Rio: o melhor abril em 24 anos

A despeito da declaração de guerra por parte do tráfico, com o intuito de retomar os territórios perdidos, que me foi anunciada há uns três anos pelo Zeca Borges, o Estado prossegue com sua campanha vitoriosa para reduzir os homicídios. Pensem no número de vidas que seriam perdidas se continuasse o aumento das mortes por armas de fogo observado e constatado até 2003, ano em que foi promulgado o Estatuto do Desarmamento. Os problemas que enfrentamos não derivam da incompetência  e do descaso, como observamos em tantos estados brasileiros, e muito menos das UPPs, símbolos da reação do nosso Estado, mas com leis e justiça em descompasso com a realidade brasileira, que é extremamente violenta. É enorme a proporção dos que matam, roubam e assaltam que já foram presos, deveriam estar presos, mas foram 

 soltos.Em todos os estados brasileiros, a reincidência é inaceitávelmente alta

 soltos.Em todos os estados brasileiros, a reincidência é inaceitavelmente alta.
 
 
 
 
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Redução foi impulsionada pelos registros na Região Metropolitana e na Baixada Fluminense, com quedas…
CBN.GLOBORADIO.GLOBO.COM
 

ACABANDO COM O VOTO SECRETO NO LEGISLATIVO

Recebi texto de Michael Freitas Mohallem da Avaaz.org. Reproduzo resumo com modificações. O site da Avaaz merece ser visitado: http://avaaz.org/en/

Caros membros da Avaaz em todo o Brasil,

Nós conseguimos! O Congresso finalmente acabou com o voto secreto para cassação de mandatos de parlamentares. Nossa comunidade esteve por trás de cada etapa. Esta semana, o Senador xxx disse que a nossa vitória só foi possível “graças à participação da sociedade, e a Avaaz teve um papel fundamental ao levar a voz de tanta gente para o Congresso Nacional.”

É uma vitória enorme. [Os] políticos condenados ou envolvidos em esquemas de corrupção… [terão mais dificuldade em] se manter no poder por meio de acordos, chantagem e intimidação em troca de proteção. Com o voto aberto, … [dificilmente os] político[s] arriscarão sua reputação para salvar corruptos e condenados.

A luta ainda não acabou. As manobras… conseguiram evitar o voto aberto para a eleição da presidência do Senado, o que [dificultaria corruptos]… de serem eleitos.

 

 

Ainda falta!

 

GLÁUCIO SOARES

A qualidade dos dados sobre homicídios no Brasil

Em boa hora, recebi de José Maria Nóbrega – Professor e Pesquisador da UFCG – quem me lembrou desse excelente estudo do Daniel Cerqueira
 
Trabalho publicado recentemente como texto para discussão do IPEA[1] intitulado “Mapa dos Homicídios Ocultos no Brasil”, de autoria do economista Daniel Cerqueira, demonstra como boa parte das mortes violentas consideradas como “causa indeterminada” na verdade foram mortes violentas letais e intencionais. O autor utilizou o banco de dados do SIM (Subsistema de Informação de Mortalidade) do SUS (Sistema Único de Saúde) para analisar os dados de “mortes por agressão”, numa série temporal de 1996 a 2010. Para isso, foram analisadas as características socioeconômicas e situacionais associadas a cada uma das quase 1,9 milhão de mortes violentas registradas naquele período. Descobriu-se que 18,3% das mortes por “causa indeterminada”, ou 8.600 mortes, seriam de homicídios que ficaram ocultos nas cifras oficiais dos dados do sistema de saúde. Os cálculos estatísticos e econométricos executados por Cerqueira mostraram ainda que o crescimento substancial da taxa de homicídios em muitos estados brasileiros, com particular destaque para a região Nordeste, na verdade não ocorreram, pois os índices oficiais foram conduzidos pela diminuição da subnotificação, resultado da melhoria do processo de catalogação dos dados no Nordeste. Contudo, verificou-se preocupante aumento das mortes violentas cuja intenção não foi determinada em alguns estados brasileiros, com destaque para Rio de Janeiro; Bahia; Rio Grande do Norte; Pernambuco; Roraima; Minas Gerais e São Paulo. O foco desta análise será o estado de Pernambuco, sobretudo no período entre 2007 e 2010, período este onde o governo daquele estado implementou um programa de segurança pública específico, o Pacto Pela Vida (PPV), que visava reduzir os homicídios no Estado em 12% ao ano.
Os homicídios ocultos são todas as mortes que, a priori, eram consideradas mortes violentas por “causa indeterminada”. Esta acontece quando o sistema de saúde pública local não consegue identificar a causa primeira que levou ao processo mórbido (Cerqueira, 2013: p. 7).
“Nos países desenvolvidos, a morte violenta indeterminada é um fenômeno atípico. No Brasil, contudo, em 2010, cerca de 10,3% do total destas mortes foram assim classificadas, revelando uma grave disfuncionalidade no sistema de produção de informações sobre os óbitos violentos” (idem, 7).
A presente análise busca destacar os dados analisados por Cerqueira (2013) para o caso de Pernambuco em específico. Para tal, inicialmente detalharemos a metodologia utilizada por este autor para trabalhar os dados de Homicídios Ocultos (HOs) e como se chegou a definir esta variável. Numa outra seção analisaremos os dados de Pernambuco dos HOs em relação aos dados de Homicídios oficiais registrados pelo mesmo banco de dados utilizado por Cerqueira (2013). Por fim, a conclusão com os principais resultados alcançados.
 
Metodologia do estudo de Cerqueira (2013)
 
Como frisei na introdução, Cerqueira (2013) utilizou o banco de dados do SIM para efetivar seu estudo sobre os Homicídios Ocultos (HOs).
“O SIM foi desenvolvido pelo Ministério da Saúde (MS) em 1975 e informatizado em 1979. Em 1991, com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e a subjacente premissa de descentralização, a coleta de dados foi repassada à atribuição dos estados e municípios, por meio das suas respectivas secretarias de saúde. Até 1995, o SIM adotou a 9ª Revisão da Classificação de Doenças (CID-9) quando, a partir daí, empregou-se a Classificação Internacional de Doenças (CID-10)” (p. 08).
O trabalho concentrou-se nas mortes não naturais por causas externas, com foco especial nas mortes violentas por acidente ou morte suspeita (indeterminada) que o autor utilizou como proxy para os HOs.
Estas mortes chegam a ser classificadas como “morte violenta indeterminada” quando o preenchimento da declaração de óbito (DO) por parte do médico legista não é esclarecedor. Daí, quando a DO chega às secretarias de saúde e os codificadores não tem informações suficientes para compor o cadastro, coloca a morte como indeterminada, dependendo, desde aquele momento, recorrer ao IML[2] para ter acesso ao laudo de exame cadavérico e mais informações junto à polícia civil.
Incidentes onde a causa básica do óbito não é clara, a informação junto à polícia é crucial. Contudo, há várias dificuldades em ter este acesso junto àquela instituição coercitiva (CERQUEIRA, 2013: p. 09).
Cerqueira analisou os óbitos violentos analisando as características socioeconômicas das vítimas. Essas características ligadas a raça/cor da pele e ao nível de escolaridade. As mortes violentas por causas externas foram classificadas em quatro categorias:
1.     Determinada não resultante de agressões, que corresponde à união dos incidentes ocasionados por acidentes e suicídios;
2.     Homicídios ou agressões;
3.     Indeterminada;
4.     Outros óbitos.
Na categoria “indeterminada” – foco de nossa análise – Cerqueira classificou segundo os instrumentos do possível incidente:
1.     Perfurante – mortes ocasionadas por objetos perfurantes ou cortantes;
2.     Contundente – mortes ocasionadas por objetos como paus, pedras e outros, o que pode provocar a morte sob várias ações, como golpe, pancada, pontapé e mordedura;
3.     Enforcamento – agregando também os estrangulamentos;
4.     Fogo – óbitos ocasionados por inalação de fumaça por consequência do fogo e incêndio;
5.     Envenenamento – ingestão de uma grande variedade de substâncias, como álcool, drogas psicoativas, medicamentos, solventes et cetera;
6.     Perfuração por arma de fogo – PAF.
No texto original, Cerqueira despreza as mortes que não foram catalogadas oficialmente pelo banco de dados do SIM. No que se referem à qualidade da informação produzida em cada unidade federativa, duas métricas foram consideradas na metodologia de análise: 1. O índice de mortes violentas indeterminadas e 2. A proporção de informações socioeconômicas e situacionais não preenchidas[3] (p. 14).
Os dados de mortes indeterminadas foram avaliados em termos de taxas por cada grupo de 100 mil habitantes. As duas variáveis analisadas para averiguar os HOs foram a causa definida da morte e os dados socioeconômicos (sexo, idade, raça, estado civil e grau de escolaridade da vítima).
Dos 1.898 milhões de assassinatos ocorridos entre 1996 e 2010, o Estado não conseguiu definir a causa básica da mortalidade em 174.233 homicídios. O que corresponde a 9,18% dos casos. Nas estatísticas trabalhadas, os estados foram divididos em três categorias classificados pela qualidade dos dados. O primeiro grupo de estados com menor prevalência de mortes indeterminadas foram: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Piauí, Paraná, Santa Catarina e Tocantins. O segundo grupo de estados numa zona intermediária de dados de mortes indeterminadas foram: Ceará, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Rondônia e Sergipe. E o terceiro grupo dos estados com maiores índices de mortes indeterminadas foram: Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Roraima e São Paulo. Em Pernambuco, a piora dos dados se apresentou nos últimos anos da série histórica.
Em Pernambuco há altas taxas de mortes indeterminadas com baixas taxas de desconhecimento sobre o instrumento utilizado na morte, com os dados se deteriorando a partir de 2007[4]. Os dados de Pernambuco são elencados abaixo e serão, em seção específica, comparados com os dados determinados pelo SIM. (Cf. Quadro 1).
 
Quadro 1. Taxa de mortes indeterminadas por 100 mil habitantes em Pernambuco (2000-2010)[5]
 
Fonte: MS/SVS/Dasis/SIM. Taxas calculadas por Cerqueira (2013).
 
Resultados da análise em relação ao Estado de Pernambuco
 
Os dados de homicídios ocultos e homicídios registrados em Pernambuco serão analisados separadamente nesta seção. Os indicadores mostram que as taxas de mortes indeterminadas são crescentes em Pernambuco entre 2000 e 2010 e que esse crescimento refletiu no quantitativo de homicídios ocultos em relação aos homicídios registrados oficialmente pelo Sistema de Informação de Mortalidade (SIM. Cf. gráfico 1).
 
Gráfico 1. Taxa de mortes indeterminadas como proporção do total de mortes por causas externas em Pernambuco (2000-2010)
 
 
 
Fonte: MS/SVS/Dasis/SIM. Taxas calculadas por Cerqueira (2013).
 
O gráfico 2 mostra as taxas de homicídios em Pernambuco e a queda dos dados, com destaque para o período 2007-2010. Justamente neste período de redução há um incremento nos números absolutos de homicídios ocultos. Conforme pode ser visto no Quadro 2.
 
Gráfico 2. Taxas de homicídios em Pernambuco (2000-2010)
 

 

 
Fonte: SIM. Cálculo das taxas do autor.
 
 
Quadro 2. Número de homicídios ocultos em Pernambuco x Número de homicídios registrados em Pernambuco; soma dos HOs com os HRs e a diferença percentual (2000-2010)
 
 
 
Fonte: MS/SVS/Dasis/SIM. Cerqueira (2013). Elaborado pelo autor.
 
O crescimento percentual dos HOs ocorre de forma mais expressiva nos anos de 2007 (8%), 2008 (9,3%), 2009 (12%) e 2010 (14,3%). Nesse período, a redução nas taxas de homicídios em Pernambuco foi de 4,3% na relação 2007 (taxa de 53,03/100 mil) 2008 (50,88/100 mil), menos 11,6% na relação 2008/2009 (taxa de 44,96/100 mil) e menos 12,3% na relação 2009/2010 (taxa de 39,44/100 mil). Percentual próximo dos dados de HOs, o que pode, praticamente, zerar o processo de redução dos crimes de homicídios.
 
Gráfico 3. Crescimento percentual dos homicídios ocultos em relação aos homicídios registrados em Pernambuco (2000-2010)
 
 
 
Fonte: SIM. Cálculos percentuais dos HOs do autor.
 
O percentual de homicídios ocultos cresceu em Pernambuco entre 2000 e 2010. O período de 2007 a 2010– que coincide com o início do PPV – foi o mais expressivo. Em 2010 a diferença percentual entre HOs e HRs foi de mais de 14%.
 
Conclusão
 
O estudo analisado demonstra que houve variações em torno dos ditos Homicídios Ocultos no Brasil, sobretudo nos últimos anos da série histórica (2007-2010). Alguns estados apresentaram diminuição dos HOs o que resultaria numa diferença impactante nos dados oficiais de homicídios (HRs).
“Segundo registros oficiais, o número de homicídios no Rio Grande do Norte, no Rio de Janeiro e na Bahia teria aumentado 3%, 5,6% e 7,8%, respectivamente, as estimativas deste trabalho indicaram que a variação foi de -19,4%, -20,6% e -6,3%. Ou seja, a diminuição do número de mortes violentas indeterminadas – e de HOs – que ocorreu em 2010 terminou por esconder uma queda notável no número de homicídios que houve nestes estados, nesse último ano” (CERQUEIRA, 2013: 38).
Já em outros estados, como em Pernambuco, ocorreu o inverso. O crescimento dos HOs ligado à qualidade dos dados de mortes “indeterminadas”, “mascarou” os dados na realidade. Como foi visto no decorrer do texto, o nível de Pernambuco esteve entre os mais altos da análise. Em 2010, por exemplo, a estimativa de HOs no referido Estado foi de 14% dos dados de mortes indeterminadas, enquanto neste mesmo ano a redução nas taxas de homicídios em relação a 2009 foi de 12,3%.
A presente análise nos faz refletir sobre a realidade da violência no Estado de Pernambuco. A qualidade da informação vem se deteriorando o que reflete no crescimento de mortes “indeterminadas” e, por sua vez, na transparência dos dados oficiais. O Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) para Pernambuco vem apresentando maior número de mortes sem informação detalhada. Oaccountability diminui quando os dados pioram e as estatísticas terminam por não trazer a realidade fazendo com que a gestão pública seja questionada, ou seja, que o PPV seja questionado na sua capacidade de reduzir homicídios.
 
Referência bibliográfica:
 
CERQUEIRA, Daniel (2013). Mapa dos Homicídios Ocultos no Brasil. Texto para Discussão 1848. IPEA. Rio de Janeiro.


[1] Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
[2] Instituto de Medicina Legal.
[3] As informações socioeconômicas são preenchidas na Tabela 6 do original em um modelo de regressão logística. Segundo este modelo, quando a informação é “ignorada” pelo sistema esta está associada a alguma característica que possui alto conteúdo informacional, já que está sempre associada a um forte e positivo efeito sobre a probabilidade de a vítima ter sofrido homicídio. Por exemplo, quando o sexo da vítima é ignorado, isto contribui para aumentar 19,5 pontos percentuais (p.p.) a probabilidade de a vítima ter sofrido homicídio, em relação de a vítima ser do sexo feminino. Quando o indivíduo é de cor preta ou parda nas mortes ditas indeterminadas, há uma probabilidade de 7,5 p.p. de ter sido vítima de homicídio em relação ao de cor branca (CERQUEIRA, 2013: 30).
[4] Justo no início do Pacto Pela Vida, plano de segurança pública do Governo de Pernambuco  que tem a meta de reduzir os homicídios em 12% ao ano.
[5] No trabalho original, Cerqueira (2013) traz os dados de 1996 a 2010, aqui vou me deter nos dados de 2000 a 2010.




Postado por José Maria Nóbrega no Democracia, Autoritarismo, Semidemocracia e Instituições em 10/28/2013 10:54:00 AM

Segurança Pública e Segurança Nacional: breve história e diferenças

 Na Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), há uma área temática, Segurança pública e segurança nacional, cujos coordenadores são  Gláucio Soares, IESP-UERJ, e Jorge Zaverucha, UFPE. Na Associação Latino-Americana de Ciência Política (ALACIP), há um Grupo de Pesquisa dedicado à mesma área temática. Nas duas associações há propostas de separação das duas. A descrição da Área Temática na ABCP descreve as conexões entre essas subáreas:

Resumo: A Segurança Pública e a Segurança Nacional estiveram juntas durante a ditadura, sendo a segunda dominante. A Polícia Militar dos diversos estados foi colocada na posição de Força Auxiliar do Exército. Após 1985, foi trabalhoso convencer os militares, e parte da população, de que elas são coisas diferentes e que a formação militar não prepara os militares para exercer funções de polícia. O aumento da violência na sociedade civil tornou claro que crime e violência eram áreas de interesse público e o êxito de alguns governos (municipais, estaduais e federais) mostrou que havia políticas públicas que poderiam reduzir o crime e os homicídios. Com isso, um número crescente de governos contratou pessoas com treinamento na área de segurança publica e disciplinas conexas, como a Criminologia, a Sociologia e a Ciência Política. Cresceu o interesse e foi criado o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, já em seu sétimo Encontro, com organização e site (www.forumseguranca.org.br). A necessidade de demonstrar que políticas públicas adotadas eram exitosas gerou a necessidade de usar instrumentos rigorosos de avaliação. Essa área cresceu, se diversificou, e os programas de segurança pública passaram a integrar programas de governo e a contribuir para a eleição ou derrota de candidatos ao governo dos estados. O distanciamento em relação à Segurança Nacional, inicialmente política e intencional, passou a ser espontâneo. A Segurança Pública incorporou, como em outros países, outras áreas de atividade (como as mortes violentas, a segurança no trânsito etc.) e, com isso, já dispõe de um volume de temas e seus especialistas que justificam a sua transformação em uma área temática de direito próprio.

Justificativa: O título “Segurança Pública e Segurança Nacional” expressa a subsunção da primeira à segunda, como estabelecido pela Lei de Segurança Nacional, compreensível durante a ditadura. Desde então, parte importante do conteúdo da Segurança Nacional foi encampada pelas Relações Internacionais no que se refere a assuntos ligados à Defesa Nacional (pré-sal, guerra cibernética, fronteiras, outros). As manifestações de junho de 2013 reforçaram a convicção de que o tema central deveria ser “Segurança Pública e Democracia”, o verdadeiro sentido dos debates desta AT. Cada vez mais a cidadania contesta as imperfeições da democracia brasileira e suas ações são definidas e divulgadas sob o prisma da segurança pública. 

 

Gláucio Soares, IESP-UERJ, e Jorge Zaverucha, UFPE.

 

Visite os sites das duas organizações:

http://www.cienciapolitica.org.br/

http://alacip.org/

 

 

Bilhões contra centavos

Algumas das bandeiras levantadas pelos manifestantes, que estavam presentes nas redes sociais há tempos, se referem à conveniência (ou não) de realizar copas e olimpíadas quando faltam recursos para a infraestrutura, o transporte, a educação e a saúde. Porém, há outros pontos relacionados aos eventos esportivos internacionais que o Brasil sedia e sediará que são perturbadores e podem levantar novas bandeiras e alimentar novas manifestações. 

As reivindicações são sociais e políticas, ainda que apartidárias e a grande maioria dos milhões de manifestantes defende o que já foi chamado de “uma nova democracia”, com níveis muito altos de participação. É um contraste com o caráter autocrático de muitas organizações esportivas e com os problemas de corrupção nas relações entre elas e os países sede. É um ninho de vespas esperando ser tocado. 
A FIFA é uma organização autocrática? Julgue você: ela foi fundada em 1904 e teve oito presidentes até agora, com uma permanência média de 13,6 anos no poder. É muito. Jules Rimet, cujo nome foi dado à primeira taça das Copas Mundiais, presidiu a FIFA durante 33 anos. Três morreram na presidência. A democracia requer mandatos fixos e limites na permanência no poder. 
A presidência da FIFA revela sua origem eurocêntrica. Dos oito presidentes, sete eram ou são europeus. Nosso conhecidíssimo João Havelange, até agora, é a única exceção. Teve o inegável mérito de globalizar o futebol e a FIFA, contra, diga-se de passagem, os protestos de muitos europeus. Porém, ele também teve um extenso reinado, de 24 anos, marcado por acusações de corrupção. O atual presidente, Blatter, assumiu em junho de 1998. Já completou quinze anos na presidência. 
Esse caráter autocrático, com concentração de poder e número ilimitado de reeleições, marca muitas associações esportivas, nacionais e internacionais. Havelange, quando presidiu a CBF, permaneceu 23 anos. Roberto Teixeira, que saiu há pouco, outros 23. E há problemas de nepotismo. Ricardo Teixeira foi casado com a filha de João Havelange, Lúcia. Outras organizações esportivas, nacionais e internacionais, também se caracterizam por extensas permanências dos que ocupam os cargos mais altos e por empregar parentes e amigos de seus presidentes ou diretores.
O descompasso com o principio democrático não é de hoje, nem é peculiar à FIFA. Organizações internamente autocráticas convivem mal com países democráticos. Segundo o The Sun, Jérôme Valcke, Secretário Geral da FIFA, afirmou que era mais fácil lidar com um líder forte, como Putin, do que com países democráticos, como a Alemanha. Talvez seja, apenas, uma constatação. Há receios de que expresse uma preferência. Blatter foi mais longe: afirmou que a Copa de 1978, na Argentina, foi uma forma de reconciliar os argentinos com o sistema político. Como sabemos, era uma ditadura militar. No dia 2 de outubro de 1968, ocorreu um massacre em Nonoalco-Tlatelolco, no México. Havia uma manifestação, como as que ocorrem no Brasil, lideradas por jovens. As forças repressivas abriram fogo. As estimativas do número de mortos variam entre 30 e 300. Alguns dias depois do massacre o México sediou as Olimpíadas e, em 1970, ainda presidido por Diaz Ordaz, a Copa. As Olimpíadas de 2008 foram realizadas em Beijing, a despeito de conflitos no Tibete e de uma proibição de filmar na Praça Tiananmen, palco de enfrentamento entre populares pró-democratização e o governo chinês em 1989. É difícil estimar o número de mortos nesse tipo de acontecimento; as estimativas são de cinquenta policiais e de 400 a 800 civis. Não obstante, a estimativa do correspondente Jan Wong é mais alta, cerca de três mil. Evidentemente, a transferência de uma Olimpíada ou de uma Copa do Mundo tem sérias consequências econômicas e acarreta desprestígio politico; diante desses fatores, o principio democrático cede lugar às conveniências políticas e econômicas. 

Alguns desses problemas são debatidos no mundo dos esportes. Os presidentes das associações dinamarquesa e alemã, Allan Hansen e Wolfgang Niersbach, criticaram a recusa da FIFA em discutir temas como a idade limite e a duração dos mandatos. 
Os presidentes e altos funcionários ficaram e ficam por abnegação? Por altruísmo? 
É difícil acreditar que seja somente por altruísmo. Ninguém sabe quanto ganha Blatter. A FIFA não revela. Em maio deste ano, Mark Pieth, um advogado suíço, exigiu que a FIFA revelasse o quanto ganham os membros da sua hierarquia. Segundo a organização The Richest (http://www.therichest.org/) o patrimônio de Blatter seria de dez milhões de dólares; Blatter teria admitido que seu salário era £598,000 em 2010, cerca de dois milhões de reais ao cambio de hoje. 
A FIFA vive de eventos. Uma estimativa nos dá 87% das suas receitas neste quesito. Tem deixado a receita das entradas e ingressos para o país sede. Ajudou a África do Sul com 500 milhões de dólares, muito pouco, considerando os gastos do país com a construção e a reconstrução de estádios, a custosa melhoria dos transportes para os estádios, aeroportos e áreas de turismo, e segurança. O New York Times, no dia 20 de junho, foi enfático ao afirmar que “nem a FIFA nem o Comitê Olímpico Internacional financiam os estádios multibilionários, nem pagam pela infraestrutura, o policiamento… Mas são a FIFA e o COI que [recebem] os bilhões da receita das televisões.” Até os direitos televisivos e de marketing são reservados para a FIFA. Eles são o filão das copas. Quanto rendem? Bilhões, e a FIFA fica com eles. Assinou um contrato com a ABC/ESPN para a transmissão de seus eventos de 2007 a 2014 somente na língua inglesa: 425 milhões. É um monopólio assegurado pela LEI Nº 12.663 de 5/6/2012, Seção III, Art. 12: “A FIFA é a titular exclusiva de todos os direitos relacionados às imagens, aos sons e às outras formas de expressão dos Eventos, incluindo os de explorar, negociar, autorizar e proibir suas transmissões ou retransmissões”. Lei brasileira garantindo a uma organização internacional o monopólio de rendas relacionadas com eventos acontecidos no país. 
O orçamento da FIFA para 2011-2014 estima uma receita de quase quatro bilhões de dólares. Feliz com esses resultados, Blatter aumentou a contribuição da FIFA para as seis confederações regionais: dois milhões e meio para cada uma. Aumento pequeno. Quinze milhões, no total, ou menos de meio por cento do mencionado orçamento. Agregue-se a essa “magnífica esmola”, outras, bem menores, de 250 mil dólares para cada federação ou confederação nacional.
Há uma contradição entre o caráter autocrático da FIFA, as frequentes acusações de corrupção a seus próceres, suas altas receitas, os salários não revelados dos seus dirigentes, a sua conivência com regimes repressivos, a sua insensibilidade em relação às pesadas consequências sociais de gastos desnecessários, de um lado, e os ideais modestos, socialmente igualitários, contra a corrupção e de construção, talvez ingênua, de uma nova democracia, dos manifestantes fora dos estádios. 

GLÁUCIO SOARES

 

 

Estatinas contra o câncer da próstata: mais detalhes

As estatinas são uma classe de medicamentos usados para baixar o colesterol. Uma pesquisa analisou o uso de estatinas para ver se altera o curso do câncer da próstata. Tinha três metas: ver se haveria um diagnóstico de câncer; ver se haveria retorno do câncer (fracasso bioquímico, ou a volta do PSA) e ver se afetaria o risco de morte por câncer da próstata (e não de morte incluindo todas as causas).  

Analisaram cerca de mil pacientes que foram diagnosticados de 2002 a 2005 no King County, Washington. O uso das estatinas foi estimado quando os pacientes foram diagnosticados através de entrevistas pessoais. O desenvolvimento do câncer foi acompanhado através de um acompanhamento através de survey e dos registros do SEER, uma subdivisão estatística no Instituto Nacional do Câncer nos Estados Unidos.

Sem controlar outras variáveis, os que usaram estatinas tinham um risco de 1% de morrer deste câncer em dez anos, em contraste com 5% dos que não usaram estatinas. Numa análise multivariada, com vários controles, os que usaram estatinas não tinham um risco muito diferente de que o câncer voltasse (fracasso bioquímico), nem de morrer de outras causas, mas tinham um risco significativamente menor de morrer devido ao câncer da próstata. A razão de risco era de 0,19.

 

 

GLÁUCIO SOARES       IESP-UERJ

Estatinas contra o câncer da próstata: mais detalhes

As estatinas são uma classe de medicamentos usados para baixar o colesterol. Uma pesquisa analisou o uso de estatinas para ver se altera o curso do câncer da próstata. Tinha três metas: ver se haveria um diagnóstico de câncer; ver se haveria retorno do câncer (fracasso bioquímico, ou a volta do PSA) e ver se afetaria o risco de morte por câncer da próstata (e não de morte incluindo todas as causas).  

Analisaram cerca de mil pacientes que foram diagnosticados de 2002 a 2005 no King County, Washington. O uso das estatinas foi estimado quando os pacientes foram diagnosticados através de entrevistas pessoais. O desenvolvimento do câncer foi acompanhado através de um acompanhamento através de survey e dos registros do SEER, uma subdivisão estatística no Instituto Nacional do Câncer nos Estados Unidos.

Sem controlar outras variáveis, os que usaram estatinas tinham um risco de 1% de morrer deste câncer em dez anos, em contraste com 5% dos que não usaram estatinas. Numa análise multivariada, com vários controles, os que usaram estatinas não tinham um risco muito diferente de que o câncer voltasse (fracasso bioquímico), nem de morrer de outras causas, mas tinham um risco significativamente menor de morrer devido ao câncer da próstata. A razão de risco era de 0,19.

 

 

GLÁUCIO SOARES       IESP-UERJ

Os homicídios explodem em Campina Grande

Recebi de J. Nóbrega Jr.:

 

A onda de violência registrada em Campina Grande nos primeiros quatro meses de 2013 assusta, e tem deixado a população apreensiva e com um sentimento de insegurança. Dados fornecidos pela Delegacia de Homicídios da cidade, revelam que o numero de crimes de morte registrados em Campina Grande aumentou mais de 30% em relação ao ano passado. Enquanto em abril de 2013 foram registrados 56 homicídios, este ano a PC já registrou 75 assassinatos. Nos últimos cinco anos, mais de 700 pessoas foram assassinadas na cidade por inúmeros motivos.

A policia acredita que a maioria dos crimes está relacionada ao tráfico de drogas e alguns, ocorrem por motivos banais, principalmente, nos finais de semana. As autoridades argumentam que nos finais de semana o consumo de drogas ilícitas na cidade aumenta bastante. A delegada Cassandra Duarte observou que alguns dos homicídios deste ano ocorreu devido à discussões familiares ou briga surgida em mesa de bar.

Ela explicou que a falta de uma cultura de paz nos lares de campina grande está ocasionando mortes violentas. Para a delegada de Homicídios de Campina Grande, Cassandra Guimarães, a maioria dos crimes que aconteceu no município foram motivados por relações interpessoais, quando há uma rixa, motivo de vingança e cobrança de dívida. “Mesmo tendo forte atuação na cidade, o tráfico de drogas aparece nessas estatísticas como pano de fundo na prática desses homicídios. O que leva uma pessoa a cometer um crime são mais as discussões, que em muitos casos, são por motivo fútil”, afirmou.

Outra preocupação dos órgãos de segurança e que também é um dos principais fatores para a prática de assassinatos na cidade é o alto índice de pessoas que andam armadas e encontram facilidade para comprar armas de fogo. “Precisaríamos um trabalho mais social para que esses jovens fossem desarmados, isso ajudaria em muito a diminuição nos casos de homicídio. Teríamos que combater o mal na fonte e coibir de vez a venda de armas”, enfatizou a delegada.

Entre os bairros mais violentos da Rainha da Borborema, onde aconteceram mais homicídios entre 2006 e 2013, a Polícia Civil apontou o José Pinheiro, Pedregal, Bodocongó, Centro e o distrito de São José da Mata. Um destaque nesses números é o aumento de crimes cometidos no Centro da cidade. Considerado por muitos, como lugar de muita movimentação e merecimento de maior atenção por parte das forças policiais, já que se caracteriza como área comercial, onde inclui bancos e lojas, o Centro de Campina Grande se apresentou nesses últimos cinco anos com um elevado número de homicídios.

Ainda segundo a polícia, grande parte dos homicídios tem relação com o tráfico de drogas e envolvimento das vítimas na marginalidade. A sensação de insegurança da população aumenta devido ao fato de que em apenas cinco mortes foram apontados os acusados.

Para o delegado adjunto de homicídios Francisco de Assis, a maioria das mortes tem relação com o tráfico de drogas. Hoje, a Delegacia especializada nos crimes contra a vida trabalha com 18 agentes de investigação e com três delegados, Cassandra Guimarães (titular) e Francisco Assis da Silva (adjunto), Mayra Cavalcanti e dois escrivães.

O cientista político e professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), José Maria Nóbrega aponta vários fatores para esse aumento de homicídios na cidade, que é considerada de médio porte. Mesmo tendo uma melhoria no âmbito socioeconômico, reduzindo, assim, a pobreza e a desigualdade, o aumento da renda familiar e a fragilidade das instituições de coerção terminaram contribuindo para esse alto índice de assassinatos nos últimos anos. “Se não melhorar a qualidade da polícia e implantar mais políticas públicas, essa tendência só tende a crescer”, afirmou. O levantamento “Mapa da Violência 2013 – Mortes Matadas por Armas de Fogo”, feito pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, demonstra que os estados que apresentaram as maiores taxas de óbitos por armas de fogo a cada 100 mil habitantes foram Alagoas, Espírito Santo, Pará, Bahia, Paraíba e Pernambuco, nessa ordem. A Paraíba está entre os cinco estados que mais sofreram com o aumento da violência na década, sendo que Campina Grande e João Pessoa são apontadas como as cidades mais violentas do Estado.

PBAgora  

TRATAMENTO (ANTI)HORMONAL E FRATURAS DO QUADRIL

A maior propensão à osteoporose dos pacientes submetidos a uma terapia antihormonal é bem conhecida. A pesquisa que relatarei revela que é possível diminuir substancialmente o risco através de um programa específico de prevenção da osteoporose.  

Pacientes diagnosticados com câncer da próstata de janeiro de 2003 a dezembro de 2007 foram estudados. No sistema médico que os diagnosticou, um plano de seguros chamado Kaiser Permanente, em Los Angeles, Califórnia, os pacientes são escaneados através de uma técnica chamada de dual x-ray absorptiometry. Os pacientes foram divididos em dois grupos: pacientes que foram submetidos a esse teste e foram submetidos ao tratamento preventivo e os que não o foram. A incidência de fraturas do quadril foi a variável dependente analisada. No grupo que fez o tratamento preventivo, a taxa foi de 5,1 por mil pessoas-ano (onde cada ano de cada pessoa conta como um). No grupo controle a taxa foi de 18,1, deixando claro que a incidência de fraturas do quadril pode ser reduzida preventiva. A redução foi maior do que 70%.

Leia mais: Zhumkhawala AA, Gleason JM, Cheetham TC, Niu F, Loo RK, Dell RM, Jacobsen SJ, Chien GW. Urology, 2013 Março 9. pii: S0090-4295(13)00021-6.

 

GLÁUCIO SOARES       IESP/UERJ

 

 

DE QUE MORREM OS JOVENS ALCOÓLATRAS?

De que morrem os jovens quando alcoolizados? Talvez a opinião mais comum é a de que as mortes mais frequentes são no trânsito.

Não é assim nos Estados Unidos. Uma pesquisa feita pela organização ativista, Mothers Against Drunk Driving (MADD), revelou que 32% dessas mortes era no trânsito, mas 68% tinham outras causas. Nada menos de 30% eram homicídios, o que confirma muitos estudos que ligam o homicídio ao alcoolismo, tanto da vítima quanto do assassino. Nada menos de 14% eram suicídios, também confirmando pesquisas anteriores que apontam o alcoolismo como um dos principais fatores de risco do suicídio. Nada menos de 12% morreram de envenenamento através de bebidas alcoólicas! Os 15% faltantes morreram por outras causas.   

Qual a relevância desses dados para a prevenção?

A maior é que não basta impedir que o jovem alcoolizado dirija, impedindo o acesso ao veículo, com frequência não deixando as chaves ao alcance d@ jovem. É preciso mais, é preciso impedir que beba demais. O mesmo relatório afirma que o agente social com mais poder de impedir/estimular o alcoolismo dos jovens é a família. A combinação desses conhecimentos ensina que a prevenção eficiente passa pela família do jovem.

O dia 21 de abril foi eleito o dia em que todos os pais americanos devem começar a conversar com seus filhos e filhas a respeito de bebidas alcoólicas e do alcoolismo.

 

GLÁUCIO SOARES      IESP/UERJ 

A Bélgica vai bancar novos tratamentos para seus cidadãos

A Bélgica resolveu bancar três novos medicamentos no tratamento do câncer da próstata avançado. Sautois e Gennigens nos lembram que docetaxel é o tratamento padrão para pacientes que já não respondem ao tratamento (anti)hormonal. Porém, além de seus efeitos colaterais, os benefícios do docetaxel não duram muito tempo e o câncer se torna resistente. O que fazer? O que tratamento mais comum era(e talvez continue sendo) mixandrone. Porém, nos últimos anos foram criados três novos medicamentos criados para tratar pacientes nesse estágio: cabazitaxel, abiraterona e enzalutamida. Todos foram usados em pesquisas Fase III em vários centro – e mostraram que aumentam a sobrevivência. Longe da desejada cura, mas ampliam a vida: em alguns, poucos meses; em muitos, muitos meses e em poucos, alguns anos. Como resultado, em 2012 o governo belga passou a reembolsar os pacientes que usaram dois medicamentos caros, Jevtana (cabazitaxel) e Zytiga (abiraterone).

A cura, tão desejada, ainda não está no horizonte.

Saiba mais: Rev Med Liege. 2013 Feb;68(2):94-6.

 

GLÁUCIO SOARES     IESP/UERJ

PERESTROIKA E SUICÍDIOS

De 1986 a 1988, Gorbachev, colocou em vigor um programa que reduziu o consumo de álcool na antiga União Soviética. Qual o efeito dessas leis sobre o suicídio? Um grupo pesquisou e respondeu à pergunta analisando o conteúdo de álcool no sangue de suicidas na Estônia, o que era feito regularmente. Antes do programa, a proporção dos suicidas com 0.5‰ ou mais de álcool no sangue era de 48%; durante o programa baixou para 35%, voltando a subir depois do programa, para 41%. Controlando o álcool no sangue vemos com clareza a quem o programa atingiu: houve redução de 39% no número dos suicidas com mais álcool no sangue do que o permitido e um aumento não significativo de 3% nos suicídios sóbrios. Terminado o programa por Yeltsin, houve um aumento de 28% nos BACpositivos e nenhuma alteração nos sóbrios.

A conclusão é clara: o programa de redução do alcoolismo reduziu o número de suicídios de pessoas alcoolizadas e não alterou o de pessoas não alcoolizadas.   

 Saiba mais: Airi Värnik, Kairi Kõlves, Marika Väli, Liina-Mai Tooding & Danuta Wasserman. “Do alcohol restrictions reduce suicide mortality?”

Baixe a pesquisa: www.laboratoriosilesia.com/upfiles/sibi/P030752.pdf

 GLÁUCIO SOARES     IESP/UERJ


O suicídio de pré-adolescentes e adolescentes é um processo

Uma “autópsia (necropsia) psicológica de vinte pré-adolescentes e adolescentes (12 a 19 anos) e a comparação com um grupo controle com características semelhantes mostra resultados que podem contribuir para a prevenção de suicídios nessa faixa etária.

 

Oitenta e cinco por cento das vítimas e 18% dos controles expressaram ideações suicidas, levando a crer que essas ideações são importantes na previsão e na prevenção dos suicídios.

Uma categoria nem sempre usada nas pesquisas é a ameaça de suicídio. Cinquenta e cinco por cento das vítimas tinham ameaçado suicidar-se. Outras variáveis importantes foram o alcoolismo ou o uso de drogas (70%), um comportamento antissocial (70%) e o que foi chamado de personalidade inibida (65%). Como também foi confirmado em muitos outros estudos, comportamentos suicidas na família e entre amigos, abuso e/ou problemas mentais na família também aumentam o risco de suicídio.

Os amigos e familiares, normalmente um fator que reduz o risco de suicídio, se estiverem em condições de patologia psicológica ou sociológica aumentam o risco.

Há uma escalada de sintomas que podem alertar as pessoas e instituições responsáveis:

 Das Ideações às Ameaças àsTentativas ao Suicídio

 

 Esses sintomas permitem interromper a escalada em momentos diferentes. Esse conhecimento deve ser levado em conta na prevenção.

 

 Saiba mais: Psychological autopsy of completed suicide in children and adolescentes, em Am J Psychiatry 1985;142:1061-1064.

 

 

         GLÁUCIO SOARES    IESP-UERJ

 

 

A sobrevivência do Câncer no Pulmão é muito maior no Japão

As taxas de sobrevivência do câncer no pulmão no Japão são muito melhores do que nos Estados Unidos.
Uma pesquisa de 2009 mostra que dois em cada três japoneses estão vivos depois da cirurgia no pulmão feita no National Cancer Center Hospital (NCCH) em Tóquio. Mas esses bons resultados não são típicos deste famoso centro e de mais nenhum! Dois anos depois, uma pesquisa com onze mil casos que 70% estavam vivos cinco anos depois. Comparando com resultados anteriores, o Japão não somente estava bem, mas estava melhor do que antes. Uma pesquisa dos resultados publicados em PubMed produziu resultados muito inferiores nos Estados Unidos e na Europa.
A que se deve a diferença?
Em tese, a explicação poderia ser causada por uma cirurgia mais detalhada, resecção em bloco, dissecção sistemática dos nódulos etc etc., mas o que parece fazer a diferença é que os japoneses fazem triagens. Mais da metade dos cânceres foi descoberta em triagens; somente um quarto foi durante exames para outros fins que usaram raios-X. No Japão, exames roentgenográficos (CXR) são usados desde a década de 40, como parte do controle da tuberculose. Estudos feitos nos Estados Unidos nas décadas de 50 e 70 mostram que as triagens quase não eram usadas: a primeira triagem de cunho nacional foi feita em 2012.
É um contraste com o que Sobue afirmou: quase oito milhões de japoneses fazem um exame CXR anual. Só em Okaiama em um período de onze anos mais de dois milhões e trezentas mil pessoas foram examinadas.
O resultado é que o câncer é descoberto cedo no Japão, numa percentagem muito mais alta do que em outros países. A prevenção compensa!
O Japão não parou aí: no fim da década de 80 os japoneses começaram a trabalhar com CT de baixo nível de radiação. O CT scan é mais sensível e a percentagem dos pacientes que foram diagnosticados no início (estágio IA) foi de 42% quando usaram o CXR e de 74% quando usaram o CT scan. O tamanho médio dos tumores descobertos foi de 30 mm com CXR e de 17 mm com o CT scan.
Esse é o resultado de um país que destina recursos para valer à prevenção e detecção do câncer do pulmão.

Gláucio Soares                   IESP-UERJ

MASSACRES SEMELHANTES, MORTES DIFERENTES

Creio que a maioria dos leitores foi informada a respeito do ataque em uma escola americana em Newtown, quando vinte crianças foram chacinadas numa escola.

Entretanto, poucos sabem que na China, poucas horas antes do ataque em Newtown, um maníaco fez um ataque semelhante contra crianças chinesas numa escola primária. A arma foi uma faca.

Os escritores americanos Beth Brogan e Jon Queally rapidamente notaram que, além da semelhança – um maníaco que ataca uma escola primária – há uma diferença muito importante. No ataque na China todas as crianças sobreviveram. Dois acontecimentos semelhantes, a treze mil quilômetros de distância um do outro, com resultados tão diferentes. Como explicar a diferença, que se traduziu em vidas de crianças, mortas num país, salvas no outro?


A diferença não reside no local: nos Estados Unidos foi a Sandy Hook Elementary School; na província de Henan foi uma escola semelhante. Há muita semelhança entre os atores: claramente maníacos surtados. E certamente havia muita semelhança entre as vítimas: crianças de uma escola primária.

Então, o que explica as diferenças – vinte mortes em um lado e nenhuma no outro? 

As leis! Ding Xueliang argumenta que as leis e as políticas de controle de armas de fogo explicam a diferença: a acessibilidade das armas com alto poder letal nos Estados Unidos, incluindo rifles, metralhadoras, explosivos e armas de repetição, proibidas ou restritas em praticamente todos os demais países desenvolvidos. Os Estados Unidos são a exceção e seus cemitérios, com um número muito maior de vítimas inocentes, são o seu resultado. Nenhuma das 22 crianças atacadas na China havia morrido até o fim daquela semana. A foto é de uma delas em recuperação.

Um ataque sem vítimas, improvável nos Estados Unidos; um ataque com mais de vinte vitimas, improvável na China.

As leis chinesas controlam armas e munições. É um controle sério. Proibição simples e pura. Ding Xueliang explica que havia semelhanças psiquiátricas entre os dois agressores, mas os incidentes ocorreram em países com leis muito diferentes. Uma faca, mesmo com mais de vinte centímetros de comprimento, não é páreo para uma Sig Sauer, nem para uma Glock, nem para um M4. Essas três armas eram legalmente possuídas pela mãe do rampage killer e foram encontradas na cena do crime. Aliás, a mãe do rampage killer foi assassinada pelo filho usando uma das armas que ela tinha. Ironia final numa cultura que idolatra as armas de fogo. As crianças que sofreram cortes e ferimentos na China sobreviveram e um número, que se supõe muito maior, fugiu.

É possível reduzir as mortes violentas através de políticas públicas inteligentes. O Estatuto do Desarmamento reduziu muito a taxa de crescimento das mortes com armas de fogo. Em números absolutos, O crescimento anual observado foi de 2.072 mortes, de 1996 a 2002, mas, a partir de 2003, ano da promulgação do Estatuto, o crescimento anual baixou para 203, salvando mais de mil e oitocentas vidas por ano!

E na China? As leis continuam salvando chineses de todas as idades. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes é baixíssima e continua baixando: foi de 2,3 em 1995; 2 em 2001 e 1,2 em 2008. Num país com o tamanho e as disparidades que tem a China, é uma grande conquista do direito humano mais fundamental, o direito à vida.

No que concerne as mortes intencionais violentas a China está no bloco dos países civilizados; os Estados Unidos, líder mundial em tantas outras áreas, estão fora dele.

Publicado n’O GLOBO de 5 de janeiro de 2013 sub o título de Fora da Ordem

 

 

GLÁUCIO ARY DILLON SOARES   IESP/UERJ

MASSACRES SEMELHANTES, MORTES DIFERENTES

Creio que a maioria dos leitores foi informada a respeito de mais um ataque em uma escola americana, quando um jovem atirou em vários colegas, inclusive primos, Imediatamente foi lembrado o massacre ocorrido  em Newtown, quando vinte crianças foram chacinadas numa escola. Em decorrência, mais uma vez vimos uma pletora de informações e opiniões que mostram que o público brasileiro continua a ignorar as pesquisas feitas na área. Meu objetivo é proporcionar o conhecimento derivado de algumas dessas pesquisas, reduzindo a ampla desinformação de nosso público.

Um exemplo: poucos sabem que na China, poucas horas antes do ataque em Newtown, um maníaco fez um ataque semelhante contra crianças chinesas numa escola primária. A arma foi uma faca.

Os escritores americanos Beth Brogan e Jon Queally rapidamente notaram que, além da semelhança – um maníaco que ataca uma escola primária – há uma diferença muito importante. No ataque na China todas as crianças sobreviveram. Dois acontecimentos semelhantes, a treze mil quilômetros de distância um do outro, com resultados tão diferentes. Como explicar a diferença, que se traduziu em vidas de crianças, mortas num país, salvas no outro?


A diferença não reside no local: nos Estados Unidos foi a Sandy Hook Elementary School; na província de Henan foi uma escola semelhante. Há muita semelhança entre os atores: claramente maníacos surtados. E certamente havia muita semelhança entre as vítimas: crianças de uma escola primária.

Então, o que explica as diferenças – vinte mortes em um lado e nenhuma no outro? 

As leis! Ding Xueliang argumenta que as leis e as políticas de controle de armas de fogo explicam a diferença: a acessibilidade das armas com alto poder letal nos Estados Unidos, incluindo rifles, metralhadoras, explosivos e armas de repetição, proibidas ou restritas em praticamente todos os demais países desenvolvidos. Os Estados Unidos são a exceção e seus cemitérios, com um número muito maior de vítimas inocentes, são o seu resultado. Nenhuma das 22 crianças atacadas na China havia morrido até o fim daquela semana. A foto é de uma delas em recuperação.

Um ataque sem vítimas, improvável nos Estados Unidos; um ataque com mais de vinte vitimas, improvável na China.

As leis chinesas controlam armas e munições. É um controle sério. Proibição simples e pura. Ding Xueliang explica que havia semelhanças psiquiátricas entre os dois agressores, mas os incidentes ocorreram em países com leis muito diferentes. Uma faca, mesmo com mais de vinte centímetros de comprimento, não é páreo para uma Sig Sauer, nem para uma Glock, nem para um M4. Essas três armas eram legalmente possuídas pela mãe do rampage killer e foram encontradas na cena do crime. Aliás, a mãe do rampage killer foi assassinada pelo filho usando uma das armas que ela tinha. Ironia final numa cultura que idolatra as armas de fogo. As crianças que sofreram cortes e ferimentos na China sobreviveram e um número, que se supõe muito maior, fugiu.

É possível reduzir as mortes violentas através de políticas públicas inteligentes. O Estatuto do Desarmamento reduziu muito a taxa de crescimento das mortes com armas de fogo. Em números absolutos, O crescimento anual observado foi de 2.072 mortes, de 1996 a 2002, mas, a partir de 2003, ano da promulgação do Estatuto, o crescimento anual baixou para 203, salvando mais de mil e oitocentas vidas por ano!

E na China? As leis continuam salvando chineses de todas as idades. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes é baixíssima e continua baixando: foi de 2,3 em 1995; 2 em 2001 e 1,2 em 2008. Num país com o tamanho e as disparidades que tem a China, é uma grande conquista do direito humano mais fundamental, o direito à vida.

No que concerne as mortes intencionais violentas a China está no bloco dos países civilizados; os Estados Unidos, líder mundial em tantas outras áreas, estão fora dele.

Publicado n’O GLOBO de 5 de janeiro de 2013 sub o título de Fora da Ordem

GLÁUCIO ARY DILLON SOARES   IESP/UERJ

Os trilhos da vida

Desde cedo, sem que tenhamos consciência disso, somos colocados em trilhos invisíveis que podem durar a vida inteira. Uns estão condenados a uma vida difícil e outros a uma confortável. O que somos e o que não podemos ser já foi decidido, mas não por nós. Herdamos muitos limites e oportunidades. Temos alguma escolha, mas não podemos escolher qualquer caminho. Escolhemos dentro de limites que não escolhemos. Educadores em vários países concluíram que a educação separa as pessoas desde cedo e que a alfabetização, os hábitos de leitura e o conhecimento são um caminho pelo qual muitas crianças carentes escapam dos piores trilhos. Por isso, propõem começar a intervenção cedo.

Bons governos pesquisam para formular políticas públicas. Magnuson e McGroder analisaram o efeito de dois programas sociais nos Estados Unidos: um enfatizava a educação das mães; outro o emprego e havia um grupo controle. O programa durou dois anos e revelou que a educação das mães se relacionava positivamente como avanço das crianças. Pesava mais do que o emprego.

Os trilhos não são determinados por um fator só, num único momento: vão sendo construídos, com a participação das famílias, das escolas, dos colegas e da vizinhança, de todos os que formam o habitus de cada um. Rathbun e Hausken  avaliaram a participação das professoras e suas características, estudando a kinder de 2.826 escolas públicas e 417 privadas. Infelizmente, as escolas com maior proporção de crianças em situação de risco e mais alta percentagem das que não falavam Inglês eram as que mais necessitavam de atenção das professoras, também eram as que menos recebiam. A participação dos pais nas atividades escolares é menor nas escolas em áreas mais pobres.

Carreira e universidade são socialmente seletivas. Os trilhos também passam por universidades e cursos. Há carreiras com alto custo e maior dificuldade em entrar: os alunos mais pobres e os com menor capital cognitivo buscam as mais fáceis. Há uma seleção social entre carreiras caras e/ou mais exigentes, como medicina e engenharia, e as mais baratas e menos exigentes, como educação, enfermagem, direito e ciências sociais. As diferenças na composição social das carreiras são antigas e não foram criadas pelas cotas. Há um quarto de século dados relativos ao vestibular da UnB já mostravam que os estudantes das ciências exatas e de medicina tinham pontuação mais alta, inclusive nas perguntas sobre as ciências sociais.

Essa é a população que “chegou”, após um longo processo seletivo. Não vemos as que foram levadas por outros trilhos a outros destinos, com futuros limitados.

A universidade não zera as desigualdades entre seus alunos. Os trilhos invisíveis da vida continuam nela, separando os alunos. Chegam ao doutorado.

Os contatos entre pais e filhos, particularmente ler para/com os filhos e contar histórias perpetuam diferenças educacionais entre classes e grupos étnicos e raciais. Uns participam; outros são omissos. As crianças vão entrando em trilhos diferentes, dos quais é difícil sair. Em 1999, a Shell Poll, revelou que os adolescentes que diziam que seus pais liam para/com eles estudavam mais: a diferença era de 64% a 46%, entre alunos que deveriam estar no mesmo nível. No Brasil, as desigualdades educacionais entre os pais são maiores, e seu impacto bem maior.

Alguns exemplos ajudam. Encontrei na PUCRJ duas alunas que me impressionaram pela seriedade: uma, de classe média alta, usufruía das vantagens do seu status, havia feito um estágio na Europa; a outra, moradora de uma favela, tinha uma das bolsas que a PUC oferece a membros de minorias. Houve concurso de interesse de ambas: o resultado não poderia ser outro – ganhou a nascida na classe média. Até no doutorado há desigualdades difíceis de superar: a resistência a aprender métodos quantitativos; a ler em Inglês e a  ler várias horas por dia. Os alunos que cresceram em famílias sem hábito de leitura, enfrentam mais dificuldades. A democratização do ensino superior, um bem social em si, teve dificuldades não previstas, inclusive o crescimento do número de universitários sem hábito de leitura.

Muitos orientadores não se dão conta de que os problemas acadêmicos de muitos alunos têm origens extra-acadêmicas. Professores socialmente conscientes buscam a maneira de superar esses obstáculos, mas os reacionários abrem fogo contra a democratização e os ideólogos de esquerda  negam o fato.

Mas não é só o ”destino”. Fazemos escolhas. Duas estudantes nascidas em favela ilustram: uma teve uma oferta de  assistente de pesquisa, mas seus compromissos de ativista e seus imbroglios sentimentais impediram que ela cumprisse suas responsabilidades contratuais e foi despedida. Outra, também nascida em favela, teve oportunidade em área desejada, mas passou vários anos hesitando entre a área em que estava matriculada, teatro e música e perdeu a chance. Recentemente, tive dois bolsistas com todas as vantagens da classe média que foram reprovados e perderam a bolsa por problemas com drogas.

Os alunos fazem opções que conspiram contra o melhor aproveitamento nos cursos e do dinheiro público. A elevação das aspirações de consumo é um dos maiores empecilhos. As bolsas passaram a ser suplementação de renda.

Não é fácil zerar diferenças centenárias. Os programas visam diminuir a herança social que condena pessoas a seguirem rumos independentemente do mérito. Porém, em nome do mérito há analises que começam com os indivíduos já muito desiguais. Uma sociedade justa privilegia o mérito reduzindo a desigualdade de origem. Quando as pessoas são metidas em trilhos rígidos antes mesmo de nascer, não há igualdade de oportunidades.

Porém, os pais de hoje também nasceram desiguais, e assim por diante. Construiríamos uma história sem fim da desigualdade.  Sou mais crítico de amplos segmentos da classe média consumerista, que pouco lê e não acompanha os filhos em seus estudos.

O desejo de construir uma sociedade justa não passa pela
absolvição de escolhas “erradas” dos atores atuais; passa pela igualdade das oportunidades, independentemente dos pais e da família.

O grande desafio do ensino superior é democratizar sem perder qualidade. Não é tarefa fácil.

 

Gláucio Ary Dillon Soares   IESP/UERJ

Eleições Americanas: ganha quem perde?


Eleições Americanas: ganha quem perde?

 

Até o momento, as eleições presidenciais americanas podem, mais uma vez, mostrar que o candidato mais votado no voto popular não será o eleito.

Os dois candidatos estão muito próximos no voto popular, mas Obama tem vantagem no Colégio Eleitoral. A média dos resultados de dez pesquisas feitas a partir do dia 17 até o dia 29 mostram Romney com uma vantagem de menos de 1% no voto direto. Não obstante, o Presidente não é definido pelo voto direto e sim pelo Colégio Eleitoral. Percentualmente, os resultados do Colégio Eleitoral raramente equivalem aos da eleição direta.

Por quê?

Porque o Colégio Eleitoral não é proporcional.

Vamos entender o Colégio Eleitoral: cada estado tem direito a um número de votos, que é aproximadamente proporcional à população e é reajustado a cada dez anos. A população da Califórnia aumentou nas últimas décadas e o número de votos eleitorais aumentou junto; a população de Nova Iorque diminuiu no mesmo período e o estado também perdeu votos no Colégio Eleitoral. Nova Iorque já foi o estado com mais votos; hoje é a Califórnia. Os americanos não gostam de aumentar o tamanho do Colégio Eleitoral que é o mesmo há algum tempo: 538 votos. Para que um estado ganhe um voto a em uma eleição é necessário que outro estado perca um voto na mesma eleição. No Colégio Eleitoral ganha quem tiver maioria simples: metade mais um, ou 270 votos.

De acordo com a Real Clear Politics, Obama tem maioria confortável nas pesquisas em alguns estados: Califórnia (55), Delaware (3), District of Columbia (3), Hawaii (4), Illinois (20), Maryland (10),Massachusetts (11), New York (29), Rhode Island (4)   e Vermont (3). Um total de 142.

Já Romney tem maioria confortável num número maior de estados, porém, menos populosos, que pesam menos: Alabama (9), Alaska (3), Arkansas (6), Idaho (4), Kansas (6), Kentucky (8), Louisiana (8), Mississippi (6)

Nebraska (4)  North Dakota (3), Oklahoma (7)   Tennessee (11), Texas (38)  Utah (6)

West Virginia (5) e Wyoming (3), totalizando 127 votos.

     Para onde vão os votos de um estado e em que proporção? Todos os votos vão para o ganhador, nenhum para o perdedor. Esse sistema é chamado de “winner takes all”. As eleições majoritárias no Brasil também são assim: se um candidato recebe 40% dos votos válidos no segundo turno, ele ou ela não recebe 40% do governo federal. O outro candidato, que recebeu a maioria dos votos, leva a Presidência da República inteira. É o que acontece com as eleições presidenciais americanas. Quem ganha num estado leva todos os votos do estado no Colégio Eleitoral e, claro, quem ganha no Colégio Eleitoral leva a Presidência inteira. Há duas exceções a essa regra: Maine e Nebraska podem dividir seus votos eleitorais. Na eleição atual, Obama conta com 53% dos votos eleitorais que parecem estar decididos.

Os analistas também incluem outras categorias de acordo com as pesquisas eleitorais. Uma delas é a que afirma que “provavelmente” ganhará esse ou aquele candidato. E quais são os estados em que “provavelmente” Obama vencerá? São Connecticut (7), Maine (3), New Jersey (14), New Mexico (5) e Washington (12), totalizando 41 votos nesses cinco estados. Já os seis estados em que Romney “provavelmente” vencerá somam 50 votos. Nesses tipos de estados, os“provavelmente”, Romney reduziria a vantagem de Obama de 15 votos para seis.

Outro tipo de estado é o que demonstra uma leve tendência para um ou outro candidato. Os analistas americanos usam a expressão “leaning” para caracterizar esses estados. Significa uma pequena maioria que torna qualquer prognóstico arriscado. São 18 votos para Obama e 14 para Romney.

Esses cômputos colocam Obama com nove votos na frente. E os demais? Ainda há 146 votos onde ou há empate ou há empate técnico: a diferença fica dentro da margem de erro. As pesquisas mostram que, em dois desses onze estados os candidatos estão rigorosamente empatados; em sete, Obama tem ligeiríssima vantagem e em dois a vantagem, também mínima, é de Romney. Um detalhe importante é que Obama ganhou nesses onze estados em 2008.

Uma cadeia de informações, a ABC, produz dados semelhantes: Obama teria 247 votos eleitorais ou sólidos ou “leaning”, 56 a mais do que Romney.

Uma curiosidade: os membros do Colégio Eleitoral são nomeados pelo vencedor em cada estado e há um juramento de que votarão com quem os escolheu, mas não há nada na Constituição que os proíba de votar no outro…

E se empatar? A Câmara dos Deputados decide. Só aconteceu duas vezes: Thomas Jefferson, em 1801, e John Quincy Adams, em 1825 foram eleitos pela Câmara dos Deputados.

Não há dúvida de que essa eleição será muito mais difícil do que a de 2008. Numa eleição como essa, apertada, a participação eleitoral conta, o que talvez prejudique Obama. Até condições climáticas podem ser importantes. Um dos grupos que tem apoiado os democratas, os hispânicos, proporcionalmente são os que menos votam.

Nas eleições muito apertadas, o risco de que o vencedor ganhe, mas não leve, aumenta. Não resisto à tentação de informar que sublinhei isso há quase trinta anos em Colégio Eleitoral, Convenções Partidárias e Eleições Diretas (Vozes: 1984, p. 93, nota 2. Quase vinte anos depois essa previsão se concretizou com a triste vitória de Bush sobre Al Gore.

Há um risco nada desprezível de que isso volte a acontecer. Ironicamente, desta vez favorecendo o candidato democrata.

 

 

GLÁUCIO ARY DILLON SOARES    IESP/UERJ

Eleições Americanas: ganha quem perde?

 

Eleições Americanas: ganha quem perde? 

Até o momento, as eleições presidenciais americanas podem, mais uma vez, mostrar que o candidato mais votado no voto popular não será o eleito.

Os dois candidatos estão muito próximos no voto popular, mas Obama tem vantagem no Colégio Eleitoral. A média dos resultados de dez pesquisas feitas a partir do dia 17 até o dia 29 mostram Romney com uma vantagem de menos de 1% no voto direto. 

Não obstante, o Presidente não é definido pelo voto direto e sim pelo Colégio Eleitoral. Percentualmente, os resultados do Colégio Eleitoral raramente equivalem aos da eleição direta.

Por quê?

Porque o Colégio Eleitoral não é proporcional.

Vamos entender o Colégio Eleitoral: cada estado tem direito a um número de votos, que é aproximadamente proporcional à população e é reajustado a cada dez anos. A população da Califórnia aumentou nas últimas décadas e o número de votos eleitorais aumentou junto; a população de Nova Iorque diminuiu no mesmo período e o estado também perdeu votos no Colégio Eleitoral. Nova Iorque já foi o estado com mais votos; hoje é a Califórnia. Os americanos não gostam de aumentar o tamanho do Colégio Eleitoral que é o mesmo há algum tempo: 538 votos. Para que um estado ganhe um voto a em uma eleição é necessário que outro estado perca um voto na mesma eleição. No Colégio Eleitoral ganha quem tiver maioria simples: metade mais um, ou 270 votos.

Porém, se, por um lado, o número de eleitores de um estado depende da população do mesmo, pelo outro, ela passa pela representação do estado na Câmara dos Deputados (Congress), que depende da população, e no Senado, que não depende, pois são sempre dois para cada estado. Ao assignar dois senadores para cada estado, independentemente da sua população, o sistema favorece os estados com menos população e pune os mais populosos. O mesmo acontece no Brasil, onde um alto número mínimo de deputados por estado e um baixo número máximo de deputados por estado introduzem uma distorção adicional.

De acordo com a Real Clear Politics, Obama tem maioria confortável nas pesquisas em alguns estados: Califórnia (55), Delaware (3), District of Columbia (3), Hawaii (4), Illinois (20), Maryland (10),Massachusetts (11), New York (29), Rhode Island (4)   e Vermont (3). Um total de 142.

Já Romney tem maioria confortável num número maior de estados, porém, menos populosos, que pesam menos: Alabama (9), Alaska (3), Arkansas (6), Idaho (4), Kansas (6), Kentucky (8), Louisiana (8), Mississippi (6), Nebraska (4)  North Dakota (3), Oklahoma (7)   Tennessee (11), Texas (38)  Utah (6), West Virginia (5) e Wyoming (3), totalizando 127 votos.

    Para onde vão os votos de um estado e em que proporção? Todos os votos vão para o ganhador, nenhum para o perdedor. Esse sistema é chamado de “winner takes all”. As eleições majoritárias no Brasil também são assim: se um candidato recebe 40% dos votos válidos no segundo turno, ele ou ela não recebe 40% do governo federal. O outro candidato, que recebeu a maioria dos votos, leva a Presidência da República inteira. É o que acontece com as eleições presidenciais americanas. Quem ganha num estado leva todos os votos do estado no Colégio Eleitoral e, claro, quem ganha no Colégio Eleitoral leva a Presidência inteira. Há duas exceções a essa regra: Maine e Nebraska podem dividir seus votos eleitorais. Na eleição atual, Obama conta com 53% dos votos eleitorais que parecem estar decididos.

Os analistas também incluem outras categorias de acordo com as pesquisas eleitorais. Uma delas é a que afirma que “provavelmente” ganhará esse ou aquele candidato. E quais são os estados em que “provavelmente” Obama vencerá? São Connecticut (7), Maine (3), New Jersey (14), New Mexico (5) e Washington (12), totalizando 41 votos nesses cinco estados. Já os seis estados em que Romney “provavelmente” vencerá somam 50 votos. Nesses tipos de estados, os“provavelmente”, Romney reduziria a vantagem de Obama de 15 votos para seis.

Outro tipo de estado é o que demonstra uma leve tendência para um ou outro candidato. Os analistas americanos usam a expressão “leaning” para caracterizar esses estados. Significa uma pequena maioria que torna qualquer prognóstico arriscado. São 18 votos para Obama e 14 para Romney.

Esses cômputos colocam Obama com nove votos na frente. E os demais? Ainda há 146 votos onde ou há empate ou há empate técnico: a diferença fica dentro da margem de erro. As pesquisas mostram que, em dois desses onze estados os candidatos estão rigorosamente empatados; em sete, Obama tem ligeiríssima vantagem e em dois a vantagem, também mínima, é de Romney. Um detalhe importante é que Obama ganhou nesses onze estados em 2008.

Uma cadeia de informações, a ABC, produz dados semelhantes: Obama teria 247 votos eleitorais ou sólidos ou “leaning”, 56 a mais do que Romney.

Dados ainda mais recentes, do Huffpost, dão 281 votos no Colégio Eleitoral a Obama, 191 a Romney, e 66 com diferença mínima. São necessários 270 votos para vencer.

Uma curiosidade: os membros do Colégio Eleitoral são nomeados pelo vencedor em cada estado e há um juramento de que votarão com quem os escolheu, mas não há nada na Constituição que os proíba de votar no outro…

E se empatar? A Câmara dos Deputados decide. Só aconteceu duas vezes: Thomas Jefferson, em 1801, e John Quincy Adams, em 1825 foram eleitos pela Câmara dos Deputados.

Não há dúvida de que essa eleição será muito mais difícil do que a de 2008. Numa eleição como essa, apertada, a participação eleitoral conta, o que talvez prejudique Obama. Até condições climáticas podem ser importantes. Um dos grupos que tem apoiado os democratas, os hispânicos, proporcionalmente são os que menos votam.

Há décadas que as pesquisas revelam que a população americana gostaria de eleger seu Presidente através do voto direto, mas, lá como aqui, não é fácil mudar dispositivos constitucionais.   Nas eleições muito apertadas, o risco de que o vencedor ganhe, mas não leve, aumenta. Não resisto à tentação de informar que sublinhei isso há quase trinta anos em Colégio Eleitoral, Convenções Partidárias e Eleições Diretas (Vozes: 1984, p. 93, nota 2. Quase vinte anos depois essa previsão se concretizou com a triste vitória de Bush sobre Al Gore. (Desculpem, mas eu não podia perder essa chance….)

Há um risco nada desprezível de que isso volte a acontecer. Ironicamente, desta vez favorecendo o candidato democrata.

 

GLÁUCIO ARY DILLON SOARES    IESP/UERJ

Descrição: https://mail.google.com/mail/u/0/images/cleardot.gif

Publicado hoje, 4/11/2012 no Correio Braziliense

 

Eleições Americanas: ganha quem perde?

 

Eleições Americanas: ganha quem perde? 

Até o momento, as eleições presidenciais americanas podem, mais uma vez, mostrar que o candidato mais votado no voto popular não será o eleito.

Os dois candidatos estão muito próximos no voto popular, mas Obama tem vantagem no Colégio Eleitoral. A média dos resultados de dez pesquisas feitas a partir do dia 17 até o dia 29 mostram Romney com uma vantagem de menos de 1% no voto direto. 

Não obstante, o Presidente não é definido pelo voto direto e sim pelo Colégio Eleitoral. Percentualmente, os resultados do Colégio Eleitoral raramente equivalem aos da eleição direta.

Por quê?

Porque o Colégio Eleitoral não é proporcional.

Vamos entender o Colégio Eleitoral: cada estado tem direito a um número de votos, que é aproximadamente proporcional à população e é reajustado a cada dez anos. A população da Califórnia aumentou nas últimas décadas e o número de votos eleitorais aumentou junto; a população de Nova Iorque diminuiu no mesmo período e o estado também perdeu votos no Colégio Eleitoral. Nova Iorque já foi o estado com mais votos; hoje é a Califórnia. Os americanos não gostam de aumentar o tamanho do Colégio Eleitoral que é o mesmo há algum tempo: 538 votos. Para que um estado ganhe um voto a em uma eleição é necessário que outro estado perca um voto na mesma eleição. No Colégio Eleitoral ganha quem tiver maioria simples: metade mais um, ou 270 votos.

Porém, se, por um lado, o número de eleitores de um estado depende da população do mesmo, pelo outro, ela passa pela representação do estado na Câmara dos Deputados (Congress), que depende da população, e no Senado, que não depende, pois são sempre dois para cada estado. Ao assignar dois senadores para cada estado, independentemente da sua população, o sistema favorece os estados com menos população e pune os mais populosos. O mesmo acontece no Brasil, onde um alto número mínimo de deputados por estado e um baixo número máximo de deputados por estado introduzem uma distorção adicional.

De acordo com a Real Clear Politics, Obama tem maioria confortável nas pesquisas em alguns estados: Califórnia (55), Delaware (3), District of Columbia (3), Hawaii (4), Illinois (20), Maryland (10),Massachusetts (11), New York (29), Rhode Island (4)   e Vermont (3). Um total de 142.

Já Romney tem maioria confortável num número maior de estados, porém, menos populosos, que pesam menos: Alabama (9), Alaska (3), Arkansas (6), Idaho (4), Kansas (6), Kentucky (8), Louisiana (8), Mississippi (6), Nebraska (4)  North Dakota (3), Oklahoma (7)   Tennessee (11), Texas (38)  Utah (6), West Virginia (5) e Wyoming (3), totalizando 127 votos.

    Para onde vão os votos de um estado e em que proporção? Todos os votos vão para o ganhador, nenhum para o perdedor. Esse sistema é chamado de “winner takes all”. As eleições majoritárias no Brasil também são assim: se um candidato recebe 40% dos votos válidos no segundo turno, ele ou ela não recebe 40% do governo federal. O outro candidato, que recebeu a maioria dos votos, leva a Presidência da República inteira. É o que acontece com as eleições presidenciais americanas. Quem ganha num estado leva todos os votos do estado no Colégio Eleitoral e, claro, quem ganha no Colégio Eleitoral leva a Presidência inteira. Há duas exceções a essa regra: Maine e Nebraska podem dividir seus votos eleitorais. Na eleição atual, Obama conta com 53% dos votos eleitorais que parecem estar decididos.

Os analistas também incluem outras categorias de acordo com as pesquisas eleitorais. Uma delas é a que afirma que “provavelmente” ganhará esse ou aquele candidato. E quais são os estados em que “provavelmente” Obama vencerá? São Connecticut (7), Maine (3), New Jersey (14), New Mexico (5) e Washington (12), totalizando 41 votos nesses cinco estados. Já os seis estados em que Romney “provavelmente” vencerá somam 50 votos. Nesses tipos de estados, os“provavelmente”, Romney reduziria a vantagem de Obama de 15 votos para seis.

Outro tipo de estado é o que demonstra uma leve tendência para um ou outro candidato. Os analistas americanos usam a expressão “leaning” para caracterizar esses estados. Significa uma pequena maioria que torna qualquer prognóstico arriscado. São 18 votos para Obama e 14 para Romney.

Esses cômputos colocam Obama com nove votos na frente. E os demais? Ainda há 146 votos onde ou há empate ou há empate técnico: a diferença fica dentro da margem de erro. As pesquisas mostram que, em dois desses onze estados os candidatos estão rigorosamente empatados; em sete, Obama tem ligeiríssima vantagem e em dois a vantagem, também mínima, é de Romney. Um detalhe importante é que Obama ganhou nesses onze estados em 2008.

Uma cadeia de informações, a ABC, produz dados semelhantes: Obama teria 247 votos eleitorais ou sólidos ou “leaning”, 56 a mais do que Romney.

Dados ainda mais recentes, do Huffpost, dão 281 votos no Colégio Eleitoral a Obama, 191 a Romney, e 66 com diferença mínima. São necessários 270 votos para vencer.

Uma curiosidade: os membros do Colégio Eleitoral são nomeados pelo vencedor em cada estado e há um juramento de que votarão com quem os escolheu, mas não há nada na Constituição que os proíba de votar no outro…

E se empatar? A Câmara dos Deputados decide. Só aconteceu duas vezes: Thomas Jefferson, em 1801, e John Quincy Adams, em 1825 foram eleitos pela Câmara dos Deputados.

Não há dúvida de que essa eleição será muito mais difícil do que a de 2008. Numa eleição como essa, apertada, a participação eleitoral conta, o que talvez prejudique Obama. Até condições climáticas podem ser importantes. Um dos grupos que tem apoiado os democratas, os hispânicos, proporcionalmente são os que menos votam.

Há décadas que as pesquisas revelam que a população americana gostaria de eleger seu Presidente através do voto direto, mas, lá como aqui, não é fácil mudar dispositivos constitucionais.   Nas eleições muito apertadas, o risco de que o vencedor ganhe, mas não leve, aumenta. Não resisto à tentação de informar que sublinhei isso há quase trinta anos em Colégio Eleitoral, Convenções Partidárias e Eleições Diretas (Vozes: 1984, p. 93, nota 2. Quase vinte anos depois essa previsão se concretizou com a triste vitória de Bush sobre Al Gore. (Desculpem, mas eu não podia perder essa chance….)

Há um risco nada desprezível de que isso volte a acontecer. Ironicamente, desta vez favorecendo o candidato democrata.

 

GLÁUCIO ARY DILLON SOARES    IESP/UERJ

Descrição: https://mail.google.com/mail/u/0/images/cleardot.gif

Publicado hoje, 4/11/2012 no Correio Braziliense