A disputa sobre o Avodart é antiga. Vários artigos sugeriam um benefício. Mas tinham um problema de origem: o autor de quase todos, Andreole, tem vínculos conhecidos e admitidos publicamente com a empresa que o fabrica, a GlaxoSmithKline.
Outros estudos apareceram, demonstrando que o medicamento baixava “artificialmente” o PSA. Dificultava a expressão do PSA, mas não tocava no câncer. Ora, o que se quer curar é o câncer e não o PSA…
Surgiram mais estudos recentes sugerindo que o Avodart, afinal de contas, tem um efeito positivo. O Avodart era usado para tratar próstatas artificialmente grandes e não o câncer. O que “surgiu” é que o Avodart desacelera o câncer. Uma implicação, dependendo da idade e estado geral de saúde do paciente, é tornar desnecessários procedimentos de diagnósticos e curativos que sejam caros e dolorosos. Os pacientes, com o câncer crescendo mais lentamente, podem “ficar de olho” na doença sem uma intervenção imediata.
Há uma clara diferença entre os Estados Unidos e vários países europeus no caminho a seguir. Os americanos têm um receio tão grande do câncer que 80% exigem tratamentos imediatos e radicais.
Já na Europa a maioria opta por acompanhar a doença e só tratar se adoecerem claramente. Muitos pacientes vivem muito e morrem de outras causas sem qualquer tratamento para o câncer. Dois medicamentos, Avodart e Proscar, ajudam a impedir o câncer – os que seguem esse tratamento têm perto de 20% de probabilidade a menos de desenvolvê-lo.
Em que essa pesquisa difere das anteriores? Neil Fleshner da University Health Network and Princess Margaret Hospital em Toronto diz que o Avodart dificulta o progresso da doença. A pesquisa estudou trezentos cancerosos de baixo risco, confirmados por uma biopsia. Receberam Avodart ou placebo diariamente durante um ano e meio ou três anos. O câncer piorou em 38% dos pacientes tomando Avodart e em 49% dos que tomaram o placebo. Foram feitas novas biópsias que em 36% dos pacientes que tomaram Avodart não encontraram nenhum câncer (o que não quer dizer que não estivesse lá) e em 23% dos que tomaram um placebo.
Avodart e Proscar têm efeitos colaterais. A pílula de Avodart custa perto de quatro dólares e a genérica de Proscar perto de dois.
GLÁUCIO SOARES