O RISCO DE NAO ESTAR CURADO DIMINUI SEMPRE MAS NUNCA CHEGA A ZERO

Em muitos cânceres, o consenso é que, após cinco anos sem sintomas nem qualquer indicador, inclusive nos exames, o paciente é considerado curado. Infelizmente, não é o caso do câncer da próstata.

A pesquisa foi realizada em Viena e incluiu quase seis mil pacientes que foram tratados com a prostatectomia radical entre 1985 e 2010. Desses, 728 foram acompanhados por mais de dez anos.

Aos 10 e 15 anos após a prostatectomia, 61% e 52% não tinham tido o fracasso bioquímico, a ”volta” do PSA. Isso significa que 9% receberam a desagradável notícia de que não estavam curados depois de dez anos de exames que resultaram em PSA’s não detectáveis. Esse grupo representava, aproximadamente, a mesma percentagem em cada grupo de risco – baixo, intermediário ou alto – contrariando a hipótese intuitiva de que eram ”restos” de cânceres pouco agressivos que, dado o longo tempo transcorrido, apareceram nos exames de PSA.

Em síntese, como bem disse meu urológo há 16 anos, o tempo transcorrido reduz o risco que nunca atinge zero.

GLÁUCIO SOARES

Afinal, quanto tempo de vida você tem?

Uma pesquisa levantou a esperança de vida dos pacientes de câncer da próstata. Ela varia com o tratamento e com o tempo.

A prostatectomia (cirurgia) e a radiação são os dois tratamentos iniciais mais comuns. Raramente se opera o paciente quando há evidência de metástase: retirar a próstata não tem como curar um câncer que já espalhou, que já está em outros lugares. Mas não é fácil saber onde está o câncer, se já se metastizou ou não. Na dúvida, usam cirurgia. Muitas vezes combinam o cirurgia e a radiação.

O primeiro grande marcador negativo, de que a coisa não está bem, é a “volta do PSA”, quando o PSA reaparece no sangue. Isso significa que há células cancerosas vivas. O câncer não foi curado e, agora, é incurável. O que não quer dizer que o paciente morrerá dele: a maioria não morre deste câncer mesmo depois do fracasso bioquímico (a volta do PSA). Depende de quê? De várias coisas, entre as quais o tempo e o tipo de tratamento – isso entre as que sofreram a volta do PSA. As outras estão livres, curadas. Quando morrerem não será de câncer da próstata. Uma pesquisa com mais de 600 veteranos de guerra mostra quais as probabilidades, quais os riscos.

A volta do PSA – o temido fracasso bioquímico – ocorreu em 34% a 48% dos pacientes, dependendo do tempo e do tratamento. Uma percentagem maior dos submetidos a radiação (onde havia mais casos avançados) teve o desprazer de lidar com a volta do PSA no sangue.

A tabela abaixo mostra os vários riscos por tempo e por tipo de tratamento:

Fracasso bioquímico e morte devida ao câncer da próstata aos 5-, 10- e 15- anos depois do tratamento inicial.

Tempo

% acumulada em que o PSA voltou depois da cirurgia

Mortalidade por câncer depois da volta do PSA entre os que fizeram cirurgia

% acumulada em que o PSA voltou depois da radiação

Mortalidade por câncer depois da volta do PSA entre os que fizeram radiação

5 anos

34%

3%

35%

11%

10 anos

37%

11%

46%

20%

15anos

37%

21%

48%

42%

Dados tirados dos Archives of Internal Medicine.

O que esses dados nos dizem? Que 5 anos depois da cirurgia, 34% dos operados sofrem o fracasso bioquímico, a volta do PSA nos exames de sangue. Cinco anos depois (dez depois da cirurgia) a percentagem sobe um pouco, para 37%. E parece que não aumenta a partir daí. Olhando a terceira coluna vemos os dados relativos aos que fizeram radiação. São mais altos, ainda que não muito mais altos. Aos cinco anos, 35% (praticamente o mesmo que a cirurgia) sofrem o fracasso bioquímico; dez anos depois da radiação, a percentagem aumenta significativamente, para 46% e quinze anos depois parece estabilizar, com 48%, quase a metade.

Não obstante, nem todos os que enfrentam o fracasso bioquímico morrem do câncer. Em verdade, a maioria morre de outra coisa. Comparem a segunda e a quarta colunas. Cinco anos depois da volta do PSA, somente 3% dos que fizeram cirurgia morreram do câncer. Mais cinco anos e a percentagem aumenta para 11%. Mais cinco anos e a percentagem dobra para 21%. Ou seja, quinze anos depois da volta do PSA entre os que fizeram cirurgia, um em cada cinco morreu do câncer.

Tudo indica que essa percentagem continua crescendo depois dos 15 anos, mas as mortes por outras causas também passam a crescer mais rapidamente em função da idade. Lembrem-se de que falamos de 15 anos depois da volta do PSA, do fracasso bioquímico, e não da cirurgia. A maioria está com 80 ou mais.

No grupo que fez radiação os dados são piores – em parte porque muitos fizeram radiação porque havia evidência de metástase e de que a cirurgia não poderia curá-los. As percentagens dos que morrem da doença – depois da volta do PSA – parece dobrar cada cinco anos: 11%, 20% e 42%.

As pesquisas têm se concentrado nesse grupo mais doente, com doença mais avançada. E terapia hormonal, usualmente seguida de quimio e, mais recentemente, da caríssima vacina Provenge e, em final de desenvolvimento, da abiraterona, vão aumentando a sobrevivência específica do câncer da próstata (mas não de outras mortes): uns estimam em 14 a 18 meses o efeito da terapia hormonal (mais há casos de muitos anos em que o efeito funciona – cinco e mais anos), quatro meses de vida na mediana agregados pela quimio; outros quatro pela Provenge e um tempo mais variável, que pode chegar a mais de oito meses com a abiraterona. E haja dinheiro…

Poucos morrem aos cinco anos. A barra começa a ficar mais pesada aos dez e, principalmente, aos quinze e mais anos, depois da volta do PSA.

Fonte: Uchio EM, Aslan M, Wells CK, Calderone J, John Concato. “Impact of Biochemical Recurrence in Prostate Cancer Among US Veterans.” Archives of Internal Medicine. 2010;170:1390-1395.

Resumo por Gláucio Soares de fontes publicadas na internet.


Bons resultados da prostatectomia cinco anos depois

Um trabalho apresentado no congresso da American Urological Association (AUA) dá novo alento aos que fizeram prostatectomia. As técnicas evoluíram muito nos últimos quinze ou vinte anos, com claros resultados. O seu problema, meu leitor, consiste em saber se o seu cirurgião e o seu hospital acompanharam essa evolução ou se ainda usam técnicas e recursos ultrapassados. Se ele não lê Inglês, não acompanha a evolução da profissão pela internet e não vai a conferências internacionais, na minha opinião, está na hora de trocar. Talvez você tenha que viajar, provavelmente custará mais, mas o que este em jogo é a sua vida, a sua continência e a sua potência.

Elie Antebi, da University of Miami Miller School of Medicine, informou que 60% dos operados não apresentavam indicadores de que não estavam curados cinco anos depois da cirurgia.

Pesquisaram 831 pacientes: depois de 5 anos, 61% não tinham indicações de que o câncer havia voltado, não tinham incontinência e não tinham impotência.

A equipe definiu a volta do cancer, a demonstração de que não estava curado, à volta do PSA a um nível <=0.2 ng/mL. Incontinentes eram todos os que necessitavam de toalhinhas ou cuecas especiais e impotentes os que não conseguiam fazer sexo com ou sem remédios.

Na média os pacientes tinham quase sessenta anos, 68% tinham um escore Gleason igual ou menor do que seis, um em quatro tinha um escore de sete e 6% um escore igual ou maior do que oito. Não eram pacientes avançados, no seu conjunto: 85% tinham um estágio clínico igual ou melhor do que T2a. Pouco mais da metade eram de baixo risco. Na cirurgia, o nível médio do PSA era de 6,9 ng/mL.

A técnica mais avançada se verifica na percentagem que usou algum tipo de preservação de nervos (para manter a potência): 64%.

Cinco anos depois a resposta dos pacientes estava associada ao seu risco: 65% dos de baixo risco continuavam sem sintomas, sem incontinência e sem impotência; 57% dos com risco intermediário estavam nessa situação favorável e metade dos pacientes com alto risco também estavam bem. O risco fazia uma diferença, mas não era uma diferença muito grande, e metade dos de alto risco estavam bem em todos os sentidos. As características associadas aos melhores resultados eram: menor idade, usar técnicas avançadas de preservação dos nervos, ter um baixo peso da próstata, um escore Gleason favorável e estar num estágio patológico menos perigoso.