QUANDO A ENZALUTAMIDA E A ABIRATERONA FALHAM, O QUE FAZER?

Os tratamentos contra o câncer da próstata mudam com o estágio do câncer. Não só os canceres adiantados diferem dos iniciais, mas variam muito entre as pessoas. Há aceitação de que cada paciente tem suas singularidades. Por isso, alguns respondem bem a esse ou aquele tratamento, mas outros não.

Quando os pacientes não respondem mais à terapia hormonal (de fato, uma terapia antihormonal, que suprime a testosterona), são chamados de pacientes com castration-resistant prostate cancer (CRPC). O tratamento hormonal equivale à castração.

Nesse nível, há algumas alternativas, sendo que duas cresceram nos últimos anos, devido à sua eficácia e conveniência: enzalutamida e abiraterona. Mas, desde os primeiros testes com essas drogas, se observa que um grupo não respondia a elas. Não se sabia o porquê. Pesquisaram, pesquisaram e descobriram que uma variante do receptor de andrógenos, a AR-V7, estava associada a esses dois medicamentos. Esse receptor é detectável nas células cancerosas que circulam no sangue. Como esses medicamentos aumentam a sobrevivência nos que respondem bem a eles, a questão é importante: são meses de vida que os pacientes deixam de ganhar. Em verdade, há pesquisas ainda recentes que sugerem que o uso conjunto de um deles e do docetaxel aumenta substancialmente a sobrevivência.

Quem carrega a AR-V7 não se beneficia dessa possível sinergia.

Outro possível combatente é a Galeterona. Será que funciona mesmo entre os que carregam o AR-V7?

Ainda é cedo, mas parece que sim, de acordo com uma pesquisa exploratória, clínica, chamada de ARMOR2.

Essa pesquisa, Fase II, trabalhou com diferentes grupos: 22 homens no nível de CRPC, mas sem metástase nem outro tratamento, 39 de nível CRPC com metástase, mas sem outro tratamento, 37 CRPCs com metástase, mas que não responderam a abiraterona e 9 em condições semelhantes que não responderam à enzalutamida. Todos receberam 2.250 mgs de Galeterona uma vez por dia.

A Galeterona reduziu o PSA nos pacientes CRPC com metástase. Além disso, exames de imagem mostraram que a doença parou de avançar ou regrediu.

Em sete pacientes com alta probabilidade de terem a variante AR-V7, seis responderam bem ao tratamento e o PSA diminuiu.

Nos sem metástase ou nos com metástase, mas que não haviam recebido abiraterona ou enzalutamida, em 70% o PSA baixou de 50% ou mais. Em 83% (mais de quatro em cinco) a baixa foi de 30% ou mais. Esses dados indicam que, nessa população, a Galeterona funciona.

Entre os que não responderam à abiraterona, 35% tiveram uma baixa no PSA e entre os que não responderam à enzalutamida, 56% não responderam.

A próxima pesquisa é ambiciosa, Fase III. Querem pacientes CRPC, com metástase, a variante AR-V7, para comparar com os que recebem enzalutamida.

Quanto tempo durarão os efeitos? Não sei. Funcionará melhor aplicada isoladamente, antes ou depois de outros tratamentos, ou conjuntamente? Também não obtive informação (creio que não há).

Então, o que há? Uma boa esperança, particularmente onde não havia quase nenhuma.

 

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

Nanopartículas aumentam a eficiência da químioterapia

As nanopartículas são parte de uma área interdisciplinar que promete ajudar os pacientes de câncer da próstata. O que elas fariam? Permitiriam o melhor aproveitamento de medicamentos quimioterápicos. Seriam doses adequadas introduzidas nas células cancerosas. A dosagem é importante e a exatidão da entrega também. Como disse o popular personagem Dr. House, químio é veneno. Por um lado, você quer doses suficientemente fortes para matar a célula cancerosa, mas não exageradamente fortes porque prejudicam – e muito – o paciente. Pela mesma razão – a virulência do tratamento – você gostaria que o veneno chegasse às células cancerosas e entrasse nelas, mas não nas células sadias. Há vários medicamentos sendo desenvolvidos com essa intenção. O que está sendo desenvolvido objetiva “entregar” mais de um agente quimioterápico às células certas na medida certa. Na maioria dos tratamentos, o veneno afeta células gregas e troianas, mas as cancerosas são mais suscetíveis e morrem em maior percentagem. Não obstante, o dano causado às células saudáveis pode ser extenso e irreversível.
Os êxitos se devem à habilidade de nanopartículas de levar cisplatina e docetaxel ao interior das células cancerosas afetando um número menor de células normais. Os resultados desejados, aumentar a eficiência dos tratamentos, diminuíndo, ao mesmo tempo, os efeitos colaterais foram atingidos.
Nada impede que essa estratégia seja usada contra outros cânceres.
Demonstrado o princípio no laboratório, o próximo passo é com animais, provavelmente camundongos, a ser seguido por um pequeno número de pacientes avançados e voluntários e, finalmente, por uma pesquisa FASE III, com muitos pacientes e um grupo controle. Isso tudo leva, infelizmente, muito tempo e a grande maioria dos tratamentos encontra problemas insolúveis no caminho e são descartados.


 

Quanto tempo de vida ganhamos com a quimioterapia?

Um artigo recente mostra qual a sobrevivência mediana de pacientes com câncer avançado, que já não responde ao tratamento hormonal, e ilustra os problemas com prever resultados individuais a partir de medidas de tendência central, como médias e medianas.

O experimento foi feito no Japão com 63 pacientes já refratários ao tratamento hormonal.  Foram tratados com docetaxel, estramustina e hidrocortisona. Na mediana (metade dos pacientes recebeu menos e metade mais) os pacientes receberam onze “sessões” de químio.

Resultados:

  • PSA foi reduzido em >50% em 32 pacientes, ou 51%.

  • Dezoito (29%) tiveram excelente reação, com uma queda maior do que 90% no PSA;

  • Na mediana o PSA levou seis meses para voltar a crescer, mas olhem a variação: de um a 41 meses!

E a sobrevivência?

  • A mediana significou 14 meses de vida, mas também variou muito, (de um a 56 meses).

A sobrevivência com a quimioterapia não sai barata para o corpo: 87% tiveram neutropenia de grau 3 ou 4, dois pacientes enfartaram etc.

Esse é um tratamento extreme, com resultados muito variáveis: um paciente morreu logo; outro durou mais quatro  anos e oito meses. Está longe de ser um tratamento eficiente.

Fonte: Nakagami Y, Ohori M, Sakamoto N, Koga S, Hamada R, Hatano T, Tachibana M. em Int J Urol. 2010 Apr 26.

A consulta com o Dr. Meyers

A van, Ford 1993, equipada para acampar é confortável e agradável. É fácil de dirigir, exceto inicialmente, nos momentos em que tive que dar marcha à ré.
Entre a beleza do inverno e a preocupação da almaAs estradas pequenas, no inverno são bonitas. Infelizmente, a comida de beira de estrada é…a comida de beira de estrada. O estomago e o intestino sofrem durante a viagem e a dieta vai para o brejo.</span>
O estado de espírito de quem tem uma doença incurável e está indo a um médico deve variar muito. Eu consegui curtir parcialmente a viagem, mas ia com esperança. Na clínica, durante todo o tempo que passei lá (umas três horas) vi apenas um ou dois pacientes. Já deu para ver o grau de apreensão em um deles, fiel e importantemente acompanhado pela esposa ou companheira.
Mas não dá para para não curtir (um pouquinho, pelo menos) o visual de estradas pequenas, cercadas de árvores, no meio da neve.

Estrada e mais estrada

A chegada mostra uma casinha simpática, simples, com estacionamento para poucos carros. Não é uma operação industrial. Feita, como tantas casas (e universidades) americanas, de tijolinho aparente.


A chegada é marcada por uma placa simples. Depois de quase três dias na van (rebatizada de school bus) pelo meu filho, foi um alívio chegar ao lugar certo.

As estradas pequenas são mais bonitas

Aqui dentro vi um tipo de atendimento ao paciente muito diferente do usado nos Estados Unidos onde somos primeiro recebidos por uma enfermeira, que pesa, tira a pressão, temperatura etcx. Um primeiro e importante cuidado – a pressão é tirada duas vezes, além do que a enfermeira pergunta se essa é a pressão habitual. Ela mostra consciência da chamada “white coat syndrome”: a pressão aumenta na presença de médicos etc. Estava lá por 180, na segunda por 160 e eu aduzi que poderia reduzí-la em outros vinte pontos.
Visitei o AIDP no dia anterior, turbinado pela insegurança de não me perder, chegar atrazado, essas coisas. Uma das secretárias estava preparando o meu dossier. Quando cheguei no dia seguinte vi um senhor baixo, sem gordura para mostrar, de cabelos brancos estudando uns records que eu sabia serem os meus.

Perto, estradas menores, mais curvas e mais beleza

O Dr. Meyers é simpático, agradável. Me tratou com o respeito de quem tem uma doença grave, considerada incurável, que ele também teve ou tem.
Muitos dos suplementos que eu usava ele desaconselhou porque não confiava no fabricante. Traçou um plano de ação que consistia em me preparar para uma terapia hormonal(que deveria ser chamada de anti-hormonal) porque ela tem muitos efeitos colaterais. Há uma diferença em relação ao procedimento habitual, que consiste em iniciar a terapia e aconselhar o paciente a tomar essas e aquelas medidas: ela prepara o paciente e depois inicia a terapia – nos casos em que é possível esperar um pouco. É onde estou e é minha responsabilidade atingir as metas marcadas, ajudado por muitos remédios, mas com compromisso com uma dieta mediterrânea e muito exercício.

O AIDP - uma casinha desprentensiosa com estacionamento para poucos carros

Dr. Meyers me convenceu de algumas coisas, particularmente de que a relação custo/benefício da terapia hormonal pode ser menor e precisa de especificação. A duração do efeito dos tratamentos varia muito e varia de acordo com a doença do paciente e os procedimentos adotados anteriormente.
Os famosos 18 meses de atuação se referem com a próstata, metástase generalizada e que ainda tem a próstata. Análise patológica mostra que metade do crescimento do câncer depois da terapia se inicia na próstata. Nos casos em que houve metástase para os nódulos linfáticos e houve prostatectomia o efeito dura dez anos em 50% a 95% dos casos, dependendo do estudo e da publicação. No caso dos que preservaram a próstata em metade dos casos a terapia hormonal fracassa aos 7-8 anos.
Nos pacientes com metástase generalizada e com sintomas, o efeito é reduzido: em metade dos casos a doença volta a crescer em 8 a 9 meses.
A lição: dependendo do paciente, a duração dos benefícios da terapia hormonal varia de menos de oito a nove meses a mais de dez anos.
Continuarei relatando essa experiência para beneficiar o leitor. Porém, estou preocupado com um grande número de  leitores com acesso à internet mas sem capacidade analítica e com um nível educacional muito baixo. Pediria a cada um dos pacientes mais informados e seus familiares que divulgassem o conhecimento que adquiriram (rão) aqui e em outras fontes entre os que não conseguem entender o que escrevemos.

A placa que garante que chegamos ao lugar certo

Ir ao Dr. Meyers não sai barato. Ele não aceita o seguro tradicional do Medicare (tem um contrato de não aceitação) e custa 350 dólares por cada meia hora. Minha entrevista durou duas horas e o custo total foi de mil e quatrocentos dólares. Uma viagem que eu planejava foi para o espaço. Valeu a pena.


O OGX-011 aumenta a eficiência da quimioterapia

Já mencionei, neste blog, um tratamento, um remédio, chamado OGX-O11, já descrito e divulgado neste blog, para cânceres da próstata já com metástase. Os bons resultados dos testes indicam que custirsen sodium (o ingrediente de OGX-011) age em combinação com docetaxel (químio) e melhora os pacientes. Esses resultados preliminares fazem com que a FDA o coloque num processo de aprovação rápida. O OGX-011 aumenta a sobrevivência dando mais e melhores resultados ao docetaxel, tornando-o mais eficiente. Mais um ganho. Em dois anos ou menos deverá estar nas prateleiras.

O que a químio faz no câncer da próstata?

A quimioterapia mais usada hoje contra o câncer de próstata se chama Taxotere. Era usado contra o câncer  de mama, mas como a “segunda” linha – quando a químio da primeira linha falhava. Hoje, é o padrão no tratamento do câncer de próstata avançado.
Desde há umas décadas que se tentava uma quimioterapia contra esse câncer, mas sem resultados. Verdade, eram medicamentos desenhados para combater outros cânceres, não o da próstata. Eram usado no desespero, em pacientes prestes a morrer, com muita dor e muito enfraquecidos. Eram pacientes do tipo no qual quase nada funcionaria.
Hoje há medicamentos “inteligentes”, que usam o conhecimento acumulado em décadas de pesquisas sobre células, moléculas, bioquímica. No caso do câncer da próstata, o Taxotere é o primeiro que deu bons resultados – mas ainda falta muito. Virou tratamento padrão, mas somente para pacientes que já não respondem ao tratamento hormonal. Às vezes é usado junto com uma ou outra forma de tratamento hormonal. Sem lugar a dúvidas, muitos pacientes experimentam melhoria na qualidade da vida porque a dor diminui e muitos também vivem mais tempo, embora menos do que todos desejamos.
Como funciona?
Taxotere inibe a proliferação de células cancerosas, inibindo os efeitos de uma proteína chamada de Bcl-2, que impede que as células cancerosas morram “normalmente”. Para quem não sabe, as células morrem normalmente e são substituídas por outras, recém-criadas. As células cancerosas se subdividem rapidamente e o tumor cresce.
Um problema é fazer o Taxotere chegar às células cancerosas do paciente. No laboratório, se adicionarmos Taxotere às células cancerosas, elas morrem. O remédio paralisa a célula.
Mais de metade dos pacientes tratados se beneficiam com um período de remissão da doença, mas os efeitos ainda deixam muito a desejar. Vivem, na média, três meses a mais do que os que receberam o tratamento padrão anterior. É pouco, mas há pesquisas para melhorar o medicamento.
Há efeitos colaterais também. Cai cabelo, há náuseas e vômitos, ainda que moderados, aumenta a chance de infecções e de anemia. Quase todos os efeitos acabam quando acaba a terapia.
Como saber se o tratamento está funcionando?
A diminuição do PSA é uma das maneiras. Se o PSA diminui ou para de crescer, o medicamento está funcionando. Se isso não acontecer em dois meses, não adianta continuar o medicamento.
Infelizmente, muitas células escapam ao tratamento e voltam a se reproduzir. Pode durar pouco ou bastante. Taxotere aumenta alguns meses de vida, na média. Há os que não se beneficiam em nada e há os que vivem muitos meses ou alguns anos a mais com mais qualidade de vida.
Há muita, muita gente no mundo com câncer de próstata avançado. Esse número só tende a aumentar com o envelhecimento da população. É um mercado considerável e por isso (e não por idealismo) que muitas empresas estão investindo pesado em outros tratamentos que começam a dar bons resultados experimentais. Pelas piores razões talvez tenhamos os melhores resultados.

O que esperar de Docetaxel mais prednisone

Um grupo canadense, o Canadian Uro-Oncology Group Multicentre Phase II Study of Docetaxel, estudou o efeito de docetaxel mais prednisona em pacientes com cânceres muito avançados (com metástase, refratários ao tratamento hormonal e que avançava mesmo depois do uso de Mitoxantrone/Prednisona. Aplicaram docetaxel (75 mg/m(2) na veia) de 3 em 3 semanas e 5 mg de prednisona via oral duas vezes por dia. Queriam ver durante quanto tempo conseguiam “parar” o avanço do câncer, a sobrevivência, o controle do PSA, o controle da dor, a toxicidade e a qualidade da vida. Fase II usualmente significa poucos pacientes com cânceres muito avançados. Trinta pacientes participaram desse estudo. A mediana da idade era de 69 anos (metade mais, metade menos), a média do PSA era nada menos do que 324 ng/dL, e 86% tinham dor. Houve uma redução do PSA em 57% e uma redução da dor de quase dois terços.
Quanto tempo conseguiram parar o câncer? A mediana (metade mais, metade menos) foi de cinco meses e a mediana da sobrevivência foi de 15 meses. A aplicação de Docetaxel foi exitosa sobretudo para reduzir o PSA e a dor. Era parte do que queriam saber – se o Docetaxel provocava melhores além das obtidas com prednisona. Como sempre, houve efeitos colaterais, mas de menor impacto em comparação com o que se ganhou de tempo de vida e de qualidade de vida. Confirma outros estudos que mostram ganhos com o uso da combinação em pacientes em estágio avançado.

Fonte: BJU Int. 2008 May 26.

O que esperar de Docetaxel mais prednisone

Um grupo canadense, o Canadian Uro-Oncology Group Multicentre Phase II Study of Docetaxel, estudou o efeito de docetaxel mais prednisona em pacientes com cânceres muito avançados (com metástase, refratários ao tratamento hormonal e que avançava mesmo depois do uso de Mitoxantrone/Prednisona. Aplicaram docetaxel (75 mg/m(2) na veia) de 3 em 3 semanas e 5 mg de prednisona via oral duas vezes por dia. Queriam ver durante quanto tempo conseguiam “parar” o avanço do câncer, a sobrevivência, o controle do PSA, o controle da dor, a toxicidade e a qualidade da vida. Fase II usualmente significa poucos pacientes com cânceres muito avançados. Trinta pacientes participaram desse estudo. A mediana da idade era de 69 anos (metade mais, metade menos), a média do PSA era nada menos do que 324 ng/dL, e 86% tinham dor. Houve uma redução do PSA em 57% e uma redução da dor de quase dois terços.
Quanto tempo conseguiram parar o câncer? A mediana (metade mais, metade menos) foi de cinco meses e a mediana da sobrevivência foi de 15 meses. A aplicação de Docetaxel foi exitosa sobretudo para reduzir o PSA e a dor. Era parte do que queriam saber – se o Docetaxel provocava melhores além das obtidas com prednisona. Como sempre, houve efeitos colaterais, mas de menor impacto em comparação com o que se ganhou de tempo de vida e de qualidade de vida. Confirma outros estudos que mostram ganhos com o uso da combinação em pacientes em estágio avançado.

Fonte: BJU Int. 2008 May 26.