QUEM DECIDE O SEU TRATAMENTO? COM BASE EM QUÊ?

Um paciente foi diagnosticado com câncer. Qual o tratamento que deve ser recomendado? Parece obvio que deve ser o que mais se ajuste ao paciente, às características do câncer e às possibilidades disponíveis de tratamento.

Deveria ser, mas não é.

Os médicos, em avassaladora maioria, aconselham o tratamento que conhecem melhor, o que recomendam sempre ou quase sempre. “Aconselham”, nessas circunstâncias, é um termo que cobre um engodo. É um confronto desigual: o pobre paciente, apavorado, tomado de surpresa, ignorando o mais básico sobre a doença que pode mata-lo, se torna dependente total do “conselho” do médico, aquele Golias vestido de branco.

E qual é o conselho? Se o urólogo for um especialista em crioterapia, a quase totalidade dos conselhos é…. crioterapia; se a especialidade do médico for radiação externa, radiação externa será; se for cirurgia, cirurgia será!

O que quer dizer tudo isso? Que os médicos, como quaisquer seres humanos, tem vícios e irracionalidades, respondem a seus medos, inseguranças e desconhecimento. E que nós, pobres pacientes, não contamos, não alteramos o “conselho”.

As recomendações de grupos de especialistas são uma coisa; os conselhos reais dados clinicamente aos pacientes são outra coisa, muito diferente.

Tomemos um exemplo: pacientes idosos com câncer da próstata não agressivo, Gleason e PSA baixos, PSADT alto (tumores classificados nos estágios T1 a T2, Gleason de 6 ou menos e PSA menor do que 10), cuja expectativa de vida é menor do que dez anos, devido à idade avançada e/ou outros problemas sérios de saúde, não deveriam ser submetidos a tratamentos invasivos, custosos, repletos de efeitos colaterais. As recomendações institucionais nesses casos são para o acompanhamento cuidadoso. Porém, se o médico for um cirurgião, a probabilidade mais alta é a de que o conselho seja… o bisturi.

E assim por diante.

Nas pacientes com suspeita de câncer da mama, os determinantes da recomendação de uma biopsia invasiva e extrativa são: ter feito a residência nos Estados Unidos, ter se formado recentemente, ser um especialista em cirurgia oncológica e se o local em que trabalha se especializa no tratamento da mama.

Essa pesquisa foi feita com mais de doze mil pacientes diagnosticados entre 2006 e 2009, por Karen Hoffman, um especialista em radioterapia oncológica no MD Anderson Cancer Center.

O caráter indefeso dos pacientes diante dos médicos “viciados em” e seus conselhos tem a ver com cidadania. Falta cidadania aos pacientes. Essas considerações pressionam para que não vejamos cidadania como idêntica ao título de eleitor. É muito mais do que voto e depende, também, do nível educacional da população e da sua capacidade de formar e integrar redes protetores. A proteção é muito maior nos países em que a população tem iniciativa e muito menor naqueles em que a população se viciou em esperar, inerme, que o estado resolva todos os seus problemas.

GLÁUCIO SOARES               IESP-UERJ

QUANTO CUSTA UMA CIRURGIA NOS ESTADOS UNIDOS?

Se você acabou de ser diagnosticado com câncer da próstata, consultou vários médicos, e decidiu que seu tratamento será a cirurgia (retropúbica etc.), o próximo passo é decidir onde. Você consulta as pesquisas e relatórios e conclui que os melhores hospitais estão nos Estados Unidos e quer saber onde ir e quanto custa. Uma pessoa racional faria uma combinação entre o custo da cirurgia e a qualidade (dos hospitais, cirurgião etc.) e buscaria informação para tomar sua decisão. Aí começa o seu problema: o custo varia de dez mil a 135 mil dólares, dependendo do hospital… Em reais – 22.192,00 a 299.592,00.

Essa foi a conclusão a que chegaram os estudiosos de cem hospitais. O próximo passo do estudo mostra algo mais interessante: não há relação entre custo e qualidade. Pacientes ingênuos (e com muita grana) decidiriam por um dos mais caros no suposto de que preço e qualidade andam juntos. Não andam.

Há avaliações sérias dos hospitais em cada área de atividade, inclusive câncer da próstata. Cotejando essas avaliações com os custos vemos que não há uma correlação significativa.

Como fizeram essa pesquisa? Chamaram cem hospitais e fizeram a mesma pergunta com, exatamente, as mesmas palavras e receberam estimativas de quanto custaria a cirurgia. Dos cem, somente três colocaram a estimativa no papel… Na média, o custo seria cerca de US$ 35 mil, ou perto de 78 mil reais. É o dobro do que Medicare, o SUS de lá, paga aos hospitais. Aí você já tem uma boa ideia da “mais valia” que tiram de um coitado sem seguro.

E…? Como escolher?

Comece com a geografia. No Sul é mais barato, no Northeast é mais caro (na média: trinta mil contra 41 mil). Contrariamente ao que poderíamos pensar, os localizados nas grandes cidades não são mais caros.

Essa equipe se dedica a estudar (e criticar) os [altos] custos da saúde nos Estados Unidos. Recentemente estudaram os custos da reposição de quadril: varia de onze mil a 136 mil dólares.

É um problema que está sendo analisado do ponto de vista da ética medica por especialistas como o Dr. Ezekiel Emanuel, professor desta disciplina na Universidade de Pennsylvania.

Obter uma estimativa de custo não é fácil: tiveram que falar com, na média, quatro a cinco pessoas e demorou, também na média, 69 minutos. Trinta por cento dos hospitais não deram uma estimativa.

O que fazer? (Lá vem Lenin outra vez). Comece com a lista da qualidade dos hospitais por tipo de cirurgia. Há muitas e o U.S. News and World Report publica, anualmente, uma lista com as avaliações. Entre em contato e negocie. Os hospitais não são, apenas, lugares onde se trata da saúde: são empresas capitalistas também. Aprenda a negociar “com o sistema”. Um em três hospitais informou que daria um desconto se recebesse por adiantado – na média, trinta por cento. Não é pouco, mas alguns, conscientes do alto custo de receber o devido, chegaram a oitenta por cento de desconto. É importante obter a lista dos serviços incluídos na conta, porque há MUITAS coisas que alguns hospitais cobram e que não constam da estimativa, algumas absurdas, como pagar duzentos dólares por um urinol que pode ser comprado por menos de dez em qualquer farmácia.

Espero que ajude alguém.

 

GLÁUCIO SOARES