UM MEDICAMENTO POSTO À PROVA

Alguns medicamentos são aprovados para determinados momentos do avanço de um câncer, mas não para outros. Essas permissões impedem o uso do medicamento certo no momento errado e do medicamento errado no momento certo. A lógica do sistema empurra para vender mais e mais, dentro de limites, às vezes demasiado amplos. Usar um medicamento num estágio no qual ele ainda não produz efeitos, ou onde já não produz efeitos é perda de recursos e tempo, e pode ser perigoso se estiver sendo usado em  lugar do medicamento adequado. Pior, o medicamento errado pode ter efeitos colaterais pesados.
Noticiei que o denosumab (vendido como Xgeva) retarda a metástase óssea e deve ser usado em pacientes com alto risco de desenvolver esse tipo de metástase no caso de outros tipos de cânceres – e somente neles. Porém, não foi aprovado para ser usado em casos de câncer da próstata. 
O objetivo do medicamento é postergar ao máximo os problemas derivados das metástases ósseas: fraturas patológicas, compressão na espinha dorsal e outras.
Os dados a respeito do uso de denosumab em pacientes com câncer da próstata mostram que o medicamento retarda a metástase óssea em homens que já não respondem à terapia (anti)hormonal. A metástase demoraria 29,5 meses nos que receberam o tratamento em comparação com 25,2 dos que não receberam nada. Um ganho de pouco mais de quatro meses. Dada a idade dos pacientes e o seu sofrimento, há um argumento favorável. 
Porém, o grupo que examina essas propostas, o FDA Oncologic Drugs Advisory Committee foi mais cauteloso: o medicamento não aumenta a sobrevivência e tem um possível efeito colateral pesadíssimo, que é a osteonecrose da mandíbula que afeta 5% dos que usam esse medicamento. A votação dos membros do comitê não deixou lugar a dúvidas: 12 a 1. Seria um risco inaceitável para um medicamento que não aumenta a sobrevivência. 
Pediram mais dados à companhia que o fabrica. Se quiserem vender, têm que demonstrar mais benefícios e menos risco.
GLÁUCIO SOARES           IESP-UERJ

Boas notícias contra a metástase óssea

Como anunciado neste blog, há novidades no que concerne a metástase óssea, suas dores, seu tratamento.
É possível protelar a perda de minerais e é possível protelar o esfarelamento dos ossos. Protelar não significa curar nem impedir para sempre.

Mas esses processos estão entre os que mais dores e sofrimento causam aos cancerosos com metástase óssea. E levam a muitas mortes.

Qual a novidade?

A substância se chama denosumab e o nome nas prateleiras será Prolia. Como noticiei, acaba de ser aprovada pela FDA. Prolia foi pensada para combater a osteoporose pós-menopausa, mas a osteoporose tem múltiplas causas possíveis e Prolia parece eficiente contra osteoporose de diversas origens, inclusive a provocada pelo câncer.

A que custo? Não sai barato. A empresa, AMGEN, quer recuperar o investimento e ganhar o máximo. Está pressionada porque o seu maior ganha pão, chamado erythropoietin, está vendendo menos. Prolia será injetável, 60 mg cada seis meses, a um custo de US$ 825 por injeção. Mais de mil e seiscentos dólares por ano!

Talvez o preço fique mais baixo porque há competidores. Os bisfosfonatos são mais baratos: um, chamado Reclast (ácido zoledrônico), que também é injetável, custa a metade, mas tem que ser injetado freqüentemente – semanalmente ou mensalmente. Bisfosfonatos orais como Boniva e Actonel também são competidores. Os ingredientes ativos são ibandronato e risendronato, respectivamente. Há expectativa de que as vendas de Prolia cheguem a um bilhão de dólares no primeiro ano. No meio desses cálculos, imprensados por todos os lados, estamos nós, os pacientes.

Prolia se aplicará a cancerosos também? Parece, mas não sabemos. A União Européia aprovou a droga para ser usada contra a perda de minerais nos ossos devida à terapia anti-hormonal; a FDA, sempre mais prudente, quer prova com pesquisa clinica Tipo III.

Felizmente, a área de prevenção da perda de minerais nos ossos devido a tratamentos anti-câncer está em aberto e há competição, assim como avanços, mas é um número relativamente pequeno de pacientes em relação ao total de pessoas, particularmente mulheres, que sofrem com a osteoporose. É esse grupo maior que vai determinar o preço. Depois de vários anos, termina a exclusividade derivada da patente, aparecem os genéricos e os preços caem verticalmente. Mas há muito espaço para novos remédios no caso dos problemas causados pelo câncer e seu tratamento. O tratamento mais usado, no momento, é Zometa, fabricado pela Novartis e baseado no ácido zoledrônico.

Prolia é mais eficiente do que Zometa em postergar os problemas ósseos, como demonstrou uma pesquisa com quase dois mil pacientes. Os detalhes dessa pesquisa serão divulgados nos meetings da American Society of Clinical Oncology (ASCO) que começam essa semana em Chicago.

É interessante ver esse choque de lógicas. Como pacientes, queremos tratamentos logo, eficientes e baratos. Nossas vidas e nossos sofrimentos dependem disso. As empresas querem lucro e, para alcançá-lo, precisam demonstrar uma vantagem competitiva de tal maneira que a diferença em custo/benefício favoreça o seu produto.

Felizmente, a exclusividade obtida pelas patentes expira. Os genéricos barateiam muito. Mas o câncer não espera…

Como é a metástase óssea

Um tipo de scan que é usado para ver se há metástase usa tracers, de materiais radioativos que produzem radiação gamma. Os raios gamma podem ser “fotografados” por equipamento especializado. Em certo sentido, é o oposto dos raios x. Nos raios x a fonte radioativa é externa ao corpo, atravessa o corpo e marca o filme que está do outro lado do seu corpo. No gamma a estratégia é a oposta: os raios vem de dentro e marcam o filme que está fora do corpo.

Usualmente, escanear os ossos é medida que só se pede a pessoas com cânceres avançados. Usualmente, nos Estados Unidos, urólogos e oncólogos não pedem qualquer tipo de scanning a pacientes com um Gleason de menos de 7 E um PSA de menos de 20 ng/mL.

Se o câncer se tornar sintomático, particularmente com dores, quase sempre se pede um scan.

As micrometástases não aparecem no scan; raramente aparecem antes de cinco anos delas existirem. Um scan negativo não quer dizer, com certeza, que não há metástase. Ela pode ser pequena demais para ser detectada. Se a micrometástase estiver abaixo do nível de detecção do equipamento usado, ela não aparecerá.

Abaixo vemos um scan de um paciente com câncer já metastizado e muito avançado.

Um scan que parece positivo não significa automaticamente câncer. Outras doenças também aparecem nos scans, como algumas artrites.

Os scans mostram que há problemas, mas nem sempre podem dizer quais os problemas.
Há tratamentos que impedem o avanço do câncer temporariamente, como os tratamentos hormonais. Há outros que ajudam os ossos. Há outros, muito usados, que reduzem a dor. Não obstante, continuamos aguardando progressos que permitam curar o câncer ou, pelo menos, impedir a metástase.

Reduzindo a dor das metástases

Ainda bem que há um grupo grande, em diversos lugares, pesquisando a cura e a redução da dor provocada pelo câncer de próstata. Desta vez, a notícia vem da Dinamarca. O objetivo principal era diminuir a dor e aumentar a qualidade da vida de pacientes de cânceres de próstata com múltiplas metástases. Para isso usaram o que chamam de radiação sobre metade do corpo (half-body irradiation ou HBI). Pesquisa Fase II, com poucos pacientes. Quarenta e quatro pacientes, dos quais 93% com câncer de próstata foram “irradiados”. Trinta e sete receberam radioterapia na parte de baixo do corpo; cinco na alta e dois fizeram de forma seqüencial.

Há um questionário padronizado chamado de EORTC – Quality of Life Questionnaire C30 (QLQ-C30), muito usado nesses projetos. Como definiram melhoria? Se a redução indicada pelo paciente foi de mais de dez pontos nessa escala. Fizeram várias avaliações, depois de 2, 4, 8, 16 e 24 semanas após o tratamento. Houve melhoria em 76% dos que receberam HBI, sendo que 9% não tiveram mais dor. Um terço reduziu o consumo de analgésicos. Esta fase do estudo terminou depois de 24 semanas e muitos pacientes, a maioria, continuava com redução da dor.

Há efeitos colaterais: metade dos que receberam radiação “baixa” teve diarréia, começando duas semanas depois de iniciado o tratamento, um efeito que conheço bem. Houve alguns problemas pulmonares, suaves, em quatro dos sete que receberam radiação “alta”.

A conclusão é de que essa é uma opção segura, que reduz a dor e o sofrimento de pacientes em estado muito avançado.

Ver Berg RS, Yilmaz MK, Høyer M, Keldsen N, Nielsen OS, Ewertz M. , em Acta Oncol. 2008 Oct 31:1-6.



 

Reduzindo a dor das metástases

Ainda bem que há um grupo grande, em diversos lugares, pesquisando a cura e a redução da dor provocada pelo câncer de próstata. Desta vez, a notícia vem da Dinamarca. O objetivo principal era diminuir a dor e aumentar a qualidade da vida de pacientes de cânceres de próstata com múltiplas metástases. Para isso usaram o que chamam de radiação sobre metade do corpo (half-body irradiation ou HBI). Pesquisa Fase II, com poucos pacientes. Quarenta e quatro pacientes, dos quais 93% com câncer de próstata foram “irradiados”. Trinta e sete receberam radioterapia na parte de baixo do corpo; cinco na alta e dois fizeram de forma seqüencial.

Há um questionário padronizado chamado de EORTC – Quality of Life Questionnaire C30 (QLQ-C30), muito usado nesses projetos. Como definiram melhoria? Se a redução indicada pelo paciente foi de mais de dez pontos nessa escala. Fizeram várias avaliações, depois de 2, 4, 8, 16 e 24 semanas após o tratamento. Houve melhoria em 76% dos que receberam HBI, sendo que 9% não tiveram mais dor. Um terço reduziu o consumo de analgésicos. Esta fase do estudo terminou depois de 24 semanas e muitos pacientes, a maioria, continuava com redução da dor.

Há efeitos colaterais: metade dos que receberam radiação “baixa” teve diarréia, começando duas semanas depois de iniciado o tratamento, um efeito que conheço bem. Houve alguns problemas pulmonares, suaves, em quatro dos sete que receberam radiação “alta”.

A conclusão é de que essa é uma opção segura, que reduz a dor e o sofrimento de pacientes em estado muito avançado.

Ver Berg RS, Yilmaz MK, Høyer M, Keldsen N, Nielsen OS, Ewertz M. , em Acta Oncol. 2008 Oct 31:1-6.