanto a qualidade de vida quanto a sobrevivência, mas raramente temos a informação adequada para tomar as decisões.

Muitos pacientes com um câncer avançado atingem um nível em que o câncer não responde mais ao tratamento. Nesse momento, seu câncer recebe um nome novo: metastatic castrate-resistant prostate cancer (mCRPC), que significa que o câncer já tem metástase e não responde mais ao tratamento hormonal equivalente à castração.

Nesse momento há uma decisão a tomar: seguir com o tratamento – um número crescente de médicos sugere que sim, porque o câncer crescerá mais rapidamente sem o tratamento, mas outros aconselham o fim desse tratamento devido aos efeitos colaterais sobre a qualidade da vida. Qualquer que seja a decisão tomada nesse ponto (continuar ou não) há mais decisões: começar outro tratamento ou não. A escolha parece, mas não é óbvia: muitos pacientes acham que é muito sacrifício para pouco ganho. Infelizmente, no Brasil, temos um número que, eu suspeito, é grande, de pacientes que não sabem que há outros tratamentos e, ainda, dos que sabem da existência do tratamento mas não tem recursos para tratá-los.

Por qualquer uma dessas razões, muitos param o tratamento nesse ponto.

Quanto tempo vivem? Quais as características dos que vivem mais em relação aos que vivem menos?

Há uma pesquisa feita entre 2000 e 2005 que responde essas perguntas.

Sem tratamento, a mediana de sobrevivência foi 12,3 meses (mediana: metade viveu mais do que isso, metade menos). A variância foi muito grande: de dias até 108 meses (9 anos). 17% estavam vivos três anos depois e dois pacientes estavam vivos no fim da pesquisa.

O que se correlaciona com viver mais ou viver menos?

O nível mais baixo atingido pelo PSA  durante o tratamento hormonal é um dos indicadores mais favoráveis. Em comparação com os que não desceram abaixo de 11 μg/l durante o tratamento, os que baixaram a menos de 1 μg/l reduziram o risco de morte em 71%. Uma diferença grande. Do lado oposto, negativo, o crescimento do PSA durante o período logo depois de não baixar mais também conta: quanto mais devagar ele cresceu, mais vida, mais sobrevivência. Se ele dobrar em menos de 1,6 meses, o risco de morte é três vezes maior do que se ele dobrar em mais de três meses.

Há dois outros indicadores que também contam : se a fosfatase alcalina e a hemoglobina permanecerem em níveis normais, melhor.

Esses são os fatores que os pesquisadores noruegueses encontraram e que dizem quanto tempo alguns de nós viveremos depois de uma das decisões difíceis que temos que tomar.

Para saber mais, leia o artigo de Sven Löffeler, Harald Weedon-Fekjaer, Marte Sofie Wang-Hansen, Karin Sebakk, Hanne Hamre, Erik S Haug, Sophie D Fosså, em Scandinavian journal of urology. 2015 Jul 03 [Epub ahead of print].

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

O TRATAMENTO COMBINADO PODE AUMENTAR MUITO A SOBREVIVENCIA

A boa notícia foi divulgada em vários informativos eletrônicos. Usei um dos que considero mais confiáveis, o WebMD.

Qual o cerne da mensagem? É que antecipar a quimioterapia, que atualmente se utiliza somente após o paciente deixa de responder à terapia hormonal, adiciona, na mediana[1], aumenta a sobrevivência em 14 meses. Esses pacientes, com metástases do câncer, receberam a quimioterapia no início da terapia hormonal. Esses pacientes foram acompanhados durante 29 meses. Os homens que só receberam terapia hormonal sobreviveram na mediana 44 meses, ao passo que os que, além da terapia hormonal, fizeram também a quimioterapia, sobreviveram 58 meses – 14 meses a mais. O pesquisador principal, Christopher Sweeney, da Harvard Medical School, aconselha os pacientes a buscar mais informações e conversar a respeito com seus médicos. Espero que sejam oncólogos ou urólogos especializados, que acompanham as notícias sobre pesquisas médicas. Segundo ele, durante mais de meio século, a terapia hormonal foi o padrão, mas adicionar a químio aumenta a sobrevivência e melhora a qualidade da vida.

Não é uma cura. Ainda não há cura para o câncer da próstata que não foi curado no início, com os tratamentos padronizados (como prostatectomia, radioterapia, etc.).

A pesquisa foi financiada pelo U.S. National Cancer Institute, e foi publicada no prestigioso New England Journal of Medicine.

O que fizeram?

Dividiram 790 pacientes com câncer em dois grupos, um que fez terapia hormonal e outro que fez as duas.

Além de viver mais, o câncer dos que receberam a terapia combinada ficou sem avançar durante mais tempo, vinte meses, em comparação com doze meses apenas, entre os que só receberam a terapia hormonal.

Há efeitos colaterais: fadiga pesada, baixa nas células brancas e aumento das infecções, entre outros.

Um dos pacientes morreu de causa desconhecida e Sweeney afirmou que ele não deveria ter recebido a terapia combinada. É muito importante saber que nem todos os pacientes podem receber a químio. Os que têm doenças renais ou no fígado devem evitá-la.

Os pacientes que mais se beneficiaram foram os que tinham um câncer mais avançado, com quatro tumores ou mais fora da próstata.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ


[1] Ordenando os pacientes de acordo com a sobrevivência, a mediana os divide em duas metades: acima e abaixo do valor do paciente que está exatamente no meio.

Esperança para os que não respondem ao Zytiga nem ao Xtandi

 

Há alguns meses, uma pesquisa demonstrou que dois medicamentos usados para ampliar a esperança de vida dos pacientes, Zytiga e Xtandi não funcionavam em todos os pacientes. Havia um grupo que não respondia. Eles tinham receptores de andrógenos mais curtos. A Tokai Pharmaceuticals resolveu investir nesse grupo. Seu medicamento, Galeterona, ajudava esses pacientes.

Do ponto de vista técnico, foi uma vitória inteligente e fácil. Os medicamentos que serviriam para comparação são, exatamente, Zytiga e Xtandi. Era ganhar ou ganhar…

Foi essa facilidade que inspirou a companhia a abandonar a esperança de desenvolver um medicamento focado no tratamento de todos os tipos de pacientes e concentrar seus esforços nesse segmento menor no qual não tem concorrentes. A empresa, anteriormente, já tinha dados que demonstravam que a Galeterona funcionava nesse segmento, mas não superava os medicamentos padrão no conjunto total de pacientes.

Há uma pesquisa Fase III, com 148 pacientes, que deverá produzir resultados favoráveis em um ano. A facilidade com que a Tokai obteve fundos para expansão mostra que os investidores apoiaram a nova estratégia.

Do ponto de vista humano, nosso ponto de vista como pacientes, o aperfeiçoamento do medicamento cujo ingrediente ativo é a Galeterona ajudará um segmento dos pacientes com poucas opções.

 

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

ONDE ESTÃO AS CÉLULAS CANCEROSAS?

Uma empresa de biotecnologia baseada em Seattle, a Cancer Targeted Technology (CTT), recebeu uma doação de dois milhões do NIH com o objetivo de facilitar diagnósticos e tratamentos mais exatos. Permitirá acompanhar as metástases. Usa a chamada tomografia PET.

Como funciona?

Trabalham com uma pequena molécula chamada CTT1057 que adere a um antígeno encontrável na membrana das células cancerosas do câncer da próstata. Ela aparece nitidamente quando escaneada e ela é abundante nas células cancerosas. Como isso é possível ver as regiões afetadas.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

O que é uma boa terapia hormonal?

Quando a metástase do câncer da próstata é diagnosticada, seja de forma primária, quando o câncer foi diagnosticado pela primeira vez, seja porque houve a “volta do PSA”, também chamada de fracasso bioquímico, o tratamento mais frequente é chamado de PADT, que é a terapia (anti) hormonal primaria, que nos priva de testosterona. O caminho mais comum desse tratamento é que, mais cedo ou mais tarde, o câncer já não responda a esse tratamento e outros tratamentos, com efeitos igualmente temporários (ou seja, não curam) entram em cena.

Estou entre os que lutam pelos direitos dos pacientes, inclusive o de saber tudo o que está passando com eles. Se você é um paciente e não quer saber, pare de ler agora e não continue lendo esse blog.

Os que querem saber quais são os fatores que ajudam a prognosticar o crescimento do câncer, sejam quais sejam suas razões, necessitam saber que todo prognóstico nessa área é probabilístico – não há certezas.

Quais são esses fatores, esses indicadores?

Um deles se chama de “nadir do PSA”. Explico: nadir é o valor mais baixo atingido pelo PSA depois do tratamento, nesse caso do tratamento hormonal. Só se conhece o nadir quando o PSA para de baixar e volta a crescer. Os pesquisadores usaram três níveis de “nadir do PSA” para fazer suas análises.

· O nadir baixo (o melhor, com mais tempo de sobrevivência) é menor do que 0,2 (<0,2 ng/mL)

· O nadir médio vai de 0,2 a 0,4 (0,2-4 ng/mL)

· O nadir alto é maior do que 0,4 (>0,4 ng/mL)

Na média os pacientes tinham 73 anos quando o tratamento (anti) hormonal deixou de funcionar e seu PSA no diagnóstico era de 174 ng/mL. É isso mesmo – quase 175. Alto. Foram 286 pacientes que receberam o PADT de 1998 até 2005. Cinco anos depois do PADT, 63% estavam vivos. Aproximadamente um em três tinha morrido das mais diversas causas, inclusive devido ao câncer.

O escore Gleason (busque a explicação neste blog se quiser) continuava a prever o desenvolvimento do câncer, mas o nadir era o grande preditor: o risco relativo era seis vezes menor no nadir mais baixo do que no nadir mais alto. Depois do nadir, vinha o tempo até o nadir: é bom levar muito tempo até o nadir, quanto mais melhor. É fácil entender: enquanto o PSA está baixando, você está vivendo… Mas o interessante é que a lentidão da queda é boa em si, sendo um fator que prevê um bom resultado independentemente dos demais fatores, inclusive o PSA e o nadir do PSA. Usaram, também, três categorias: mais de 12 meses (mais de um ano), que era a melhor; de seis meses a um ano é a categoria do meio e menos de seis meses é a categoria mais rápida, que é a pior. Pessoas com o mesmo nadir, mas que levaram mais tempo para chegar até lá, tiveram sobrevivência maior do que as que foram rapidamente até lá. O prognóstico era quatro vezes melhor para eles.

Meu espirito de pesquisador sugere que essa relação não é de soma e sim multiplicativa. Essa pesquisa foi feita por uma equipe japonesa. Leia mais em BMC Urol 2014 Apr 29;14(1):33. doi: 10.1186/1471-2490-14-33: Tomioka A, Tanaka N, Yoshikawa M, Miyake M, Anai S, Chihara Y, Okajima E, Hirayama A, Hirao Y e Fujimoto K.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

Melatonina ajuda a prevenir o câncer da próstata?

É possível que haja uma relação entre baixos níveis de melatonina e o risco de câncer da próstata, de acordo com uma pesquisa apresentada na conferência da American Association for Cancer Research em San Diego.

O que é a melatonina? É um hormônio produzido na glândula pineal que parece regular o sono. É durante o sono que ela é produzida. A hipótese de que a melatonina se relaciona com várias formas de câncer é antiga. Sarah Markt é uma estudante de doutorado na Harvard School of Public Health. Sua equipe estudou 928 islandeses (a Islândia é uma ilha e um país bem ao norte no Oceano Atlântico. É um dos países mais lindos que conheço). A melatonina regula vários ritmos da vida, além do sono, como as batidas cardíacas e a respiração. Se não produzirmos a quantidade necessária de melatonina, os ciclos do sono são afetados e muitos outros ritmos que afetam nossa saúde. Clique abaixo para ver

Pesquisas com animais demonstraram que a melatonina inibe o crescimento de tumores na próstata. Outro, com homens, demonstrou que homens com um nível alto de melatonina tem um risco menor de desenvolver um câncer na próstata.

Sarah e seu time coletou dados de 2002 a 2009.

Que dados? A quantidade de melatonina na urina. Os participantes também preencheram um questionário relacionado com o sono. Um em sete tinha dificuldades em dormir. Um em cinco relatou ter dificuldade de dormir a noite inteira: acordava e outros problemas. Finalmente, nada menos do que um em cada três tomava soníferos.

Surge um problema metodológico: o que afeta o risco do câncer da próstata: a melatonina insuficiente, os problemas com o sono, ou os dois. Não são iguais: há problemas de insônia com outras causas.

Sara estudou os dois.

Dos 928 homens, 111 foram diagnosticados com câncer da próstata e 24 com câncer em estado adiantado.

Comparando os dois grupos, os pesquisadores descobriram que o grupo com níveis “normais” de melatonina tinham um risco 75% de ter o câncer. Níveis altos parecem dificultar o aparecimento de canceres agressivos.

A Islândia é um local interessante para esse estudo porque o número de horas de luz solar varia muito do inverno para o verão.

Não se trata de pesquisa conclusiva, sem lugar a dúvidas. Há muito a ser pesquisado porque as variáveis que podem influenciar o resultado são muitas.

É um possível caminho para reduzir a incidência deste câncer. Advirto aos leitores que não há concordância a respeito de que quantidade de melatonina é a adequada. Há muita gente que morre, e muitos mais que adoecem gravemente, tentando ser seu próprio médico, sem ter treinamento para fazê-lo.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

Câncer e cultura cívica

Karen e Earl Crabtree são jornalistas. Num maio, há vários anos, ficaram deprimidos e tristes com a história que tiveram que contar, de um casal que se suicidou. Semearam um realismo triste entre os leitores. Muitas pessoas se matam. Decidiram, então, compensar o teor negativo dos seus artigos, contando uma experiência positiva sua própria experiência na luta pela vida, contra o câncer da próstata.

Em janeiro de 1998, Earl teve que enfrentar o diagnóstico de um câncer de próstata muito avançado. O médico que o diagnosticou lhe deu três meses de vida. Earl não morreu no período previsto. Depois de 24 meses, o mesmo médico desistiu. Disse que não explicava o que acontecia. Ele deveria estar morto. Hora de mudar de médico. O segundo médico, depois de 18 meses (totalizando 42 meses depois do diagnóstico) também achou que Earl chegara ao fim da linha: “vá para casa e curta o resto de vida que tem.” Claro que Karen e Earl ficaram abalados, tristes, mas são lutadores. Buscaram mais um médico, o terceiro. Esse durou mais: quatro anos, perfazendo um total de sete anos e meio depois do diagnóstico inicial. Depois dos quatro anos, a situação estava tão ruim, que ele recomendou que Earl fosse para um hospice. Hospices não são hospícios, onde pessoas com sérias doenças mentais são internadas. Hospices são lugares onde se espera a morte confortavelmente e com bons cuidados paliativos. Earl não foi para um hospice, não morreu e continua lutando, ajudado por viver numa sociedade onde conta com o apoio de um grande número de organizações voluntárias.

Essa estória nos dá muitas lições. Uma, importante e específica, ensina que o paciente sempre deve buscar mais de uma opinião médica, inclusive quando o diagnóstico e/ou prognóstico são favoráveis. Medicina não é ciência exata e diagnósticos e prognósticos incluem uma parcela de opinião e chute. É bom ter mais de um médico. Mas a estória também nos transmite uma lição mais ampla, mais política, mais profunda, que tem a ver com a cultura cívica e com a iniciativa individual – das pessoas. Nos Estados Unidos, a combinação de iniciativa e responsabilidade individuais com cultura cívica produziu instituições contra os interesses corporativos, tão acachapantes no Brasil. Em São Francisco há um grupo de médicos que se chama “The Second Opinion” que examinará o seu caso e dará uma opinião sobre o melhor caminho. O telefone é publico (mas não grátis) e o idioma é o Inglês: 415-775-9956. Há um programa de informação e de ajuda com alguns gastos de pacientes de câncer, na The American Cancer Society, que qualquer um pode chamar: 1-866-444-7672. Há grupos de apoio e grupos de discussão em quase todas as cidades importantes sobre vários tipos de doença. Alguns hospitais organizam discussões, debates e reuniões. Um exemplo é o grupo que se encontra uma vez por mês no Davis Cancer Center e Mercy San Juan Hospital. Há centenas desses grupos. Os americanos em situação difícil não buscam apenas o serviço público, buscam, também, outras pessoas, mais experientes, e organizações voluntárias.

Quero deixar claro que esse artigo não é uma defesa da organização da medicina nos Estados Unidos. Longe disso. Seu foco é a medicina curativa (e nisso são os melhores) e não na preventiva. A medicina é cara e os médicos, em boa parte, venderam a alma ao demônio por dinheiro. Nem é uma defesa da cultura política americana, caracterizada por baixa participação e uma alta dependência da mídia.

O cerne desse artigo tem que ver com iniciativa individual, com a capacidade de organização da sociedade e com a cultura cívica. Há organizações importantes entre o individuo e o estado nas sociedades com uma cultura cívica participativa. O espaço entre o individuo e o estado é densamente povoado. Ironicamente, é um espaço povoado por laços interpessoais fracos e laços institucionais fortes.

Contudo, em nosso Brasil, ficamos esperando as iniciativas do Estado. Mas, francamente, …o Estado Brasileiro? É um estado moralmente falido, com impostos suecos e benefícios africanos. Há poucas iniciativas e responsabilidade individuais. Transferimos todas as iniciativas e decisões pessoais importantes para “o governo”. A começar pela Constituição, que define a saúde como direito de todos e responsabilidade do Estado. Essa definição populista e demagógica levou a que uma parte gigantesca dos gastos públicos com a saúde derive de processos judiciais para cobrir gastos com remédios e tratamentos caríssimos que, em muitos casos, aumentam em somente semanas ou alguns meses a sobrevivência do paciente. É um recurso usado pela classe média e pelos ricos. Os mais pobres ficam sentados, esperando o que “o Lula dê”. Não nos organizamos, somos passivos. Ironicamente, somos bagunceiros civis que obedecem cegamente ao autoritarismo em todas as muitas instâncias em que ele nos toca, inclusive nas relações com os médicos. Se Earl fosse brasileiro, teria acreditado no primeiro médico e estaria morto. Ou pior: teria morrido sentado, de tédio, esperando que “o governo” resolvesse seus problemas de saúde.

 

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

Publicado no Jornal do Brasil. Junho, 2, 2009.

TRATAMENTO COMBINADO VS ADT EM METÁSTASES AVANÇADAS

 

Comecemos com pacientes com câncer da próstata que descobrem que já têm metástases extensas.

Como definiram metástases extensas? Quem são esses pacientes?

São aqueles nos que o câncer já invadiu órgãos importantes, como o fígado, e/ou apresentam quatro ou mais lesões ósseas. É importante lembrar que os ossos são o lugar preferido para a invasão do câncer da próstata quando se metastizar.

Como tratar esse grupo? Para responder a essa importante – vital mesmo – pergunta, a pesquisa (chamada E3805) dividiu 790 homens com canceres nesse nível em dois grupos. O recrutamento começou em 2006. Um grupo recebeu terapia antihormonal (ADT) e outro recebeu terapia antihormonal mais quimioterapia (docetaxel) que foi aplicada cada três semanas durante 18 semanas.

Qual o resultado? Houve diferenças entre os dois grupos? Aos três anos depois do tratamento, 69% do grupo com docetaxel estava vivo, em comparação com 52,5% do grupo que só recebeu ADT.

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Examinando mais os dados, concluíram que a terapia combinada era tanto mais eficiente quanto mais avançado estivesse o câncer. Entre os pacientes com metástases extensas, os que fizeram o tratamento combinado tinham uma sobrevivência de 63% contra 44% dos que só receberam ADT.

Acompanharam esses grupos durante dois anos – na mediana – o que significa que metade foi acompanhada mais de dois anos e metade menos.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

ESCORE GLEASON: 3+4 E 4+3 SÃO IGUAIS?

O escore Gleason é simples: os patologistas olham amostra da próstata pelo microscópio e verificam qual é o tipo de célula mais frequente. As células normais são diferenciadas, exercem múltiplas funções. As cancerosas são menos diferenciadas e perdem funções. As mais agressivas só fazem reproduzir e parecem u’a massa sem formas, sem nada. As células podem ser classificadas até o valor 5, que são as mais violentas, indiferenciadas. Em qualquer amostra, há células mais diferenciadas e menos diferenciadas, há amostras de todos os valores. O primeiro valor no escore Gleason é o que aparece com mais frequência, o “que tem mais”. E o segundo valor? Ë o segundo  mais frequente. A soma dos dois é o valor do Gleason, mas é importante manter as parcelas separadas. Um 5+2 é muito mais agressivo do que um 3+4. Os autores de uma pesquisa publicada em 2009 perguntaram se fazia muita diferença se era 3+4 ou 4+3.

A resposta: faz, e muita.

Como foi feita a pesquisa (os pesquisadores foram Stark, Perner, Stampfer, Sinnott, Finn S, Eisenstein, Ma, Fiorentino, Kurth, Loda,  Giovannucci, Rubin e Mucci)?

Recorreram a três patologistas que examinaram e classificaram o Gleason primário (que aparece primeiro) e o secundário (o que vem depois) de material retirado de 693 pacientes de prostatectomia e 119 de biopsia. Elas foram retiradas de pacientes entre 1984 e 2004. Voltaram aos mesmos pacientes, tempos depois, para ver o que aconteceu.
    Definiram os processos como letais e não letais. Os letais, além dos que morreram, incluíam os que tinham metástases ósseas; os demais eram não letais. Em dez anos houve 53 cânceres letais (entre 7% e 8%). As amostras derivadas de prostatectomias mostraram que os Gleasons 4+3 apresentavam um risco três vezes maior de ter um câncer letal. As amostras obtidas via biópsias também revelaram fortes diferenças.

Não é sentença de morte; é risco maior. Meu escore Gleason na biópsia era 3+3, mas na prostatectomia era 4+3. Felizmente, dezessete anos mais tarde, estou aqui.

Porém, esses resultados mostram que confiar apenas na soma Gleason pode camuflar cânceres perigosos que requerem tratamento imediato e mais radical.

 

GLÁUCIO SOARES             IESP/UERJ

Promissora combinação de terapias

Suzanne Elvidge escreveu um interessante resumo no qual argumenta que combinação de duas terapias anti-cancer é eficiente e produz melhores resultados do que o que os últimos medicamentos produziram: alguns (usualmente poucos) meses a mais na esperança de vida. A combinação de Prostvac, uma vacina que ainda está sendo estudada, com ipilimumab, um anticorpo monoclonal, aumenta os efeitos anti-câncer das duas aplicadas separadamente. As pesquisas estão no início.

É interessante que Prostvac é uma “vacina” baseada em um vírus (sendo desenvolvida pela Bavarian Nordic) e que ipilimumab seja usada com sucesso como um tratamento do melanoma adiantado, sob o nome comercial de Yervoy. É uma pesquisa em estado inicial: trinta homens receberam doses cada vez mais altas de ipilumumab e doses iguais de Prostvac. Os efeitos colaterais são conhecidos porque Ipilumumab está em uso há algum tempo.

Quais os resultados, quando aplicados a pacientes com câncer avançado? Metade dos pacientes tiveram baixas no PSA, alguns de mais de 50%! E a sobrevivência mediana foi perto de três anos. Ou seja: metade dos pacientes viveu mais de três anos e metade menos.

A sobreviência mediana dos trinta pacientes, 34,4 meses, é um avanço em relação aos ganhos mais limitados com os medicamentos desenvolvidos recentemente – com os quais estamos aprendendo muito, diga-se de passagem.

É um estudo pequeno, ainda na Fase I, mas que promete. As pesquisas com o Prostvac estão mais adiantadas, na Fase III (com muitos pacientes, grupo controle etc), que começou no fim do ano passado.

 

GLÁUCIO SOARES        IESP/UERJ

 


Qual sua experiência com o tratamento (anti) hormonal?

 

Vou mudar de tratamento e a sua experiência pode ser útil. Com um PSA avançando rapidamente, dobrando cada seis meses, e já tendo alcançado 22ng/ml, meu médico, no Sloan Kettering, sugeriu que a maioria dos urólogos já iniciaria o tratamento anti-hormonal (erroneamente chamado de hormonal). Até seis meses atrás o câncer não aparecia nos lugares comuns, seja no scan dos ossos, seja na tomografia computerizada. Decidí iniciar essa terapia, como todos os possíveis efeitos coletarais porque a expansão do câncer é acelerada e eu já retirei a próstata há muito tempo. A terapia consiste em tomar Casodex (pílulas) durante duas semanas; uma injeção de Lupron; mais uma série de duas semanas de Casodex. Tenho muita preocupação com os efeitos colaterais.

Você pode me ajudar, caso já tenha passado por essa fase ou esteja passando por ela, me dando dicas e informações. Dê todas as dicas que quiser e puder, e preencha a curta tabela abaixo, enviando tudo de volta para mim em

soares.glaucio@gmail.com

Pode colar no e-mail

Há quanto tempo iniciou o Lupron (aproximadamente) …..anos e …..meses

Continua tomando? Se não, há quanto tempo parou? Não parou…..  Parou há …..anos e …..meses

O sue tratamento era fixo ou variava com o PSA e/ou outros indicadores e sintomas?

Fixo: de ……..meses em ………….meses; ou variava quando o PSA atingia……. (mudou o valor do PSA para tomar nova injeção ou foi sempre o mesmo?) Mudou, de………..para…….   Foi sempre o mesmo (qual o valor do PSA? ……………..)

De quanto em quanto tempo tomava as injeções?…………………………….

Para cada efeito colateral, diga como se sentiu no pior momento

Efeito

Não senti nada

Algum(a)

Bastante

Muito(a)

Fadiga

 

 

 

 

Dor de cabeça

 

 

 

 

Náuseas

 

 

 

 

Dores (onde)

 

 

 

 

Aumento do açucar no sangue

 

 

 

 

Desânimo

 

 

 

 

Depressão

 

 

 

 

Fraqueza

 

 

 

 

Dor nos ossos

 

 

 

 

Fibrilação cardíaca

 

 

 

 

Outros problemas cardíaco

 

 

 

 

Problemas respiratórios

 

 

 

 

Enfraquecimento

 

 

 

 

Insônia

 

 

 

 

Outros (acrescente)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quanto tempo até que o tratamento não surtisse mais efeito? …………..

E seu PSA no início do tratamento?………………….ng/ml

E o mais baixo a que chegou?…………………….ng/ml

E, se parou, quanto era o PSA quando parou?…………………ng/ml

Há quanto tempo parou?………………………

Por onde anda o seu PSA na medida mais recente (data:          ……….ng/ml)

Sente algum dos sintomas acima ou outros? Quais e com que gravidade (use a mesma escala – nada, algum, bastante, muito?)

Você fez essa terapia de modo contínuo  ou intermitente?…………………

Você faria esse tratamento de tivesse que começar de novo? Faça um círculo

1.    Faria muito antes 

2.    Faria um pouco antes  

3.    Faria no mesmo tempo 

4.    Faria um pouco depois         

5.    Faria muito depois   

 

Quanto tempo você acha que você tem de vida?……………………..

A sua religiosidade mudou?

·       Não tinha e não tenho

·       Diminuiu muito
Diminuiu um pouco

·       Ficou igual

·       Aumentou um pouco

·       Aumentou muito

 

Que conselhos e sugestões você daria a quem estivesse pensando em começar a terapia (anti)hormonal (com Lupron etc)? Escreva livremente. Aqui ajudamos uns aos outros e sua impressão pura e simples, informada e educada ou não, é importante. Obrigado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gláucio Soares

 

Reduzindo a metástase óssea e seus efeitos

A FDA (órgão encarregado de aprovar ou rejeitar medicamentos nos Estados Unidos) aprovou duas aplicações do denosumab (nome comercial Prolia), um medicamento contra a osteoporose.

As aplicações são contra a perda óssea em homens que fazem tratamento (anti)hormonal e, no caso do câncer da mama, em mulheres que recebem um tratamento que enfraquece os ossos. Denosumab já fora aceito pela FDA, com o nome comercial de Xgeva, para atuar contra pacientes com cânceres mais avançados, com metástase óssea. Xgeva é dada para impedir fraturas e reduzir a dor nos ossos. A metástase para os ossos do câncer da próstata com freqüência danifica os ossos e, por isso, esse tipo de tratamento não pode ser negligenciado. Normalmente, esse tratamento é feito em conjunção com cálcio e vitamina D. Nem todos os pacientes podem tomar esses medicamentos sem uma preparação, como é o caso dos que sofrem de hipocalcemia.

Duas pesquisas Fase III providenciaram a evidência de que o tratamento funciona: uma multinacional com quase mil e quinhentos pacientes com homens com câncer que não tinha metastizado, mas recebiam tratamento (anti)hormonal; a outra, menor, foi também multinacional com mulheres com câncer da mama que recebiam o tratamento que acentuava os problemas ósseos.

Os pacientes homens que foram tratados durante dois anos com denosumab tinham uma densidade mineral (bone mineral density – BMD) nos ossos lombares maior do que o grupo controle. A diferença era estatisticamente significativa.

Depois de três anos de tratamento com esse medicamento, 3,9% dos homens no grupo controle tiveram novas fraturas nas vértebras, em contraste com 1,5% dos que recebiam denosumab. O risco era 62% menor.

Tenho insistido nas postagens que nós, pacientes, colocamos muita ênfase na sobrevivência e pouca na qualidade da vida. A metástase óssea é uma das maiores causadores de baixas dramáticas na qualidade da vida. Denosumab não cura o câncer (creio que seus fabricantes nem pretendem combatê-lo), mas é parte do seu tratamento para reduzir as dores e evitar fraturas.

GLÁUCIO SOARES


O tratamento (anti)hormonal juntamente com a radiação salva vidas

O leitor tem visto como a opinião médica varia: entre médicos, no tempo, de lugar para lugar. Houve muitas publicações críticas do tratamento (anti)hormonal, em boa parte devido à combinação entre efeitos colaterais e duração dos benefícios.

Agora surgiu um trabalho que apóia o uso do tratamento (anti)hormonal em combinação com a radiação. Seis meses desse tratamento aumentam muito a sobrevivência em comparação com a radiação isoladamente. Um resultado que não deve ser esquecido é que essa pesquisa sugere que um tratamento de duração limitada – seis meses – produz efeitos tão bons quanto um tratamento mais extenso e demorado, com a duração de dois ou três anos. E, claro, os efeitos colaterais também duram menos.

O que faz esse tratamento? Reduz ou zera a produção de hormônios masculinos que são o alimento predileto dos cânceres da próstata.

Onde e como foi feita a pesquisa? Foi feita na Nova Zelândia e dirigida pelo Dr. Lamb, da Universidade de Otago. A pesquisa distribuiu um total de 802 pacientes que tinham um câncer da próstata localizado e avançado. Um grupo fez radioterapia; outro radioterapia mais três meses de tratamento (anti)hormonal e um terceiro aumentou esse tratamento para seis meses.


Acompanharam esses pacientes, na média, 10,6 anos – bastante.

Os resultados são mais do que sugestivos:

  • O grupo submetido a terapia (anti)hormonal muito curta (três meses) não se diferenciou do grupo sem essa terapia;
  • No grupo submetido a terapia (anti)hormonal de seis meses 11% morreram do câncer, a metade da percentagem (22%) dos que só fizeram radiação;
  • No que concerne mortes por outras causas, há uma ligeira vantagem para o grupo que combinou as duas terapias;
  • No total, morreram 43% do grupo que somente fez radiação e 29% do grupo que combinou os tratamentos;
  • Nos dois grupos a grande maioria (78% num caso e 89% no outro) não morreram do câncer da próstata.

As taxas relativamente altas de mortalidade geral entre pacientes de câncer da próstata quando o acompanhamento é longo (como esse, mais de dez anos na média) são esperadas porque a grande maioria dos pacientes é diagnosticada após os sessenta anos. Trata-se de uma população de idosos que, câncer ou não câncer, tem uma sobrevivência muito menor do que uma população jovem.

Um conhecido oncólogo, Anthony D’Amico, comentou essa pesquisa afirmando que esses resultados são semelhantes aos encontrados por ele.

E os efeitos colaterais? São conhecidos, os mesmos encontrados em outras pesquisas, sendo os problemas cardíacos os mais perigosos.

ESCRITO POR GLÁUCIO SOARES COM BASE EM DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS

Controlar uma proteína nos dará mais tempo

Na busca da cura do câncer da próstata ou de mecanismos que reduzam significativamente seu crescimento tem seguido vários caminhos. Há dois dados ruins para nós, pacientes:

  1. São centenas de “descobertas” que, promissoras inicialmente, não chegam à Fase III (com muitos pacientes e grupo controle) por cada uma que chega e é aprovada pela FDA;
  2. Usualmente, a pesquisa percorre um caminho longo e leva tempo, usualmente dez anos ou mais, até virar remédio e começar a ajudar pacientes.

Do lado positivo, há, cada vez mais, colaboração entre pesquisadores de disciplinas e especialidades diferentes, gerando um caminhão de possibilidades.

Uma dessas possibilidades se refere a uma proteína, que regula a reprodução de células cancerosas e joga importante papel na transformação de células sãs em células cancerosas. Ela se chama Bmi-1 e, se tudo der certo, jogará um papel importante no controle do avanço do câncer. Essas pesquisas estão sendo feitas na UCLA.

Anteriormente havia sido demonstrado que essa proteína estava associada com cânceres agressivos e com resultados ruins – a morte dos pacientes. A associação estava demonstrada, mas os mecanismos não. Estudando animais ficou claro que a Bmi-1 regula a reprodução das células da próstata “maduras” e em importante função no provocar o câncer e no seu avanço.

Qual a descoberta, afinal de contas? Que inibindo essa proteína se reduz a velocidade do crescimento do câncer, dando tempo a que outros tratamentos façam efeito e, idealmente, que novas e cruciais descobertas sejam feitas. Ganhamos tempo.

Fonte: (online) Dec. 2 in Cell Stem Cell.

Gláucio Soares


Pesquisa clínica: oportunidade para pacientes com câncer da próstata avançado

Há uma pesquisa sendo iniciada. É chamada de READY. Quer ver se o medicamento que está sendo investigado, dasatinib, melhora os resultados se aplicado juntamente com docetaxel que é o tratamento padrão em casos avançados. Para isso haverá dois grupos: docetaxel + dasatinib VS apenas docetaxel. Se você participar, será sorteado para um dos dois grupos, sem saber qual é. Ou seja, poderá estar no grupo que só toma o tratamento padrão, docetaxel, ou no grupo que, além do docetaxel, tomará dasatinib.

Para participar, você precisa ter passado ou estar passando pelos tratamentos hormonais.

Os pesquisadores pretendem chegar a 1.650 pacientes em mais de 175 lugares distribuídos pelo planeta.

Veja as condições mínimas de participação:

  1. O câncer metastizou e avançou;
  2. Fez cirurgia de castração física ou está presentemente fazendo terapia hormonal;
  3. Não recebeu quimioterapia, exceto estramustine.

Desatinib já foi aprovado para tratar outras doenças, como leucemia mielóide crônica e várias outras e os fabricantes querem saber se ajuda no câncer de próstata.

A empresa sugere que seu médico (espero que urólogo ou oncólogo, e não clínico geral) se informe e entre em contacto com os organizadores da pesquisa. É aí onde o conceito internacional do seu médico e do seu hospital é importante.

Para ver onde são os lugares que participam, clique em

click here.

Para saber sobre outros experimentos com medicamentos para tratar o câncer da próstata, clique em
NCT00861614 (lpilimumab)

 

INFORMAÇÕES MAIS COMPLETAS EM

Visit the READY trial website: http://www.readyclinicaltrial.com

For recruitment purposes only
All non-US residents, please visit: clinicaltrials.gov

 

Escrito por Gláucio Soares, um paciente, para ajudar você. Informe-se e ajude outros a aprender a buscar informação.

Novo avanço contra a metástase

Há um projeto chamado TASQ que apresentou seus resultados (Fase II) na ASCO (Annual Meeting of the American Society of Clinical Oncology). Foi devidamente randomizado com um grupo placebo de controle.

O que pretende?

Ser um agente antiangiogênico oral. O que é isso? Impede a alimentação das células cancerosas usualmente precedidas pela angiogênese, a ampliação da rede alimentar dessas células malignas. Tem um alvo, o S100A9, que é molecular.

Foi testado com pacientes que já não respondem à qualquer terapia hormonal, mas que são assintomáticos.

Quais os ganhos? A percentagem dos pacientes cujos cânceres voltaram a crescer num período de seis meses foi 31%, menos da metade dos 66% do grupo placebo (p < 0.0001). A mediana do tempo ganho, sem avanço do câncer, foi de 7,6 meses, bem melhor do que os 3,2 meses do grupo placebo (p=0.0009). Mais de quatro meses ganhos sem avanço do câncer.

Segundo a apresentação, TASQ teve efeito relevante em outros marcadores do câncer. Os efeitos colaterais foram moderados.

O efeito do TASQ é anti-metastático. Agora virão pesquisas combinando tratamentos e pesquisas de Fase III (muitos pacientes e grupos controle).

É um ganho significativo por duas razões:

  • Segue um caminho terapêutico diferente da maioria – é anti-metastático e
  • Adiciona mais de quatro meses durante os quais a doença não progride. Dada a idade de nossa população de pacientes, não é um tempo desprezível.

Boas notícias contra a metástase óssea

Como anunciado neste blog, há novidades no que concerne a metástase óssea, suas dores, seu tratamento.
É possível protelar a perda de minerais e é possível protelar o esfarelamento dos ossos. Protelar não significa curar nem impedir para sempre.

Mas esses processos estão entre os que mais dores e sofrimento causam aos cancerosos com metástase óssea. E levam a muitas mortes.

Qual a novidade?

A substância se chama denosumab e o nome nas prateleiras será Prolia. Como noticiei, acaba de ser aprovada pela FDA. Prolia foi pensada para combater a osteoporose pós-menopausa, mas a osteoporose tem múltiplas causas possíveis e Prolia parece eficiente contra osteoporose de diversas origens, inclusive a provocada pelo câncer.

A que custo? Não sai barato. A empresa, AMGEN, quer recuperar o investimento e ganhar o máximo. Está pressionada porque o seu maior ganha pão, chamado erythropoietin, está vendendo menos. Prolia será injetável, 60 mg cada seis meses, a um custo de US$ 825 por injeção. Mais de mil e seiscentos dólares por ano!

Talvez o preço fique mais baixo porque há competidores. Os bisfosfonatos são mais baratos: um, chamado Reclast (ácido zoledrônico), que também é injetável, custa a metade, mas tem que ser injetado freqüentemente – semanalmente ou mensalmente. Bisfosfonatos orais como Boniva e Actonel também são competidores. Os ingredientes ativos são ibandronato e risendronato, respectivamente. Há expectativa de que as vendas de Prolia cheguem a um bilhão de dólares no primeiro ano. No meio desses cálculos, imprensados por todos os lados, estamos nós, os pacientes.

Prolia se aplicará a cancerosos também? Parece, mas não sabemos. A União Européia aprovou a droga para ser usada contra a perda de minerais nos ossos devida à terapia anti-hormonal; a FDA, sempre mais prudente, quer prova com pesquisa clinica Tipo III.

Felizmente, a área de prevenção da perda de minerais nos ossos devido a tratamentos anti-câncer está em aberto e há competição, assim como avanços, mas é um número relativamente pequeno de pacientes em relação ao total de pessoas, particularmente mulheres, que sofrem com a osteoporose. É esse grupo maior que vai determinar o preço. Depois de vários anos, termina a exclusividade derivada da patente, aparecem os genéricos e os preços caem verticalmente. Mas há muito espaço para novos remédios no caso dos problemas causados pelo câncer e seu tratamento. O tratamento mais usado, no momento, é Zometa, fabricado pela Novartis e baseado no ácido zoledrônico.

Prolia é mais eficiente do que Zometa em postergar os problemas ósseos, como demonstrou uma pesquisa com quase dois mil pacientes. Os detalhes dessa pesquisa serão divulgados nos meetings da American Society of Clinical Oncology (ASCO) que começam essa semana em Chicago.

É interessante ver esse choque de lógicas. Como pacientes, queremos tratamentos logo, eficientes e baratos. Nossas vidas e nossos sofrimentos dependem disso. As empresas querem lucro e, para alcançá-lo, precisam demonstrar uma vantagem competitiva de tal maneira que a diferença em custo/benefício favoreça o seu produto.

Felizmente, a exclusividade obtida pelas patentes expira. Os genéricos barateiam muito. Mas o câncer não espera…

Äcido Zoledronico e metástase óssea

O ácido zoledronico, um bisfosfonato, reduz o risco de fraturas nos pacientes com metástase óssea do cancer da próstata. Essa é a principal conclusào de uma pesquisa  com quase cinco mil pacientes diagnosticados de 2001 a 2006 com metástase óssea. Como manda o figurino, uns receberam o bisfosfonato (1309) e outros nao (3667). Os pacientes que receberam injeçoes mensais do ácido tiveram 31% de fraturas (de todo tipo) a menos. Por ano, de cada cem pessoas, 5,9 das que tomaram o ácido tiveram fraturas, estatisticamente menos do que 8,5 do grupo controle. A probabilidade de que a diferença seja devida ao acaso é mínima (0,0003).

Como algumas fraturas se relacionam com a morte, o risco de morrer também foi menor – 34% menor. Por ano, morreram 6,2 pessoas de cada cem no grupo experimental (que tomou o acido) e 9,4 no grupo controle. O número de fraturas foi menor em todos os locais onde elas aconteceram. 

Nao obstante, os dados foram observacionais, o que significa que os pacientes nao foram separados antes e ‘submetidos’ ao experimento, mas agrupados depois, de acordo com o tratamento recebido.

Os resultados foram melhores entre os que tomaram as injeçoes durante 18 meses ou mais.

Dados apresentados ao European Association of Urology (EAU) 25th Annual Congress em 19 de Abril  de 2010.

Os dados foram apresentados pelos fabricantes. O leitor fará os descontos que julgar necessários.