Obama e as mudanças étnicas e religiosas

A reeleição de Barack Obama está saindo da mídia e entrando no esquecimento. Não obstante, a análise dos resultados permite ver algo talvez mais importante: os Estados Unidos estão mudando muito. Por trás da mesmice eleitoral há profundas mudanças sócio demográficas e nos valores da sociedade americana.   

Pesquisas de survey demonstram que Barack Obama se reelegeu graças às preferências de dois grupos religiosos: os que, sendo religiosos ou não, não estão afiliados a nenhuma denominação religiosa e os cristãos que, etnicamente, pertencem a minorias: negros e hispânicos. Um de cada quatro eleitores de Obama não tinha uma denominação religiosa à qual estivesse filiado. Essa foi a segunda maior fonte de votos de Obama.
E qual foi a primeira?
Os cristãos que eram negros, hispânicos, ou americanos de origem racial e étnica mista. Esse conjunto representou 31% dos votos que o Presidente recebeu, segundo o Public Religion Research Institute, instituição com ampla credibilidade, dedicada ao estudo científico das religiões.  
Obama teve muita dificuldade em obter votos dos católicos brancos, dos evangélicos e dos protestantes “de missão”. Ser cristão e branco foi uma combinação que não favoreceu Obama. Somados, os três grupos acima representaram, apenas, 35% dos votos de Obama. Repito: somados.
Com Romney, claro, foi o contrário. Esses mesmos três grupos representaram 79% dos votos que ele recebeu.
Olhando os dados de outra maneira, os sem filiação religiosa definida deram 70% dos seus votos a Obama e 26% a Romney. Entre os protestantes, a cor foi decisiva: 95% dos protestantes negros votaram por Obama, uma lavagem. Entre os católicos, ser hispânico também foi um fator decisivo: 75% dos católicos hispânicos votaram por Obama. Porém, entre os católicos brancos, Romney ganhou com 59% dos votos.
Um terceiro olhar permite ver que a composição dos eleitores de Obama foi muito diversificada, ao passo que a de Romney foi concentrada. Porém, até essa eleição, ter maioria folgada entre os cristãos brancos garantia o resultado, não importa o partido (na maioria dos casos foi o candidato republicano). Nessa eleição não foi assim e talvez não volte a ser assim.
A composição étnica e racial da população americana mudou e continua mudando. Os negros, atualmente, são perto de 42 milhões. Até 2006 não tiveram a oportunidade de votar num candidato com reais chances de vitória. Votaram, em algumas ocasiões, em candidatos a candidato. Os hispânicos também vêm crescendo e já são perto de 51 milhões. Juntos, negros e hispânicos representam 40% dos brancos.
Os brancos com uma única raça (muitos americanos declaram origem mista), são aproximadamente 230 milhões. Esse grupo étnico costumava decidir as eleições. Os demais grupos só contavam, estrategicamente, quando os brancos estavam rachados. Nas últimas décadas, negros e hispânicos cresceram absolutamente e relativamente aos brancos, sobretudo os hispânicos que já são o segundo grupo étnico do país. 
A eleição de Obama foi o acontecimento midiático do curto período eleitoral. As mudanças sociais e demográficas vieram para ficar.
Outra área que está passando por fortes mudanças é valorativa: as crenças e valores dos americanos também estão mudando. Dou exemplos:
A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo aprovada pelo voto em mais três estados americanos parece indicar que o país está mudando os seus valores. Há outras indicações de que os valores americanos estão mudando numa direção contrária à desejada pelos conservadores. Talvez mais do que a vitória de Obama, alguns estados aprovaram legislação impensável há três ou quatro décadas.
O Rev. Albert Mohler Jr., Presidente do Seminário Batista do Sul afirmou que o país está passando por um realinhamento moral. Já o evangelista Franklin Graham, filho do conhecidíssimo evangelista Billy Graham, um dos primeiros a usar a televisão como instrumento religioso, discorda. Ele acredita que o movimento conservador religioso não está morrendo, mas que muitos membros desse movimento não cumpriram com o seu dever de votar. Teriam ficado em casa,  facilitando a vitória dos progressistas, lá chamados de liberais.
Há outras indicações de que os valores americanos estão mudando numa direção contrária à desejada pelos conservadores. Uma delas é a legalização do uso médico da maconha em alguns estados. O crescimento dos sem religião definida e a secularização talvez sejam as duas mudanças analiticamente mais importantes.  
O país está mudando.

GLÁUCIO SOARES           IESP-UERJ

Obama e os católicos

O apoio à candidatura de Obama tem crescido entre os eleitores católicos nos Estados Unidos. Há surveys que acompanham o apoio dado pelos candidatos aos diferentes candidatos, em diferentes níveis.

No dia 17 de junho houve um desses surveys e o resultado era, praticamente, um empate (49 a 47 para Obama, dentro da margem de erro).

Mas em três meses, Romney deu muitas mancadas e a diferença agora é bem maior, 54 a 39%. Como os mais pobres, que votam menos, favorecem Obama do que católicos ricos, e os pobres votam menos, entre os americanos registrados para votar a diferença é um pouco menor, Obama está nove pontos na frente, 51% a 42%. Quem levou a pesquisa a cabo, a Pew, está acima de qualquer suspeita.

Entre os católicos brancos, há um empate; entre os católicos de minorias, a cor da pele e a etnia pesam e Obama ganha com certa facilidade.  

A hierarquia católica não apoia Obama. Os bispos se reuniram há dois meses para protestar contra uma decisão de Obama de exigir que até as instituições religiosas, como hospitais e universidades, dessem camisinhas e outros contraceptivos aos seus empregados se eles ou elas o pedissem.

Não obstante, as questões religiosas não são, até o momento, as questões que decidem o voto. As questões econômicas pesam mais.

Romney elegeu um católico muito conservador, Ryan, para a Vice-presidência, mas parece ter exagerado a mão. Atraiu alguns extremistas, mas arrepiou a maioria dos católicos. É preciso não esquecer que o Vice de Obama, Joe Biden, também é católico.  

 

Gláucio Soares                   IESP/UERJ